Ramos abre a porta para mim ao ver a cara feia que fiz. Afinal é serviço dele abrir a porta do carro para mim e não de uma mal-educada. Acomodo minha filha na cadeirinha, coloco o cinto a sua volta. Ela virá o rostinho para Irina que sorri para ela. O sorriso mais falso que já vi. Ou como meu papá diz o sorriso mais esforçado que já viu. Pelo menos ela tem tentando se aproximar da minha bambola. Fecho a porta do carro e me volto para a baixinha debochada. E bem encrencada.
O olhar dele é mais frio que a própria neve. E mesmo assim esse homem dos infernos é lindo. Tomo coragem, limpo a garganta e....
____. Eu vou indo e você cuide melhor da sua filha. ____ passo a ponta do pé esquerdo no chão de modo acanhado. ____. Vou poder visitar a pequena? ____ pergunto sem medo dele, mais com medo da resposta. Já vi que ele é sangue quente e eu tão passiva, quer dizer mais ou menos. Sou calma até que não pisem no meu calo.
____. Acha que sou algum stronzo? Como fez questão de me chama. Acha que pivetes imigrantes como você são pálio para mim? Quer ir na minha casa para que? Roubar? Ou será que é uma maldita repórter disfarçada? ____ ela abre a boca para fala, eu levando a mão em sinal de alerta. ____. Eu não acabei de falar. Quero ver o que tem nessa mochila, sua marginal.
____. Primeiro eu não sou pivete. E o senhor é sim um puto stronzo. E provavelmente não sabe o que é amor. ____ ele ri de forma maléfica e cola o corpo dele no meu. Não acredito que depois do que passei vou saliva por um idiota gostoso. Mais ainda assim idiota.
____. Vou ver o conteúdo dessa mochila por bem ou por mal.
A Maldita é linda. Forço o meu corpo contra seu pequeno e esculpido corpo. E que corpo perfeito ela tem, poderia me perder nessas curvas. Ela saliva me olhando. Me afasto rápido. Me nego a desejar assim uma mulher. Não mesmo...
____. Tenho outra alternativa? ____ pergunto esbugalhando os olhos ao lembrar que dentro da mochila tem uma calcinha menor que o dedo mindinho dele, e na cor vermelha. Desgraça.
____. Não.
Ele fala ríspido. ____ Toma seu stronzo. ____ entrego a mochila a ele. ____. Ah desgraça. ____ reclamo sozinha.
____. Imigrantes sempre tão mal-educados.
____. Falo o rei da educação. Maltrata uma mulher indefesa, não sabe cuidar da filha. E se não bastasse, traz seu bicho estranho de estimação para passear. Nem um E T ia ter coragem de andar com aquilo do lado. Aliás na certa os E T S expulsaram aquilo do planeta deles. Seja o que for aquilo lá no seu carro. ____ ele me olha feio e eu me calo.
____. Irina é minha namorada.
Ele fala bravo. Eu esbugalho os olhos e caio na gargalhada, depois me calo em sina de respeito. ____. É sério? O senhor pega aquilo?
____. Aquilo como se refere tem nome.
____. É o nome combina.
____. Acho que vou me arrepender, mais combina com o que?
____. Um cobra meia acabada, com um puldo na cabeça e pior vestida como uma perua sem senso de bom gosto. Um bicho estranho.
____. Qual é a parte que não ouviu, que ela é minha namorada.
____ Bom uns gostam da cobertura ou recheio, até mesmo daquela casquinha deliciosa que fica embaixo dos bolos. Mais tem uns como você que gostam cobra com peruca. Fazer o que? Cada um tem o que procura. Mais admiro o senhor, seu stronzo.
____. Primeiro mantenha essa boquinha fechada. Segundo me admira porque.
____. Por que é homem de coragem.
____. Isso eu sei. E como uma mal educada como você pode saber?
____. Dorme com o rabisco da feira. Quer coragem maior que ver aquilo sem nada? Viu homem de coragem. Tá aí.
____. Cala a boca.
O bastardo me olha de cima para baixo e se volta para a minha mochila. Miserável fez cara de pouco caso. Aí pela santa das ferradas. Por Belial. Por tdo, ele me olha com a minha calcinha na mão e segura firme. ____. Larga isso. ____ sinto que fiquei corada.
Olho ela e fico duro imaginando a criatura vestindo tal coisa minúscula. ____. Essa coisinha aqui é sua?
____. Não, eu roubei da vovozinha, enquanto vinha pra cá. ____ agora ele me deu medo só pelo olhar gélido que laçou para o meu lado, pior foi para mim.
____. Gosta do seu pescoço?
____ recua um passo____. Acho que sim. É gosto. Seria bom mantê-lo no lugar.
Atrevida mais linda e língua solta. Caralho se fosse outra já estaria morta no lugar dela. Continuo a vasculhar a mochila, vejo umas peças velhas de roupas e o pedacinho intima o qual coloquei no bolço sem ela ver. Fred meu primo que está no meio dos seguranças vê e espreme um sorriso. Olho melhor a michila e agora quero matar ela.
____. Que merda é essa?
____. Meu canivete. ____ ele segura firme suas mãos em meu pescoço. Kalita corre na minha direção.
____. Conte a ele, amiga. Aff só o que me faltava mais um covarde. Essa Itália é do diabo.
____. Não imagina como menina.
____. Pode apostar, que nós duas imaginamos sim. Vai amiga conta logo, nós temos mais o que fazer do que perde tempo com mafioso.
Ela implora me olhando aflita e não repara no rapaz lindo atrás dela, a olha sem pudor algum. Eu finjo não ver. E me ponho a explica.
____. Olha aqui, meu senhor. Não é todos que tem um teto para dormir. E quando tem é um teto, certamente é aonde poderá ser espancada a qualquer momento. Não bastasse isso, as ruas são perigosas. Sabia? Tem cada covarde que vou te conta. ____ ele me larga e depois jogou meu skate no meio da rua. Choro falando aos soluços.
____. Seu covarde, era a única coisa que eu tinha. Você não presta. Me chamou de pivete e se quer perguntou o por que estava com a sua filha nos braços. Tenho cara de quem rouba crianças? Quero distância de pessoas como você. Maldita a hora que me arrancaram do meu país. Isso aqui é só sofrimento. Te odeio seu stronzo. Odeio covardes como você.
____. Acredite, lágrimas nunca me comoveram.
____. Acredito sim. Vi sua filha chorar e o senhor cavalheiro se quer perguntou a ela o motivo. ____ que raiva...troglodita das trevas mais lindo desse mundo me olha e apesar do medo que ele deveria causar em mim e da raiva que estou dele, fico louca por ele. Devo ser doente da cabeça.
____. Some daqui ou morre aqui mesmo.
Respiro fundo e olho minha amiga. ____. Vamos amiga.
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LUCA PASINI O Recomeço (Degustação)
Roman d'amourEm meio ao abandono da esposa, e sozinho para cuidar da sua pequena bambina Clara. Luca se vê se prestes a cumprir a palavra dada ao seu papá. Uma palavra que lamenta ter dado. Uma palavra mal pensada e que poderá destruir o que sobrou da sua vida. ...