337km | JIKOOK

Capítulo 1: Jeon Jungkook

Jungkook digitou as últimas palavras e sorriu. Perfeito. Era difícil ficar satisfeito com o primeiro esboço, mas se sentia feliz por ter terminado a história. Finalmente. Após conferir milhares de vezes se tinha salvado o arquivo, respirou fundo e desligou o notebook. Já eram quase sete da noite e logo a biblioteca municipal fecharia. A ideia de passar a madrugada trancado com aquele tanto de livro não era tão aterrorizante, mas a fome e o cansaço estavam falando mais alto.

Jungkook se levantou e guardou o notebook e um bloco de anotações do Star Wars - com a famosa citação "que a força esteja com você" na capa - na mochila. Colocou apenas uma das alças no ombro esquerdo e foi embora. Ao pisar na rua e sentir o vento gelado, desejou estar vestindo algo mais quente que o suéter vermelho surrado. Sua cidade ficava no sudeste do país, sobre uma cadeia de montanhas. Naquela época do ano, costumava fazer muito frio e o movimento dos turistas era uma loucura, graças à arquitetura baseada em construções japonesas e ao frio. Por morar em uma região serrana do Sudeste da Coreia, baixas temperaturas faziam parte do seu cotidiano. Táxis circulavam pelas ruas, famílias caminhavam juntas e namorados passeavam de mãos dadas observando as vitrines. Tudo aquilo era muito mágico e vivo. A cidade tinha vida própria.

Na rua, as luzes dos postes começavam a acender enquanto Jungkook caminhava em direção a uma cafeteria. Assim que chegou, viu um casal saindo. A julgar pelos gestos, os dois pareciam discutir, e aquilo o fez lembrar, inevitavelmente, dos pais. Quando ele era pequeno, uma das coisas que mais odiava era ver os dois brigando. Sempre por algum motivo bobo ou por dinheiro. Seus pais são donos da Rede de Hotéis Jeon - parte por Jeon ser o nome da família -, espalhados pelo país inteiro, mas conhecidos principalmente naquela região. Jungkook cresceu dentro do hotel, rodeado de desconhecidos que iam e vinham, e, mesmo assim, sempre se sentiu solitário. Ele sempre teve tudo do bom e do melhor; no entanto, a falta de amor e carinho o incomodava. Seus pais eram ocupados e viajavam muito a trabalho, e Jungkook acabou sendo criado pelo pessoal que trabalhava no hotel - pessoas humildes e de bom coração. Por esse motivo, nunca deu bola para a riqueza nem esbanjava sua fortuna. Os pais eram a prova de que o dinheiro não trazia felicidade.

Com o passar do tempo, Jungkook foi amadurecendo, e as cobranças começaram. Por ser filho único, o pai sempre exigiu muito, principalmente em relação aos negócios. Kwan queria que o filho seguisse seus passos e assumisse o comando da rede hoteleira, mas Jungkook não queria. Tinha o sonho de ser escritor e faria de tudo para realizá-lo.

Na cafeteria, procurou um lugar livre ao fundo e sentou. Assim que foi atendido, pediu um pedaço de torta de frutas vermelhas e um chocolate quente com marshmallows. Enquanto esperava, tirou o celular do bolso e começou a conferir as últimas notificações. Um garoto chamado Jimin o adicionara no Facebook e ele não fazia ideia de como o conhecera; o que despertou sua curiosidade para fuçar no perfil do rapaz. De cara Jungkook descobriu que o garoto gostava muito de música e livros. Além do mais, os dois participavam do mesmo grupo dedicado à escrita, no qual os integrantes compartilhavam textos, fanfics e até histórias originais. Jungkook arriscava de vez em quando postar alguma de suas "obras". Estava tão distraído que não percebeu a presença de alguém em pé ao seu lado.

— Crush novo?

O susto foi inevitável. Jungkook rapidamente bloqueou a tela do celular e virou. Lá estava a amiga, com o rosto quase grudado no seu, na tentativa de ver o perfil.

— Deuses! Minlee! — Suspirou e sorriu, encabulado. — Nunca mais faça isso!

— Acabei de sair do estágio e resolvi passar aqui pra pegar um café. — Sem precisar de convite, ela largou a bolsa em cima da mesa e sentou. — Mas, me conta: quem é Jimin?

— Não sei. Ele acabou de me adicionar! — Enquanto Jungkook falava, MinLee o observava com um sorrisinho malicioso. Foi o suficiente para deixá-lo ainda mais constragido.