Capítulo XXXV

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A história que Sônia tinha lhe contado teimava em assombrar a sua tarde no escritório.Talvez as coisas fizessem um pouco de sentido e precisava saber a verdade. Mais tarde, tentaria falar com Karen. Poderia também ter uma conversa de homem pra homem com Pedro, era uma possibilidade que não descartava ou ainda tentar com que Mari falasse alguma coisa.
Tudo era muito confuso pra ele e o fato de desconfiar que sua mãe estivesse envolvida não o agradava em nada.
Pediu a Fernanda um café. Não conseguia manter o foco no trabalho. Suspirou, atirando a caneta em cima da mesa .
Pegou o celular e clicou no número de Karen. Eram quatro horas da tarde. Ela atendeu.
_ Daniel?
_ Oi, como vai? Desculpa, como vocês duas estão?- disse ele.
_ A sua filha está bem, já eu, isso não interessa a você. - respondeu rispidamente.
_ Preciso conversar com você hoje ainda...
Karen o interrompeu.
_ E você acha que é só me ligar e eu estarei a sua disposição? Hoje não  posso, tenho compromisso. E à noite trabalho, esqueceu desse detalhe?
_ Claro que sei que trabalha à noite, aliás por mim não trabalharia, já te disse isso.
_ Acho que já conversamos sobre esse assunto outro dia...Se bem que deve ter esquecido, porque não ligou mais, quero dizer, não que isso seja importante para mim, mas dá a entender que não tem muito interesse em saber se está  tudo bem com sua filha.
_ Karen, estive muito ocupado... - mentiu. Não queria que ela soubesse que a estava evitando por medo de não resistir a ela.
_ Ok, Daniel. Não espero muito de você mesmo...
_ Não quero discutir com você, Karen. Quero te ver ainda hoje. É  importante!
_ Estou saindo agora, vou encontrar uma pessoa. Se quiser pode me pegar à noite, aqui no restaurante; poderemos conversar, já que é importante.
_ Pode ser. Te espero aí, em frente, na hora que estiver saindo.
_ Tudo bem, preciso desligar. Estou atrasada.Tchau!
_ Tchau, Karen.
Fernanda entrou com o café em uma das mãos e na outra um envelope amarelo. Depositou  a xícara na mesa de Daniel e entregou o envelope a ele, que franziu a testa com ar interrogativo.
_ Entregaram agorinha mesmo, Daniel.
Ele abriu. O conteúdo eram fotos de Karen e Pedro em vários lugares, porém nenhuma comprometedora. Em muitas, Mari também estava.
Daniel sentiu o ciúme tomar conta dele. Ela ainda encontrava com Pedro! Pareciam tão alegres!
Fernanda notou a expressão dele e perguntou:
_ Algum problema, Daniel?
Ele  suspirou, mostrando as fotos.
_ Esta é Karen, né?
_ Sim.  E este é o pivô da nossa separação, Fernanda.
_ Olha, eu posso estar errada, mas alguém  quer que você fique com raiva... Quem se importaria assim, ao ponto de se cansar em mandar fotos deles juntos? Vocês estão separados, mas com certeza tem gente que tem medo de uma reconciliação. Desculpe, Daniel, mas é o que acho.
Ele a olhou e passou a mão nos cabelos, se recostando com força na cadeira.
_ Você acha isso?
_ Acho. Olha essas fotos! Aqui não tem nada demais. Estão apenas conversando! Isso foi enviado por alguém que sabe que você ficaria transtornado com essas imagens.
_ Alguém que me conhece bem, não é?
_ Sim. Acho que não deveria se preocupar tanto com isso. Porque você não tira isso a limpo com Karen?
_ Você tem razão. Farei isso.
_ Desculpa me intrometer dessa forma na sua vida...Faz tempo que trabalho com você e sinceramente, nunca te vi tão infeliz como nesses últimos meses... Você amanhece e anoitece atrás dessa mesa! Daniel, às vezes temos que tentar enxergar além do óbvio... - disse saindo e fechando a porta.
Ele olhou mais uma vez as fotos. Realmente, elas não tinham nada demais e na maioria delas, Mari estava junto.
Guardou o envelope na gaveta de sua mesa, as mostraria para Karen à noite.

