Capítulo 28

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1.

Estados Unidos. Nova Iorque. Manhattan. Inwood. Avenida Sherman. Lavanderia Noka Pikull. Joshua. Pablo.

Joshua Fournier no auge dos seus vinte e sete anos era, no final das contas, mais inteligente do que eu imaginava. Podia ser muita empáfia de minha parte, apesar disso não acreditei que o contrato de prestação de serviço que ele negociou com a lavanderia Pika Nokull foi por conta do nosso primor em tirar manchas de tecidos e deixar toalhas de mesa xexelentas cheirando a alfazema. Para mim era evidente que ele estava tentando criar um pretexto para que pudéssemos nos ver com mais frequência. O que eu não esperava era me deparar com Pablo naquele exato momento.

Pablo e Joshua se encararam por alguns segundos. Foi perceptível a surpresa que ambos tentaram ocultar. Dissimuladamente sorriram e trocaram um bom dia respeitoso antes de um aperto de mãos. Naquele momento eu só consegui pensar que ambos já haviam namorado e conheciam as intimidades um do outro melhor do que eu.

— Tenham todos um bom dia. Estou te esperando aqui fora, Fábio. — Joshua falou enquanto guardava o contrato que acabara de firmar com o Sr. Noka no bolso.

O Sr. Noka não conseguia disfarçar o contentamento em saber que a receita de sua lavanderia ia crescer. Assim que Joshua saiu, ele olhou para Pablo e fechou a cara. Antes de voltar aos seus afazeres, disse:

— Vá atender cliente enquanto Fábio fazer a pausa dele. Sem desenhos! Sem desenhos!

Arthur assentiu o pedido do pai com a cabeça e falou para Pablo:

— Vou pegar lá dentro suas roupas, Sr. Pablo. — Mesmo sem se virar, ele sentiu que seu pai tinha parado no meio do caminho e olhado para ele. Rapidamente corrigiu: — Quero dizer, Sr.Swartengel.

— Obrigado, Arthur. — Pablo agradeceu.

— Ficou muito melhor com o cabelo assim. — Arthur disse mordendo a língua com um dos olhos fechados e apontando os dois dedos indicadores na direção de Pablo como se fossem duas arminhas.

Certamente Arthur ia levar um esporro do pai assim que estivessem a sós na área restrita aos funcionários. A lavanderia não estava vazia. Algumas pessoas estavam utilizando as máquinas de lavar, outras estavam sentadas no aguardo das roupas ficarem secas. Mesmo assim, não impediu Pablo de segurar meu braço e me dar um puxão por cima do balcão que nos separava.

— É sério isso, bro? — Ele perguntou com o tom de voz contido e apontando o polegar para fora da lavanderia.

Me livrei da mão de Pablo olhando para os lados. Ninguém estava prestando atenção em nós. Peguei a ficha cadastral que o Sr. Noka havia deixado sobre o balcão para que eu colocasse no arquivo dos clientes e li em voz alta:

— Joshua Fournier é um cliente Premium da lavanderia Noka Pikull agora. Assim como o senhor, Pablo Swartengel. Estou quase dizendo ao Sr. Noka que não seria uma má ideia se ele fosse direto na Bottoms up e fizesse uma propaganda da lavanderia para todos os frequentadores de lá.

— Desde quando o funcionário pode sair no meio do expediente com um cliente Premium?

— Não sei. Pergunte aos donos da lavanderia. Foram eles que autorizaram a minha saída com você um dia desses. Não foi? — Quando percebi que Arthur já estava se aproximando com o saco preto com as vestimentas do King Kobra prontas para serem reutilizadas em suas performances libidinosas, encaixei a ficha de Joshua no teclado para que eu pudesse fazer o seu cadastro em sistema assim que eu voltasse do café e contornei o balcão.

Contornei o balcão ao mesmo tempo que Arthur chegou e assumiu o meu posto. Antes de sair, Pablo segurou o meu braço com mais força que da outra vez e falou sem alterar o tom de voz:

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