Momento 3

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7 anos atrás


"Just listen to the music of the traffic in the city

Linger on the sidewalk where the neon signs are pretty

How can you lose?"


Cidade de São Paulo. Noite. Prédios com janelas iluminadas. Avenida Paulista. Taxi branco. Retrovisor. Olhos.

O motorista me olhou e viu que eu não estava bem. Ele acelerou para que chegássemos logo ao meu destino e pudesse me desovar o quanto antes. Passamos o Masp, o shopping Center 3 e viramos a direita na Rua Augusta. Começamos a descê-la sentido centro.

"The lights are much brighter there

You can forget all your troubles, forget all your cares"

Sentado no banco de trás, do lado direito do carro, encostei a cabeça no vidro da janela e observava tudo que passava diante dos meus olhos.

"So go Downtown

Things 'll be great when you're, Downtown

No finer place for sure, Downtown

Everything's waiting for you

Downtown"

O taxista parou no meio fio, eu lhe dei uma nota de dinheiro e fiz um sinal de que estava tudo certo.

"Don't hang around and let your problems surround you

There are movies shows, Downtown"

Calçada. Taxi. A porta do carro se abriu. Meu pé direito vestindo uma bota de couro pisou na calçada, logo o outro veio atrás. Fechei a porta e o carro foi embora. Me virei e do outro lado da calçada vi um bar de rock chamado Hello There.

"Maybe you know some little places to go

to where they never close, Downtown"

Atravessei a Rua Augusta desviando dos carros a procura de algo no bolso .

Estava sentindo frio embora estivesse vestindo um par de botas de couro cano médio, calça jeans preta, camisa escura, jaqueta de couro, um poncho velho que mais parecia a capa de um dementador e um chapéu preto, de feltro, aba larga, com uma pluma de faisão que ganhei de um amigo que me disse que ela me traria sorte.

"Just listen to the rhythm of a gentle bossa nova

You'll be dancing with them too before the night is over

Happy again"

Cheguei em frente ao bar pintado de preto que fora construído sobre as ruínas de um casarão antigo e ainda não tinha achado o que eu procurava nos meus bolsos.

— Você é quem, jovem? – Um segurança de quase dois metros de altura me perguntou entrando na minha frente.

— Eu vou me apresentar aí. — Respondi cabisbaixo irritado com a procura. Se eu tivesse perdido ou esquecido no táxi o que deveria estar no meu bolso, não sabia se seria capaz de sobreviver até o fim da noite.

— E quem é você? —O segurança insistiu como se estivesse me vendo pela primeira vez.

Será que eu tinha esquecido mesmo? Será que tinha esquecido no táxi ou em outro lugar?

— Não vou perguntar de novo, filho. Quem é você?

Ergui a cabeça lentamente. A aba do meu chapéu revelou meu rosto aos poucos. Pelo meu olhar ele soube que eu também estava começando a ficar irritado.

100 Cuecas!Onde histórias criam vida. Descubra agora