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Daniel avistou Karen na porta do restaurante. Encostou o carro e abriu a porta. Ela entrou.
_ Tudo bem, Karen? Como vai, Elise?- disse passando a mão na barriga dela fazendo um carinho.
_ Estamos bem. - respondeu um pouco nervosa com o gesto dele. 
Daniel a olhou por um instante. Sua aparência era de cansaço.
_ Parece cansada, isso sim!
_ Claro que estou cansada. Saio de manhã de casa e volto quase meia noite. E ademais essa menininha está cada dia mais pesada. - disse tentando descontrair.
Daniel sorriu e saiu com o carro.
_ Podemos ir até seu apartamento? - indagou ele.
_ Acho melhor não. Podemos conversar aqui, no carro mesmo, se não se importar.
Daniel por um momento, teve a impressão dela estar com medo de ficar sozinha com ele.
_ Está com medo de mim, Karen?
_ E porque estaria, Daniel? - perguntou ela irônica.
_ Talvez tenha medo que a beije e não tenha para onde correr...
_ Daniel, foi para isso que queria me encontrar? Você me disse que era um assunto importante!
_ E é Karen. Já que não quer ir ao seu apartamento, vamos para o meu. - disse entrando em uma via secundária que levava até seu bairro.
_ Não! -exclamou ela._ Não vou para lá!
_ Agora é tarde. Prometo que só vamos conversar. Preciso saber e te mostrar algumas coisas e aqui dentro do carro não dá.
Ele a observou com o canto dos olhos, ela não estava muito satisfeita com a decisão dele. Sua expressão era de quem estava assustada.
_ Já disse que não precisa ter medo de mim, Karen.
Ela não respondeu e virou o rosto olhando pela janela do carro. Segurava a bolsa contra o corpo, num nítido gesto de proteção. Daniel esboçou um sorriso. Era óbvio que ele ainda mexia com seus sentimentos. Sentiu-se satisfeito com isso.
Entraram no elevador. Karen olhava para o chão. Ambos tinham algumas lembranças daquele lugar. Não demorou muito para que descessem no décimo quinto andar.
Daniel enfiou as chaves na porta e abriu dando passagem a ela.
O apartamento estava novamente, habitável. Sônia tinha feito um bom trabalho.
Karen parou no meio da sala e ele perguntou para quebrar o clima:
_ Quer comer ou beber alguma coisa? Sônia fez bolo de chocolate e eu sei que você gosta.
_ Sônia voltou a trabalhar com você?
_  Não. Ela veio hoje, dar uma ajeitada nas coisas aqui. Eu pedi.
_  Faz algumas semanas que não falo com ela. Ela foi me visitar dia desses.
_  Eu sei. Ela me contou. - disse ele se dirigindo a cozinha.
Karen o seguiu.  Ele cortou um pedaço de bolo e alcançou o prato a ela.
_ Só de olhar, já estou salivando. Ninguém faz bolo de chocolate melhor do que Sônia.
_ Nisso sou obrigado a concordar com você. Ela sempre fazia esse bolo quando eu era menino e alguma coisa ruim acontecia comigo. Era uma espécie de consolação.
_ Sônia é uma pessoa muito legal. Me contou uma parte da sua vida. Tem orgulho do filho estar estudando no exterior.
_ É. Ele foi muito bem criado por ela. Eu tinha ciúmes dele quando éramos pequenos. Na minha cabeça ela tinha que gostar só de mim. - ele riu da lembrança.
_ Ela me contou que até febre você tinha quando ela tirava  férias.
Eles voltaram para sala e Karen sentou no sofá, ajeitando uma almofada nas costas.
_ Sim. Tinha medo que ela nunca mais voltasse.
Daniel sentou-se ao seu lado. Puxou o envelope da pasta de documentos  e entregou a ela.
Karen o olhou surpresa.
_ O que é isso, Daniel?
_  Recebi hoje no escritório da empresa.
_ Seja lá o que for, não vou ficar aqui para você me ofender de novo ! - disse levantando e atirando o envelope no sofá. __ É igual aquele outro!
_ Calma!  Não te trouxe aqui pra te ofender ou coisa parecida. Aqui, tem fotos suas e o que eu quero é saber mais sobre isso.  Quero que me conte tudo sobre quem você acha que está mandando essas fotos.
Ela o olhou e sentou novamente.
_ Tem certeza que quer ouvir, Daniel? Talvez você não goste de ouvir que sua mãe e Stella possam estar envolvidas nisso...
_ Quero que me conte tudo, Karen. - Daniel precisava ouvir de Karen todos os detalhes.
Ela respirou fundo. Era chegada a hora de Daniel saber quem era realmente, a sua mãe e Stella.











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SEGUNDA INTENÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora