7

1.3K 148 20
                                    


Tudo o que aconteceu no meu dia após o almoço foi um completo desastre.

Na loja, logo depois que voltei da minha pausa para o almoço, tive que lidar com uma cliente exigente e ignorante. Tudo bem, já não me incomodo mais com pessoas sendo arrogantes com vendedoras por motivos desconhecidos. Eu sorrio, assinto, recuo um pouco, sempre concordo com o cliente e acabo em paz.

Nesse caso, no entanto, a cliente comeu minha paciência pouco a pouco só para, no final das contas, não realizar a compra. E o valor estava alto. Para mim, que ganho uma porcentagem em cima do valor da compra, perder tempo com uma cliente que não irá finalizar o pagamento é frustrante.

Não bastasse isso, esse foi praticamente meu único atendimento do dia pela parte da tarde, pois a chuva se intensificou com o passar das horas e afastou os potenciais clientes da loja. Passei horas entediada, em pé ao lado do balcão de atendimento, esperando à toa uma alma atravessar a porta. Até que uma apareceu, mas não era quem eu queria.

Logo hoje, no dia de pior movimentação na loja, Johanna, a dona da Dentro da Moda, resolveu aparecer. Pensei que o mau tempo poderia afastá-la, mas não; ela levou todo seu mau humor e presunção até nós.

Johanna Trindade é uma mulher incrível. Esbanja inteligência e tem uma ótima visão de negócio, além de ser esperta e saber muito bem lidar com os quatro irmãos e também sócios que querem a todo custo dominar seu negócio. Ela é independente e forte, e conseguiu fazer a Dentro da Moda crescer de uma loja na garagem de sua casa para cinco filiais na cidade, incluindo uma dentro do maior shopping de Esmeralda.

O problema é toda sua atitude arrogante com suas funcionárias. Ao invés de passar sabedoria e apoiar-nos, Johanna age do contrário, nos colocando para baixo e nos fazendo sentir inferiores e pequenas. Quando ela aparece na loja, geralmente a cada quinze dias, é um sufoco. Passamos, eu e as outras seis meninas que trabalham na filial do centro, praticamente uma hora prendendo o fôlego e esperando ansiosamente o momento em que ela nos dará as costas e sairá marchando porta afora.

Hoje, como se tivesse adivinhando como é bem quista ali, nossa chefe resolveu inspecionar todos os cantos mais aleatórios do prédio, até o terceiro andar, checou relatórios de venda, acompanhou o movimento online, despachou um pedido ela mesma e rondou por lá à espera de um cliente, que demorou a aparecer. Johanna passou quase quatro horas conosco, e eu passei quase quatro horas pensando constantemente em como poderia sumir dali sem ser notada.

"Você já começou a pensar em maneiras de pedir demissão?" perguntou Geisla, uma outra vendedora. "Porque eu, sim."

Eu ri, mas foi de desespero.

Gê é impaciente, e por vezes não suporta os comentários ignorantes de Johanna, já quase se atrevendo a responde-la na lata uma vez, sendo impedida por mim e Camille, que quase desmaiou só de pensar na ideia. Camille qualquer dia desses ganha o título de ser humano mais pacífico... pelo menos da loja. Ela ganha até de mim, e eu nunca me envolvi em uma briga. Não corporal, pelo menos.

Enfim, o dia seguiu assim: clientes arrogantes, nenhuma venda feita por mim e uma visita empolgante e demorada de Johanna. Eu só queria mesmo marchar para casa e passar três horas debaixo da água quente do chuveiro, mas, uma vez que eu confirmei minha ida, detesto desfazer compromissos tão em cima da hora. Eu poderia cancelar ontem, seria aceitável, até. Mas faltando uma hora para o encontro, não.

A chuva torrencial está em seu ponto alto, mais forte do que em qualquer outro horário. Sair debaixo desse toró é um pequeno fracasso do dia, então eu abro mão da caminhada e sugiro às meninas dividirmos um Uber. Camille, Suzana e Thaís têm caminhos parecidos com o meu, só um pouco mais longe, então aceitam. Luciana, Hadassa e Geisla dividiram outro carro para o lado oposto da cidade.

Um Clichê Para Chamar de MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora