EPISÓDIO I - Folhas de Outono

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O Colégio Magna era conhecido por diversas coisas: por ser uma das melhores escolas da região belohorizontina; por ser um dos poucos colégios de ensino médio com uma lista de espera muito maior do que a lista de alunos; por ter sido construído no meio de uma floresta e possibilitar excelentes fotos para adolescentes querendo virar influencer no Instagram; por ser uma das poucas escolas de ensino médio em que ninguém precisava usar uniforme e, infelizmente para os educadores que queriam a fama por outros motivos, principalmente por terem entre seus alunos o maior fenômeno nacional jamais conhecido das terras tupiniquins.

Mas não só por isso – o colégio Magna também era conhecido por lançar ao cenário artístico diversos nomes de talento, muito porque a escola fosse a única – ou a única que restava nesse clima capitalista – a apoiar a arte em geral. Por isso, todo adolescente que quisesse a possibilidade de uma carreira artística, seja ela dos palcos até atrás de uma folha de papel, tinha que estudar no Magna. Não só por causa dos professores com mestrado e doutorado que ministravam lá, mas, principalmente, pelos contatos que esses professores doutores tinham do lado de fora.

Assim sendo, não era nenhuma surpresa que, no último ano do ensino médio, Analua estivesse atravessando a entrada vitoriana da escola com a maior coragem e um sorriso enorme no rosto, pronta para abocanhar a última parte de seu sonho. Afinal, depois de pleitear uma vaga por quatro anos, ela tinha que ser completamente idiota por não ficar feliz com a conquista. E se tinha uma coisa que Analua se orgulhava era de não ser era idiota – não completamente, pelo menos.

Empolgada demais com a oportunidade única de entrar depois do início do ano letivo, a garota mal conseguiu dormir, o que a forçou passar mais horas do que deveria em frente ao espelho, pela manhã, tentando esconder suas olheiras. Sua preocupação com a imagem, embora fosse um pouco fútil pensada friamente, era muito importante para os padrões magnos do lugar para onde iria. E se tinha uma coisa que Ana Luíza Canella aprendera no último ano era que aparência podia não ser tudo, mas para quem lidava com a imagem era uma parte bem importante da vida.

Por isso, tudo bem ela não ter tomado café da manhã. Ninguém precisava saber. E se seu estômago parasse de roncar ninguém perceberia, mesmo.

— Ei – ela disse, quando viu um grupo de amigos com cabelos descoloridos jogados na grama bem cuidada da entrada. – Vocês poderiam me dizer onde fica a sala do diretor? – todos os sete adolescentes franziram a testa para ela, mas Analua não ia deixar olhares destruírem sua autoconfiança, por isso continuou: – Ou onde posso achá-lo.

— Há quanto tempo não temos uma aluna nova? – o garoto perguntou, com um olhar meio perdido de quem parecia não ter acordado direito ainda, embora já estivesse tragando um cigarro de fumaça bem fedida.

Houve um silêncio momentâneo no grupo, não só de murmúrios, mas de movimentos, que quase fez a autoconfiança de Analua ir embora de vez – o que não acontecia com frequência, a garota precisava admitir.

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