Welcome home

12- E o queijo?

Lucas precisava ir para escola o quanto antes, mas eu estou disposta a deixar ele quieto por um tempo, sem precisar encarar toda essa troca de ambiente de uma vez. Tenho medo de sobrecarregar o menino, mas ele garantiu que prefere começar a viver as novidades pra "descobrir logo o que tem de bom nesse novo".
Apesar da resistência inicial ele ficou bem animado com as atividades extracurriculares, está para começar as aulas de música e inglês. Conseguimos organizar nossos novos horários e estamos prontos para começar a semana, hoje eu vou trabalhar até a hora de pegar ele na escola, segunda vai ser meu dia de sair cedo. Não sei como vou trabalhar nesse estado, eu queria ser uma joaninha pra acompanhar ele nesse primeiro dia.

Lucas deixa sua mochila vermelha no sofá e vem para a cozinha me ajudar com o café. Eu fico observando ele pegar os copos e pratos, admirando como ele não dá trabalho nenhum. Fico grata por não ter que lidar com um moleque mal criado, mas a sensação é de alguém que quer conquistar o direito de estar aqui. Já vivi sob essa pressão e a última coisa que quero é essa atmosfera ao redor dele.

- Lucas? Você sabe que eu QUERO cuidar de você, né? Tipo, de verdade, não estou movida por impulso ou falta de opção. Seu bem estar e felicidade estão no topo das minhas prioridades.

Ele acena a cabeça bem constrangido. Não sei o quanto ele acredita em minhas palavras, mas elas não poderiam ser mais verdadeiras.

- Eu realmente tive um surto de remorsos e achei que cuidar de você apagaria um pouco disso. Mas isso não durou muito, antes mesmo de vir pro rio eu já tinha me dado conta que nossa história está à parte de tudo isso. Sei que anos de ausência falam mais alto do que esse curto tempo de convivência, mas eu vou me esforça pra ser alguém que você gostaria de se aproximar, alguém que você não se importe de depender. Não é um processo fácil, mas quero que você me prometa que vai tentar me deixar entrar no seu mundo, você já é grande parte do meu. Essa é sua casa, você não é um hospede! A partir de hoje você vai interagir com mais pessoas, é importante que você saiba que QUALQUER coisa relacionada a você não é um fardo. Me fale, qualquer coisa que te incomode, na escola, aqui em casa, em mim. Você é tão importante quanto eu, não quero que você se reprima desnecessariamente.

- Eu sei que sou meio paranóico, mas as vezes não sei até onde é besteira da minha cabeça. Quero ficar a vontade, mas não parece certo eu estar aqui, não parece ser o meu lugar.

- Bem, esse tem sido "meu" lugar por um bom tempo, mas eu tive problemas pra me encaixar. Eu vim porque eu quis, eu ansiava por um lugar pra pertencer e mesmo assim não aconteceu num passe de mágica. Sua chegada aqui foi um golpe surpresa, você já tinha o "seu" lugar e do nada precisa se adaptar a outro... seu lugar ideal não pode mais ser alcançado, mas esse pode ser NOSSO lugar, só precisamos construí-lo. Então se solta, nem que seja aos poucos, pense em algo que você faria se estivesse em sua casa e vamos fazer, você ESTÁ em casa! Faça algum pedido egoísta de pré-adolescente, deixe suas roupas desarrumadas ou faça birra pra levantar de manhã. Eu não sei, qualquer coisa, mas seja natural.

Lucas estava rindo do meu pedido desesperado por bagunça, terminou de arrumar as coisas na bancada e se sentou, olhou para todos alimentos que tinha para se servir e voltou a rir.

- A senhora não tem queijo minas. Antes da escola eu só como um sanduíche de queijo minas e leite sem açúcar. De manhã cedo eu fico muito enjoado, não como muito, principalmente coisas doces.

Eu olho pra bancada e vejo: Sucrilhos, nescau, bolo de cenoura com calda de chocolate, suco de caixinha, leite, pão de queijo, pão de forma, ovos, presunto e queijo prato. Penso na montanha de comida que venho servindo nos últimos dias na esperança de agradar e solto um gemido.

- Eu adoro doce, achei que uma criança compartilharia meus gostos!!

- Eu gosto, mas de manhã eu não aguento isso tudo. Mas a senhora realmente come doce de mais rsrsrs

- Eu vou buscar queijo minas pra você, nem adianta falar que não precisa, eu estou te envenenando a semanas!! Me espera que eu volto num pulo.

Saio correndo e ainda consigo ouvir as gargalhadas dele do lado de fora da porta. Aprecio a situação por um momento e começo a rir.

- Eu acabei de pedir pro menino ser mimado! Melhor corre ou também vou fazer dele um matador de aula.