azul da prússia

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A enfermeira se chamava Nayeol, e logo se mostrou gentil e atenciosa com Soo-ah. Provavelmente parte do procedimento, mas não a fazia sentir como sendo atendida por uma enfermeira formada e sim uma velha amiga.

— Venha, Soo-ah, irei te mostrar a casa — Ela tocou seu ombro gentilmente. Ela virou sua cabeça na direção dos pais para se despedir.

— Você irá ficar bem — A mãe passou os dedos nos cabelos curtos da filha e sorriu, pensou que fosse chorar, mas não aconteceu.

— Vocês já vão indo? — Perguntou enquanto seu pai a abraçava demoradamente.

— Sim, apenas pacientes podem frequentar — A senhora respondeu e Nayeol sorriu gentilmente.

— Não se preocupe, Soo-ah, todos aqui serão muito compreensivos com você.

— Bom, sendo assim... — Agarrou sua mala um tanto incerta — Até.

— Oh, receio que a sua mala não será necessária, senhorita — Nayeol sorriu, ela falava tão docemente que Soo-ah ao menos podia ficar confusa com aquilo.

— Mesmo? — Foi a mãe da moça quem perguntou — Por que não?

— A clínica Jaeyon disponibiliza as roupas adequadas, senhora — A enfermeira sorriu mostrando um pouco das rugas que possuía em seu rosto.

— Bom, então levaremos de volta — O homem agarrou a mala e se despediu novamente.

E foi assim que a porta de madeira da entrada se fechou e a última frestinha que ela pode ver foi que eles desciam os degrais novamente, abraçados. Numa esperança que dessa vez, iria funcionar.

Ela odiava ser pessimista mas temia mais que eles que a clínica Jaeyon não funcionasse. Lá dentro de Soo-ah, era como se fosse uma última esperança.

Como uma flor, quase morta de sede que espera um último amanhecer, um último dia na esperança de que vá chover.

Sentia-se assim, andando numa linha fina para se equilibrar. Uma verdadeira malabarista de sensações e emoções.

— Bom, eu espero realmente que goste da clínica — Naeyol segurou a mão da garota como se fossem amigas próximas — Aproveite a estadia huh? Vamos começar a conhecer a casa... Aqui onde estamos é a sala de estar e lazer.

A enfermeira gesticulou abrindo seus braços com graça, Soo-ah observou melhor o local e percebeu que era bem (muito) maior do que imaginava. Era como uma sala de estar de uma casa normal, apenas quatro vezes maior, com vários sofás, livros sobre os mais variados assuntos (Soo-ah passou o olho sobre eles, desde contos de fadas até a anatomia de abelhas, uma grande extensão de livros). A sala tinha tapetes macios e uma grande lareira. Mais ao fundo, havia o que Nayeol provavelmente chamava de "lazer". Havia divertimento para qualquer um.
Tocador de discos, caixas de brinquedos de madeira, jogos de tabuleiro, telas para pintura, materiais de desenho e instrumentos musicais. Tudo isso ali. Além disso, alguns pacientes estavam no local, um rapaz que aparentava ser da mesma idade que ela que estava sentado ao chão, e brincava com as coisas de criança, sorrindo como uma. Ao seu lado havia outro paciente, sentado no sofá, observava o outro brincar. E mais alguns outros pacientes que se distraiam por ali.

Era um local confortável e familiar. As duas seguiram para outro cômodo, Nayeol parecia animada com a presença de Soo-ah. A moça notou que a casa possuia muitas paredes de vidro para iluminação natural que vinha da floresta ao redor, aquela casa era um local realmente afastado de tudo e talvez isso fosse bom.

Nos corredores haviam quadros, nem um pouco profissionais, na verdade, pareciam ser feitos por crianças.

- São dos pacientes - Nayeol já se prontificou observando a atenção de Soo-ah sobre os quadros - Mas temos um outro corredor com quadros de outros pacientes, especialmente dele. Você vai gostar, tivemos que arranjar um corredor só para colocar seus quadros, porque eram muitos...

