Frio e cinza

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Mais um dia frio na grande São Paulo... O que já tinha virado rotina, pois era época de inverno. E lá fora estava tudo frio e cinza - logo em uma segunda-feira - para variar. E para ser sincera: era do jeitinho que eu gostava. Ou quem sabe, eu simplesmente tenha me acostumado com essa paisagem. Mas por que eu fui gostar logo de tudo frio e cinza? E não de um dia ensolarado com um céu azul lindo? Provavelmente porque durante muito tempo dentro de mim eu fui fria e cinza...

Eu sempre fui mais reservada. Gostava de brincar, conversar e até fazer algumas piadas com algum grupinho de amigos mais íntimos. Entretanto não era de falar muito, sempre preferir ouvir e tentar tirar alguma conclusão daquilo depois. Por conta disso, muitas pessoas vinham me procurar para pedir algum conselho, alguma ajuda sobre algo. E normalmente, esse algo era sempre sobre o amor...

Ah... o amor... Eu tenho uma conclusão sobre ele: a gente tenta procurar uma pureza nesse sentimento tão sublime. Uma pureza que está sempre se pondo. E por conta disso tentamos preencher algo dentro de nós com esse sentimento. Com isso acabamos caindo de cara no chão.

E vai ser sempre assim: conhecemos alguém, nos apaixonamos e quem sabe tudo isso pode virar amor. Ou não. Tudo isso vai depender das duas pessoas que estão apaixonadas. Mas na maioria das vezes é só uma que está realmente amando. Consequência: ela acaba caindo de cara no chão. Pense assim comigo: tem um elástico, e para ele ficar estocado duas pessoas têm que segura-lo - cada uma com a sua respectiva ponta - e se uma acabar soltando é a outra que acaba se machucando. E no fim estamos nesse ciclo vicioso da paixão.

Se eu já cair de cara no chão? Sim, meu caro amigo. Já senti a dor de só eu segurar uma ponta do elástico. E doeu. Quer dizer... Ainda dói. Porque é difícil se acostumar com essa dor que nem a comida da vovó cura.

Por conta disso você acaba ficando mais fria, orgulhosa, rancorosa e até egoísta.

Um dia me perguntaram aonde estava aquela menina doce, meiga e que sorria só de ouvir o cantar de um pássaro. E eu simplesmente disse: "Ela se foi com o vento e com o tempo..."

Ah! O tempo! Estava quase me esquecendo dele, acredita? Logo ele que foi o meu melhor amigo, que me ajudou e que sempre esteve ao meu lado. O tempo foi aquele amigo que estava comigo a cada tombo que eu levava. Demora - e muito - para a dor simplesmente torna-se costumeira ou se extinguir. Mas nada como esse meu amigo para nos ajudar.

E como eu disse: a cada tombo ou uma dor daquele elástico que significava para mim, eu ia ficando mais fria. Deve ser por isso que eu me acostumei e acabei até gostando quando tudo fica frio e cinza nessa cidade tão grande, vaga e cheia de pessoas, que ao mesmo tempo são vazias dentro de si.

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