Nunca consegui dormir bem em outra casa que não fosse a minha.
Qualquer noite em uma festa do pijama era sinônimo de madrugada em claro ou noite mal dormida. Qualquer viagem para um fim de semana na praia era arruinada porque eu parecia uma coruja virando a noite acordada, e pela manhã estava exausta.
Não achei, porém, que isso fosse acontecer na primeira noite em minha nova casa.
Rolei de um lado para o outro durante toda a noite, evitando olhar as horas no celular ou me distrair com o feed do Instagram. Nem ousei tentar fazer Isabelle acordar. É impossível acordá-la em outras circunstâncias que não uma emergência nível 5. Então, me contentei com sono cortado e com as olheiras que eventualmente apareceriam pela manhã.
Quando o sol parou de brincar de pique-esconde e apareceu com os primeiros raios da manhã, cansei de não conseguir dormir e pulei da cama.
Uma casa pequena sempre dispõe de uma planta engraçada. Sem corredores, assim que abro a porta do quarto já estou na sala. A porta à esquerda é um quartinho minúsculo que farei de escritório, logo ao lado o banheiro, e não há divisão entre a sala e a cozinha. A casa é um quadrado dividido em quatro partes, um quintal pequeno na parte de trás e um terraço gradeado na frente
A primeira coisa que faço ao sair do quarto é café. Depois, abro as caixas ainda por organizar e procuro meu caderno de anotações. É lá onde estão todos os pequenos detalhes para meu próximo projeto.
Terminei de reescrever meu último livro há cinco meses, e demorei a conseguir me concentrar o suficiente para colocar o novo nos trilhos. Ele ainda está no início da partida, mas sei que chegará "no destino". Ou espero.
Estou na fase de planejamentos atualmente, a primeira de cinco:
1. Planejamento (pequenos detalhes aleatórios, desorganização total);
2. "Método floco de neve" (colocando a organização em dia);
3. Primeiros rascunhos (desorganizado, porém em ordem);
4. Revisão (acertar os pontos errados e corrigir furos)
5. Reescrita (loop x9 até que fique 99% satisfatório (não é possível atingir 100%)).
Embora planejar seja divertido, não consigo deixar de sentir estresse. Já passei por essa fase diversas vezes, e em várias delas o livro sequer foi para a fase 2, porque foi ofuscado por outra ideia intrometida que chegou e não quis mais ir embora. Eu insisto em manter a fase de planejamento pois é nela que minha mente está fervendo e eu consigo anotar tudo o que vem pela frente. Ainda não há nada concreto, mas com os pequenos detalhes que vêm a cada dia, consigo ir descobrindo exatamente qual a personalidade dos meus personagens e o rumo que tomarão dentro da história. É a fase mais tranquila em termos de trabalho, pois posso desenvolvê-la em qualquer pedaço de papel no meio de uma cafeteria, e tudo bem. Quando o negócio está entre as fases 3 e 5, o nível de tensão aumenta para 100. Mas não preciso me preocupar com ele agora.
A pasta de planejamento não está muito gorda, mas há alguns detalhes. Origens da personagem, plot, cenários, ideias para cenas que já pensei, mas não escrevi nada além de palavras-chave para memoriza-la.
Algumas partes do livro terão como cenário países da América Latina, em especial a Argentina, então incluí no planejamento cards de pesquisa sobre tais países.
Começo a pesquisar sobre a Argentina e selecionar tudo o que precisarei para o futuro. Há mapas, nomes de negócios locais, nomes comuns na Argentina, cultura, etc.
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Um Clichê Para Chamar de Meu
ChickLitNirvana é uma escritora independente, e de independente não há só sua carreira, mas praticamente tudo em sua vida. Vinda de uma família grande, todos dividindo o mesmo teto, Nirvana é a primeira em muitos anos a sair do ninho e criar asas para morar...