Capítulo 2

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1.

São Paulo. Capital. Bairro República. Praça Ramos de Azevedo. Pessoas. Teatro. Fachada. Portas abertas. Pessoas em pé. Saguão. Mais pessoas. Outra porta. Pessoas entrando. A grande sala. Pessoas se acomodando. Luzes acesas. Pé direito alto. Poltronas vermelhas. Mais e mais pessoas sentadas. Corredores. Fosso da Orquestra. Ribalta. Proscênio. Cortina Vermelha. Terceira chamada. Escuridão. Uma voz.

"Senhoras e Senhores. O Teatro Somnium tem o prazer de apresentar o convidado dessa noite, Fábio Sanchez Linderoff!" – O apresentador anunciou pelos altos falantes.

Uma saraivada de palmas irromperam ao passo que a escuridão do palco foi quebrada por um singelo facho de luz que iluminou o pedestal com um microfone shure sh-55 série vintage similar aos que o Elvis usava e anos depois copiado por James Hetfield.

A luz me cegava. Eu não conseguia ver nada além do microfone conforme eu me aproximava da plateia.

— O...o...olá. — Falei depois da microfonia ser controlada. Forçava o olhar e tentava dar um sorriso apesar de todo o nervosismo — Eu...eu...não sei ao certo o que eu deveria falar.

Embora não conseguisse ver ninguém, eu podia ouvir o murmúrio vindo da escuridão a frente. Minha vontade era sumir atrás da cortina vermelha que fora fechada antes de eu entrar em cena. E logo após o que eu disse pude ouvir uma avalanche de gargalhadas em uníssono como se eu tivesse dito uma piada, ou melhor, como se eu fosse a piada.

— Fale pra gente a sua frase clássica! Que você é um "cueca, porra!" — Ouvi uma voz masculina dizer na plateia.

— Cante alguma música! — Uma mulher falou.

— Dance um pouco pra gente! — Uma outra voz pediu.

"Comece pelo começo, Fabio! Fale um pouco sobre você" — O apresentador solicitou com sua voz alta e em bom tom saindo pelas caixas acústicas da casa.

— Bom, meu nome é Fábio Linderoff. Tenho 24 anos de idade. E eu sou gay.

Ba tum Tss! – Fez o som da bateria.

"Conte-nos como você descobriu que era gay" — O apresentador solicitou.

Descobriu?

Será que ele achava que a gente "descobre" que é gay assim como Cabral descobriu o Brasil?

"Terra a vista!"—Grita o marinheiro com a luneta na mão.

"Eu sou gay!" — Grita o timoneiro com um espelho na mão.

Babaca.

Se era um espetáculo que ele queria. Era o que teria.

— Eu descobri que era gay no dia que vim para o Brasil, ora pois. — Falei com o sotaque do Português de Portugal.

Outra avalanche de gargalhadas.

— Vou para o Brasil ganhar dinheiro! Pensei comigo. Os brasileiros são todos uns trouxas que acreditam em tudo. Eu vim com um gajo brasileiro no navio e menti para ele que eu era bicha. Pois o idiota acreditou e veio me comendo a viagem toda!

Dessa vez as gargalhadas vieram com palmas também.

— No dia que eu morrer, sabem qual a única parte do meu corpo que não irá se desfazer?

— Não! — Ouvi algumas vozes respondendo.

— Meu cu!

Gargalhadas.

— E sabem por quê?

— Por quê? — Ouvi algumas vozes perguntando.

— Porque o que é do homem, o bicho não come.

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