Capítulo XXVI

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A quarta-feira chegou logo e com ela um gosto de ressentimentos. Karen levantou e se arrumou para ir ao laboratório fazer a coleta para o DNA. Saiu de casa bem antes da hora. Iria de ônibus, não podia nessa altura, gastar desnecessariamente, com táxi. Mandou uma mensagem para Daniel ao chegar lá.
"Já estou aqui, como combinado, em alguns dias terá a certeza de que esse filho é seu. Não virei buscar o resultado porque já sei qual é. Por favor, depois que abrir o envelope me procure preciso muito falar contigo. Quero conversar e te peço que me ouça."
Recebeu a resposta rapidamente:
"Buscarei o envelope e independente do resultado, não tenho intenção que você me explique qualquer coisa. Se for o pai, assumirei minhas responsabilidades. Isso é o que terá da minha parte. Não pretendo procurá-la, a não ser que seja para tratar assuntos referentes a criança."
Karen sorriu ironicamente, ao ler a mensagem.
Estava em pedaços, mas já estivera assim antes e havia superado. Estraçalhada, fez o procedimento, que na verdade era muito simples, coleta de líquido amniótico.
Quando deixou o laboratório, resolveu parar numa praça, onde haviam crianças brincando. Ficou sentada ,sem ânimo, pensando na vida e o quanto tudo tinha mudado. Quando achou que havia superado a morte de seus pais e seus irmãos, eis que a vida lhe passou uma rasteira novamente. Sorriu tristemente, perdeu o amor da sua vida, ganhou um outro tipo de amor. Um amor que seria só dela. Lembrou de Sônia e da conversa que tiveram na hora do almoço há dias. Sempre existe uma chance de superar as adversidades.
Ligou para Mari.
_Oi, já fiz a coleta, estou indo para casa.
_E como você está, Karen?
_Mal, mas já passei por coisas piores... Se tiver um tempo passa lá, em casa, para a gente conversar mais tarde.
_Passo, sim. Fica bem. Agora, você precisa pensar nessa criança, Karen! Se começar a ficar deprimida pode fazer mal para ela.
_Eu sei disso. Até depois, beijo.
Saiu dali, como se carregasse todo o peso do mundo nas costas. A ausência e a frieza com que Daniel a tratava, abalava seu emocional a cada palavra dita por ele. Como pode alguém dizer que ama, se não quer, ao menos conversar! - pensou. Queria poder explicar tanta coisa a ele, mas não podia.
Olhou no relógio, eram duas horas da tarde e ainda não havia comida nada. Comprou um lanche na rua e enquanto comia, decidiu que iria tentar falar com ele mais uma vez. Foi até ao escritório. Ela precisava que ele a ouvisse. Esta era sua última cartada. Não poderia perder assim, Daniel.
Entrou no prédio e se dirigiu ao décimo segundo andar. Avistou a placa indicando o nome da empresa e entrou. Uma moça alta, muito bonita a recebeu.
_ Posso ajudá-la em alguma coisa?
_ Boa tarde! Gostaria de saber se Daniel se encontra?
_Sim, você tem hora marcada com ele? Posso saber do que se trata?
_ Eu sou a Karen. Você já deve ter ouvido falar de mim...
_ Ah, sim, claro. Muito prazer, Karen. Eu sou a Fernanda, secretária de Daniel.
_ Prazer é meu. Já ouvi falar muito de você, claro, sempre de bem.
Ela sorriu encantadoramente e Karen sentiu uma ponta de ciúmes.
Será que Daniel nunca teve nada com ela? Olhou sua mão esquerda e nela havia uma aliança. Ficou um pouco mais aliviada, era casada.
_ E como vai o bebê?
_ Vai bem, obrigada. Estou já no quinto mês. Você tem filhos, Fernanda? - perguntou.
_ Não, mas pretendemos planejar um para o ano que vem, se tudo correr bem. Vou avisar Daniel que você está aqui.
_Não! Ele esta sozinho?
_Sim.
_ Então vou fazer uma surpresa .- disse Karen evitando que Daniel desse alguma desculpa para não lhe receber.
_Tudo bem. É aquela porta ali.
As pernas dela tremiam ao se dirigir até a porta indicada por Fernanda. Torceu a fechadura e abriu devagar. Avistou Daniel sentado, atrás de sua mesa, virado para uma janela enorme de vidro. Karen caminhou até lá e ficou o observando por alguns segundos, tomando coragem para falar.
Como se sentisse sua presença ali, ele virou a cadeira rapidamente.
_ Oi. - cumprimentou ela num tom de voz baixo.
_ Posso saber o que faz aqui? - perguntou friamente.
Seus olhos demonstravam desprezo.
_ Quero conversar com você, Daniel. Eu preciso que me ouça, por favor!
_ Já te falei que não tenho nada para tratar contigo. Por favor, sai daqui!
_ Daniel... eu não fiz nada de errado...
_ Cala a boca!! - gritou ele. _ Quer que eu acredite que passou uma tarde inteira com Pedro, no meu apartamento, e não aconteceu nada? Ficou com ele assim como fiquei com você aquela noite! Eu te respeitei, eu te amei...
_ Amou, Daniel? Não ama mais?
_ Não! Tenho nojo de você! Raiva é só o que consigo sentir. Vá embora, antes que eu perca a paciência e te expulse daqui! Sai!! - falou ele com raiva.
Karen já não segurava mais as lágrimas.
_ Ok. - disse ela derrotada. Não vou mais te procurar...foi um grande erro eu ter vindo aqui.
_ Foi mesmo! - disse levantando, pegando seu braço, a levando até a porta.
_ Fernanda!- chamou ele. _ Acompanhe a Karen até o elevador e por favor, sempre que ela ligar para cá ou me procurar eu não estarei disponível, entendeu?
_ Desculpa, Daniel! - falou Fernanda, olhando sem entender nada.
_ Tudo bem, esqueci de te avisar. Não quero ver mais esta mulher aqui!
Karen nunca tinha sido tão humilhada em toda sua vida. Saiu a passos largos em direção a porta esbarrando numa pessoa. Olhou e não acreditou, Stella sorria para ela ironicamente.
_ Olá, querida, que surpresa! Veio atrás de Daniel?
Karen nem respondeu, saindo em direção ao elevador.
_ Eu te avisei, meu bem... - disse Stella dando uma risada baixa.

SEGUNDA INTENÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora