Capítulo Seis

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— São só alguns dias — repito pela, sei lá, decima vez?

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— São só alguns dias — repito pela, sei lá, decima vez?

— Fique tranquila Sam — Alex está encostado em minha mesa, o paletó está desabotoado, ele deve ter vindo de alguma reunião — não é porque me tornei VP que esqueci como era o trabalho aqui.

Sorrio para ele. Valentina voltou para Creta dois dias depois de vir com Ramon, agora — uma semana depois — recebo sua ligação pedindo que eu fosse até lá. Minha irmã está em torno dos oito meses, não deveria ter feito aquela viagem, foi imprudente e agora está possivelmente entrando em trabalho de parto.

Alex insiste em me levar até o aeroporto, vou no jatinho da empresa por ser mais rápido. Estou preocupada, ela já estava internada, fez questão de falar comigo para que eu não achasse que Ramon me esconderia algo, de qualquer forma a tensão toma conta do meu corpo e espero chegar lá com a mente sã.

Subo na aeronave e tão logo ganhamos os ares fecho meus olhos em uma tentativa de relaxar. Porém meus pensamentos me levam diretamente a segunda noite em que Valentina esteve na cidade.

Pablo insistiu que precisamos jantar em família. Até aí tudo bem, mas o que eu não esperava, era encontrar "aquele que não deve ser nomeado". Tudo bem que Santiago não era nem de longe parecido com o lord das trevas, mesmo assim fingir sua inexistência parecia mais seguro.

***

— O que ele está fazendo aqui? — sussurro para Valentina que anda ao meu lado — pensei que fosse um jantar em família.

— Santiago é família Samantha — Ramon responde sem demostrar nenhuma emoção que não seja a obviedade da sua afirmativa.

— Lembre-se que devo minha nova vida a ele — Tina reforça o argumento do marido, bufo diante da minha impossibilidade de contestar.

Pablo como sempre expansivo faz festa quando nos aproximamos, Santiago se levanta e abraça Ramon, depois Valentina recebe um olhar carinhoso, sua mão pousa sobre a barriga e um sorriso triste surge em seu rosto, acho que ele sequer percebeu o ato. Seu olhar vem em minha direção e desvio, posso parecer imatura, mas simplesmente fingir (ou fugir), parece mais seguro.

Sinto o olhar de Santiago sobre mim, porém meu prato parece mais interessante e mantenho minha atenção nele. Respondo somente o necessário e por sorte o clima parece não ficar tenso. Em um momento de descuido meu olhar cruza o dele e estranhamente não consigo desviar, vejo uma nuvem de tristeza e angústia que tiram o brilho que outrora tanto me encantava.

Tenho vontade de esticar a mão e acariciar seu rosto coberto pela barba ainda curta, afirmando que o que quer que esteja perturbando sua mente irá se resolver.

"Caminho perigoso, querida", minha pequena conselheira me avisa. E ela tem razão, Santiago não é nada meu e seus problemas também não. Ele escolheu seu caminho há um pouco mais de seis meses, quando sumiu deixando somente um bilhete que não explicava nada.

— Preciso falar com você — a voz forte e intensa me invade, olho ao redor e só estamos os dois na mesa, estava tão longe que nem percebi quando ele se aproximou — Sam... por favor.

"Assim fica difícil resistir" — explico a pequena Sam que já está se preparando para me trazer a razão. Seu tom sôfrego me faz encará-lo, tiro forças não sei de onde para levantar o queixo em um obvio tom de afronta.

Ele sorri — droga — ele sorri e isso me deixa de pernas bambas, ainda bem que estou sentada ou provavelmente teria ido ao chão.

— Não aqui — sua mão sobe até o meu rosto, seus dedos roçam delicadamente a minha pele, mesmo assim sinto uma suave queimação no lugar, meus olhos fecham como se assim a sensação pudesse se tornar mais demorada, minha boca seca quando sinto que se aproxima e imaginar seus lábios sobre os meus é o suficiente para me render a ele e ao seu pedido — vamos para minha casa, é importante.

