1- A linha de partida

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São 13h, depois de 6 horas dentro de um ônibus nada confortável, finalmente desci no "centro" da cidade onde cresci. Já se passou um pouco mais de 10 anos desde que me mudei para o Rio de Janeiro e esse lugar continua o mesmo buraco esquecido por Deus. A única coisa que da vida a cidade são os soldados, não fosse o quartel essa cidade já tinha afundado em pó.
Estou a 30 minutos esperando no ponto de táxi, nesse tempo o informante rodoviário quis me atualizar sobre todo negócio de transporte da família Domingues, que incluía uma "frota" de táxi de 2 carros e um caminhão de mudanças. Não me recordo de nenhum Domingues e estou muito tentada a não esperar para conhece-los, mas me lembro de quanto chão me separa da casa de minha irmã e me conformo.
A casa dos meus pais ficava bem pertinho daqui, não que tenha alguém lá para me recepcionar. Meu pai, Major Bernardo Chaves, faleceu num acidente de treinamento faz 4 anos, minha mãe, Dona Fernandinha, definhou e o acompanhou no mesmo ano.
Não tenho muito contato com minha irmã, ela criticava meu estilo de vida e eu condenava suas escolhas, mas costumávamos trocando mensagens, a última vinha com a foto do bobó de camarão que ela preparou e segundo a mesma estava idêntico ao da mamãe... São muitas diferenças, mas sempre a amei.

Um carro muito suspeito parou em frente ao ponto, as laterais pintadas com os dizeres "Agilidade é Domingues" indicou o fim da minha espera. O motorista se chamava Paulo e reclamou o caminho todo sobre seus filhos que não levavam os negócios a sério. Ele parou em frente ao endereço falando algumas palavras desajeitadas, eu agradeci a atenção e partir.

Da calçada eu observei aquela decoração que já era tão familiar, de cada lado da porta tinha uma enorme coroas de flores brancas, homenagem padrão do quartel aos militares mortos. Me dirigi a entrada e toquei numa das coroas, sua faixa dizia "Descansem em paz Capitão Martins e Amélia".
Lágrimas brotam uma atrás da outra e fiquei chorando silenciosamente encostada na porta até me acalmar, tentei limpar o rosto, o melhor que se pode fazer com a manga da blusa.

- Anallisa, sua idiota, devia ter vindo experimentar aquele bobó.

Apertei a campainha e a porta se abriu, revelando um garoto meio baixo para os seus 10 anos, moreno com o cabelo cortado estilo militar e olhos castanhos e meigos como os de Amélia.

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