IX

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(Hush little baby/ Shhh bebêzinho
Don't say a word/ Não diga uma palavra)

A canção de ninar ressoava pelo depósito abandonado, de modo que todas ali ouviam o cântico perfeitamente.

(Momma's gonna kill for you/ Mamãe vai matar por você 
The whole damn world/ A droga do mundo inteiro)

A voz da mulher não era muito boa, ela era uma péssima cantora, mesmo assim, ninguém se atrevia a dizer uma palavra.

(And if they don't laugh at our jokes/ E se eles não rirem das nossas piadas
Momma's gonna stab out/ Mamãe vai esfaquear 
Their goddamn throats/ A droga de suas gargantas)

A mulher andava de um lado para o outro. Além de sua macabra canção, seus saltos eram o único barulho do lugar.

(And if they start to run away/ E se eles começarem a correr
Momma's gonna paint the streets with blood/ Mamãe vai pintar as ruas com sangue)

A música, autoria dela própria, era uma macabra e estranha versão de uma bela e doce canção de ninar. Mas nada em sua vida havia sido belo e doce desde o início, por que aquela canção seria?

(And once the blood starts to wash off/ E quando o sangue começar a ser limpo
Momma's gonna blow some more heads off/ Mamãe vai explodir mais algumas cabeças)

As outras mulheres no depósito se entreolharam. Elas sabiam o que estava acontecendo, o por quê de tudo aquilo e não se atreviam a abrir a boca sobre o assunto.

(And if the world still doesn't laugh/ E se o mundo ainda não rir
Momma's gonna go and posion them/ Mamãe vai envenena-los)

Ela continuava de um lado para o outro, acariciando o rosto da pequena criatura em seus braços. 

(And once the poison does its job/ E quando o veneno fizer seu trabalho
Momma's gonna show you your legacy/ Mamãe vai te mostrar seu legado)

Ele não se mexia. Não abria os olhos, não respirava. Mas na cabeça dela, tudo aquilo acontecia, tudo estava bem, tudo estava normal.

(And if the word still tries to fight/ E se mundo ainda tentar lutar 
Momma's gonna burn their houses down/ Mamãe vai quiemar suas casas)

Os olhos dela se encheram de lágrimas e sua voz falhou nos últimos versos de sua canção doentia:

(And if you grow up with his smile/ E se você crescer com o sorriso dele
Momma's gonna be so proud of you/ Mamãe vai estar tão orgulhosa de você)

Ela terminou o colocando no berço de madeira, ela limpou as lágrimas de seu rosto e se virou para as outras. 

-Shhh, ele está dormindo. - Ela sussurrou antes de sair de vista pelo corredor. As mulheres se entreolharam outra vez e apenas deixaram o macabro boneco em seu berço. 

-Ontem à noite a polícia invadiu a boate "Wedstone", - dizia a mulher do noticiário - uma denúncia anônima informou que a boate pertencia ao infame gangster Fúria da Noite. A denúncia foi confirmada, mas o gangster conseguiu escapar. Algumas testemunhas oculares afirmam terem visto uma mulher loira ao lado do criminoso, mas nada foi confirmado pelo Departamento de Polícia. Testemunhas de outros crimes confirmaram terem visto uma mulher ao lado do gangster, mas a polícia não comentou o caso.

-Isso não faz o menor sentido, por que ele teria uma parceira? - O detetive SangueBravo perguntou em voz alta. 

-Acha que pode ser uma namorada? - Ingerman, seu parceiro, perguntou. SangueBravo negou na hora. 

-Impossível, ele é um psicopata, não é capaz de amar ninguém.  

-Receio ter que discordar, detetive. - A voz feminina chamou a atenção dos dois detetives na delegacia e eles se viraram para verem a bela morena de olhos verdes. - Heather Gilmore, psiquiatra do manicômio Windale. Seu capitão me chamou para fazer uma análise do caso. 

Ela se sentou em uma das cadiras, analisando as imagens da invasão no computador, cruzando as pernas e ajeitando os óculos em seu rosto. 

-Me desculpe, doutora, mas eu sei o que digo: O Fúria da noite é um psicopata. - O detetive SangueBravo disse teimosamente. A psiquiatra era jovem demais, com no máximo vinte anos, ele não acreditaria em alguém tão jovem. 

Ela olhou para ele com uma das sobrancelhas erguidas. 

-E onde o senhor cursou psiquiatria, detetive? - O detetive abriu a boca, mas a doutora o intrrompeu. - Porque eu cursei em Harvard e posso dizer com toda a certeza: o Fúria da Noite é um narcisista, não um psicopata. 

-E qual é a diferença? - Perna-de-Peixe perguntou antes que seu parceiro dissesse alguma coisa.

A médica desviou sua atenção para o loiro e respondeu:

-Um psicopata não possui resquício algum de emoções humanas, ele não é capaz de amar, de sentir dor ou remorso. Um narcisista ama a si mesmo acima de tudo, é alguém sempre carente de atenção e, por mais que seja difícil, é capaz de se relacionar e amar outras pessoas. Entretanto, as relações dele não são fáceis e não costumam durar muitog por culpa do imenso ego que tem. E, diferentemente da psicopatia, o narcisismo pode ser curado com algumas sessões de psiquiatria. 

-E a garota? - Perguntou Drago, a médica deu de ombros. 

-Nós ainda não sabemos nada sobre ela, não posso ter um diagnóstico ainda. 

Os detetives assentiram e a médica voltou a assistir as imagens.

...

Em seu escritório,  Soluço via mais uma vez o posto de gasolina explodindo em uma notícia sobre sua mais recente fuga e ele não pôde evitar sentir orgulho de sua monstrinha. 

Jack entrou no escritório e Soluço franziu a testa ao ver o rosto sério do melhor amigo.

-O que foi? - Perguntou o chefe.

-O cassino Eddenwood emprestou 567 mil euros para um jogador na semana passada, e ainda não houve retorno. - Ele informou. 

-E qual é o problema? Apenas cobre a dívida. - Soluço ordenou, era a coisa mais óbvia do mundo, qual era o problema? 

-Chefe, a dívida está em  nome de Cabeça-Dura Thorston. 

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