Playlist concentração: check.
Garrafa de café cheia: check.
Internet desconectada: check.
Caderno de anotações ao lado: check.
São dez horas da noite, finalmente o domingo está terminando, e agora tenho tudo pronto para começar a fase 2 da escrita.
Esfrego as mãos uma na outra, sento-me na cadeira em frente à escrivaninha e releio, primeiro, tudo o que já escrevi sobre os personagens principais, para aquecer a parte do cérebro em que estão arquivadas todas as informações. Me ajuda a me preparar, entrar no clima desse novo mundo em que estou embarcando.
O Método Floco de Neve (ou do original Snowflake) foi criado por Randy Ingermanson, e é como uma ficha com dez etapas para criarmos e aprofundarmos nossos personagens e nossa trama. É fácil, começa com o básico e segue incrementando cada parte do livro. Como um floco de neve, que parece simples, mas no fundo é cheio de detalhes e camadas.
A primeira parte pede para escrevermos o plot inteiro da história em uma só sentença, e isso eu já tenho em mente, então é fácil de ser construído.
A segunda parte pede cinco sentenças: o primeiro, segundo, terceiro e quarto grande ato da história, e o final. Como a história começa, o que desencadeia o evento principal, como será concluído esse arco, o que acontecerá no meio, e qual o final da trama. Tudo isso deve ser descrito em sentenças de um parágrafo.
Essa parte não é tão fácil quanto a primeira, mas, sabendo como vai começar e como vai terminar meu livro, já preencho o primeiro e último ato.
Passo alguns minutos lendo tudo o que escrevi no caderno de anotações mais uma vez, pesquisando sobre as viagens da personagem, criando um roteiro maior e otimizado. Preencho o segundo ato com uma frase curta de apenas duas linhas, só para não a deixar em branco, e saio de perto do notebook.
Escrever parece glamoroso quando a gente olha de fora, mas é uma sequência de momentos em silêncio, encarando a parede e pensando no que fazer, combinado com uma montanha-russa de sensações sobre a qualidade do que foi escrito e a capacidade de dar um fim satisfatório para o que já foi feito.
Nesse momento estou passando por uma sequência não muito feliz de me perguntar o que está acontecendo, porque um branco invadiu minha cabeça e eu não consigo articular as partes 3 e 4 do livro – que eu pensei já ter imaginado, mas não há nada anotado sobre isso, ou na minha lembrança.
Olho para o relógio na parede à minha frente e percebo já ter passado duas horas em frente à tela do Word. Fecho o notebook, finalizo minha xícara de café e parto para a cama.
Quando cheguei em casa estava radiante, morrendo de vontade de escrever, e de repente travei.
Pode ser só o cansaço do dia, então fecho meus olhos e não penso mais sobre isso. Não é nada que eu não possa resolver na luz do dia amanhã.
*~*~*
Ok, estou começando a sentir a mudança que é morar sozinha versus morar com toda a família.
Há pontos positivos e pontos negativos, como eu costumo pensar sobre tudo na vida, e não seria diferente com isso, mas os pontos positivos que eu mais almejei enquanto me preparava para a mudança não estão acontecendo.
Acabei de passar minha primeira semana totalmente independente, cozinhando para mim, única e exclusivamente, tendo que lidar com poeira no chão surgindo do nada, comida estragada porque eu esqueci de guardar na geladeira (pior sensação de fracasso); tive que lidar com a bagunça que uma só pessoa é capaz de fazer numa casa, e eu percebi que é muita. Tive que lidar com muitas coisas, e ainda me ver sozinha no final de tudo, cansada e sem um pingo de energia sobrando no corpo para escrever. Ou qualquer outra atividade.
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Um Clichê Para Chamar de Meu
ChickLitNirvana é uma escritora independente, e de independente não há só sua carreira, mas praticamente tudo em sua vida. Vinda de uma família grande, todos dividindo o mesmo teto, Nirvana é a primeira em muitos anos a sair do ninho e criar asas para morar...