Dele? Ele quem? Soo-ah pensou. E concluiu que talvez a enfermeira estivesse se referindo à um paciente que gostasse de pintar ou algo assim, talvez como aqueles rapazes brincavam na sala de lazer.

As duas passaram pela sala de jantar onde haviam duas mesas compridas para todos comerem juntos, "como uma família" Soo-ah pensou, eles eram realmente calorosos ali. Até mesmo alguns dos médicos que passavam por elas durante o tour as cumprimentavam com um grande e gentil sorriso (mas curiosamente, os médicos não vestiam jalecos brancos e nada do tipo, apenas uma roupa leve semelhante à um hanbok). Em seguida, as duas passaram por alguns locais de tratamento, como um spa relaxante, a sala para grupo de apoio (onde Nayeol afirmou que os encontros envolviam todos os pacientes, sem falta às terças e sábados), a sala de artes, a de leitura e o corredor dos quartos dos pacientes. Claro gigantes, todos s cômodos eram grandes.

Foi quando Nayeol subiu com ela ao segundo andar da casa, mostrando para Soo-ah a sala de yoga e jogos, que Soo-ah pensou que aquele lugar não fosse tão ruim assim, e poderia funcionar (Mas e se não funcionasse? Se fosse mais uma chance no lixo?). Mantinha todo o tempo suas mãos atrás do corpo, respeitosa, atenta aos detalhes, sem dúvida aquela casa era linda.

A enfermeira pediu para segui-la num corredor, porque iria mostrar por fim o corredor dos quadros dele. Eram muito bonitos sem dúvida, o corredor todo já se preenchia com seus quadros, coloridos, esbanjavam graça e beleza, sensibilidade estampada em cada detalhe, cada pincelada e cada centímetro daquelas pinturas. Algumas davam a Soo-ah até mesmo uma vontade de chorar de tão belas aquelas imagens podiam ser, porque pareciam penetrar na alma e te conhecer como nenhum ser jamais havia conhecido.

Mas se a pintura conhecesse Soo-ah e se assemelhasse ao seu espírito, ela então se tornaria feia e negra. Não valeria a pena estragar uma obra de arte como aquele quadro.

Percorrendo o corredor com Nayeol, Soo-ah percebeu que havia uma porta em um dos lados deste, ela era de vidro e permitia mostrar o que havia no grande quarto atrás dela. E essa foi a primeira coisa que ela notou ao observar o quarto, era bem maior que os de outros pacientes, diria que talvez, o dobro do tamanho. E possuia também uma varando muito maior, diria que, a parede toda era feita de vidro apenas para dar ao hóspede daquele quarto a vista do topo da montanha, era a melhor vista que a casa possuía sem dúvida alguma.

O quarto estava repleto de quadros, telas brancas ou preenchidas, pequenas mesinhas que carregavam tintas e mais tintas, o cavalete de madeira, e por fim;

O pintor.

O mestre de todas aquelas obras nos quadros do quarto, segurava a paleta na mão esquerda, concentrado na pintura que fazia. O pintor estava de costas para Soo-ah, no corredor, por isso, o que era possível enxergar eram seus cabelos castanhos escuros e seu uniforme de paciente, que como o dos médicos era semelhante à um hanbok.

Soo-ah concluiu que era ele de quem Nayeol falava, era dele, todo aquele corredor, parecia pertencer a ele, então, já que era tomado pelas suas pinturas magníficas e carregadas de sentimento.

Aquelas mesmas pinturas que deram vontade de chorar a ela, detalhes e que de repente, pertenciam a ele, de costas para ela, de paleta na mão e ainda sim, uma identidade secreta, escondido atrás de uma assinatura, a mesma, repetida em cada um daqueles quadros, um paciente único sem dúvida alguma.

 E antes das duas descerem novamente ao primeiro andar, Soo-ah observou a assinatura no canto de uma das pinturas, escrita de um amarelo alegre.

"Vante"

van gogh + kthOnde histórias criam vida. Descubra agora