Samantha - Livro 2 (DEGUSTAÇÃO)

Capítulo Cinco

 — Valentina — grito e me jogo nos braços da mulher parada em minha frente.

— Cuidado com a minha mulher e meu filho, cunhada — ouço a voz de Ramon e percebo que quase nos derrubo no chão.

Depois de me desculpar com minha irmã que mantem um sorriso aberto em sua face, abraço meu cunhado. Eles entram no apartamento seguido por Tomás que carrega uma mala.

Valentina caminha até Cecilia e a abraça, minha amiga está visivelmente constrangida, afinal a casa é, tecnicamente, deles.

— Por que não avisaram que estavam vindo? Teria preparado algo.

— Desculpe Sam, não tinha planos de voltar aqui até o bebê nascer, mas Ramon precisava estar na empresa amanhã e viemos às pressas — minha irmã explica enquanto se acomoda no sofá.

A barriga está enorme, ela está com oito meses, as vezes parece ter mais de uma criança lá dentro, Valentina sorri acariciando-a.

— Vou para o meu quarto — Ceci diz — boa noite.

Nem tento impedi-la, imagino como deve estar se sentindo, eu mesmo sinto como se estivesse no espaço deles, que saudade da minha casa.

Ramon conta sobre a reunião com uns investidores alemães. Nos últimos meses Alex tem estado a frente desses assuntos, mas esses gringos estão colocando alguns empecilhos para fechar com a Riviera Tecnology, talvez lidando diretamente com o presidente eles finalmente se decidam.

— Que cheiro é esse? — Valentina pergunta.

— Nosso jantar — ela levanta a sobrancelha — pão com ovo.

Ramon ri, pergunta se tem algo mais substancial e eu nego, realmente ainda não fizemos compras, pelo menos nada que fosse realmente nutritivo. Mesmo que na embalagem do sorvete informe que ele possui quinze vitaminas diferentes, não acredito que conte como comida saudável.

— Sam, sabe que o vale-alimentação da empresa é bem generoso, não sabe? — o olhar de patrão que Ramon me lança, faz com que eu ria — Não ria, é sério. Vou pedir algo.

Ele suspira frustrado, Ramon se sente responsável por mim e de certa forma agradeço. Passei muito tempo sozinha, tive que aprender a me virar cedo. Não tenho muito orgulho da minha vida passada, mas foi o que evitou que eu passasse fome.

Meus pais morreram em um acidente de carro durante uma noite chuvosa, era meu aniversario e apesar dos poucos recursos que tínhamos, eles sempre faziam questão de celebrar de alguma forma. Éramos os três mosqueteiros, minha mãe tinha uma irmã mais velha que até então nunca conheci, só alguns anos depois eu descobri que elas romperam porque o rapaz que minha tia se apaixonara, nutria sentimentos por outra jovem, minha mãe e que sentia o mesmo.

Foi durante o aniversário da mais velha que tudo aconteceu. Ela iria se declarar ao amado o qual mantinha em segredo quem era, porem quando ele se declarou na frente de todos a irmã mais nova, minha tia acusou minha mãe de ter "roubado" seu namorado, sendo que ela sequer sabia do interesse da outra no jovem rapaz.

Para resumir, elas brigaram e com o casamento deles, as duas romperam de vez, depois do acidente fui levada para viver com minha tia, uma mulher triste e amarga. Minha vida só não foi pior por conta de seu marido que sempre foi bom e gentil comigo, o homem sonhava em ser pai e como isso não aconteceu de forma natural, ele viu em mim a chance de ter seu desejo realizado.

Mas minha tia não pensava assim e quanto mais eu crescia, mais ela discutia e me acusava de coisas absurdas e a pior delas foi que eu estaria interessada em roubar seu marido, assim como minha mãe fez.

Para George essa foi a gota d'água e apesar de não querer me deixar sozinha com ela, ele acabou por sair de casa, ela me culpou e me bateu. Então foi por isso que meu tio conseguiu uma bolsa para eu estudar em uma das melhores escolas da cidade, havia moradia para alunos e isso me deu um lugar para ficar.

Sem dinheiro para cuidados básicos, acabei me envolvendo com pessoas que me ensinaram sobre computadores, em pouco tempo eu me tornara um dos melhores hackers daquela época, mas confiar nas pessoas erradas pode custar muito, inclusive sua identidade.

— Ei, onde estava? — Valentina me pergunta, parece que viajei nas lembranças.

— Em tão, tão distante — sorrio fraco e ela continua a me encarar, agora é isso, nada de segredos, essa nova Valentina quer tudo às claras — estava só relembrando meu passado.

— Não vá até lá — ela toca meu rosto — tem coisas que é melhor deixar onde estão.

Balanço a cabeça em concordância. Minha mente corre até Santiago, será que estou pronta para deixá-lo para trás também?

— O jantar chegou — Ramon avisa indo até a cozinha, as entregas são feitas por lá.

— Vamos, chame Cecilia, vi como ela ficou constrangida — Tina segura minha mão — vocês vivem aqui, nós somos as visitas.

Sorrio e vou chamar minha amiga, as coisas do coração ficam para depois.

Logo teremos mais capítulos e espero vocês nessa viagem comigo. 

Só mais uma coisa antes de ir...

Votem e comentem, tá bom?!