Não é um pedido para fazermos "coisinhas", mas seu tom é sexy e urgente, quero muito saber o que ele tem a dizer, sinto que é algo importante e mesmo não me sentindo confortável, acho que se ele continuar usando esse tom de voz, vou até a lua se ele quiser. Sua respiração fica mais próxima do meu rosto, sinto seu nariz fazer um carinho suave no meu e quando acho que finalmente ele irá me beijar...

— Isto aqui é um estabelecimento familiar — a voz alta e debochada de Pablo me traz de volta.

Meu rosto arde de vergonha. Vejo quando Valentina acerta um tapa no braço de Pablo e Santiago ao meu lado, geme em frustração pelo que acabou de ser evitado. E como um pesadelo que insiste em te perseguir, lembro de como me senti quando ele sumiu e sinceramente aquilo ainda me dói.

Levanto-me meio desnorteada. Me pergunto onde está aquela garota sagaz, que mesmo sozinha conseguiu se virar e não ser usada por mais ninguém. Santiago é a minha fraqueza, só pode ser isso. Tina sempre dizia que eu tenho poderes "nerds", nesse caso deve ter um tipo de kryptonita que me deixa burra e só pode ser ele.

Saio apressada e acabo tropeçando na cadeira, por pouco não acabo com a bunda no chão. Santiago tenta me segurar, mas faço sinal para que não me toque, ando — quase correndo — em direção a saída, ainda ouço a voz de Valentina me chamado, mas dessa vez ignoro minha irmã, eu preciso mesmo ficar sozinha.

***

— Senhorita? — abro os olhos preguiçosamente, acho que cochilei — já vamos pousar.

O comissário informa e me recomponho, desde aquele encontro no restaurante que não durmo direito.

Cecilia disse que preciso ouvi-lo, talvez só assim eu consiga por um ponto final.

"Ou dar a ele uma segunda chance" — foram as palavras de Valentina. De certa forma vir para Creta agora vai ser muito bom, curtir meu sobrinho, ajudar minha irmã e pensar bastante. Quando voltar decido o que e quando vou fazer algo sobre esse assunto.

Depois de me apresentar na recepção do hospital e ser informada onde é o quarto em que Valentina está, sigo ao seu encontro. Meu coração bate freneticamente, mas o riso que ouço assim que paro em frente a porta me traz um certo alívio. Bato antes de abri-la devagar colocando somente minha cabeça para dentro do quarto.

— Sam — o chamado emocionado faz com que meus olhos marejem.

Abraço Valentina, amo essa mulher. Existe uma passagem da bíblia que diz:

"Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão", uma passagem no livro de provérbios. Esse é um fato para nós duas, construímos uma amizade e a cada dificuldade nos tornávamos mais unidas e em nossa maior provação, nos tornamos verdadeiramente irmãs e ela finalmente teve uma segunda chance que mudou a sua vida.

Segunda Chance, foram suas palavras sobre mim e Santiago, talvez eu devesse tentar, talvez só assim eu consiga seguir em frente como disse Cecilia.

— O que foi Samantha? Eu estou bem, nós dois estamos — ela toca a barriga após secar minhas lagrimas.

— Eu sei — sorrio e é verdadeiro — vou falar com ele Tina, estou sofrendo, preciso resolver isso...

Soluço sem me conter, não quero preocupá-la, esse é um momento de paz e não de drama, mesmo assim não consigo me controlar. Braços quentes me envolvem e isso é tudo que preciso no momento, um abraço consolador da minha família. Valentina segura minha mão, enquanto Ramon dá suaves tapinhas nas minhas costas murmurando que tudo ficará bem. E isso é tudo que desejo.

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Obrigada a todos pelo carinho, um super beijo e até jajá...

Samantha - Livro 2 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora