unhappy | changlix

seis

a primeira dica

Eu tinha medo.
Medo de dizer ao outros como eu me sentia.
Pois eu sabia que os destruiria.

Então eu escondia.
E destruía a mim mesmo.

Anos atrás eu havia dito para meus dois melhores amigos que eu estava bem.
Eu havia feito de tudo para que eles tirassem a expressão preocupada do rosto e substituíssem pelos sorrisos que eu era tão acostumado a ver.
Eu havia passado tanto tempo convencendo eles que uma parte de mim acabou sendo convencida também.

Então quando eu tive minha próxima recaída, a dor foi mil vezes pior.

Porque eu pensava que estava bem.
Quando na verdade apenas piorava.

E eu não podia contar para eles.

Por isso eu chorava todos os dias, escondendo meus motivos e me matando por dentro, de forma lenta e dolorosa.

Quando eles se mudaram de país para seguir seus sonhos o sentimento de solidão se intensificou ao ponto máximo.

Mas eles me consolaram, mesmo não sabendo disso.

Me garantiram que nenhuma distância nos separaria.

Me garantiram que sempre estariam ali por mim.

Então por que eu estava ali sentado no escuro me escondendo de todos? Por que eu estava sozinho? Por que eu estava a um passo de desistir?

Eu sentia falta deles.

Já faziam meses que não nos falávamos.

Eles estavam ocupados.

Eu não queria atrapalhar.

Por isso quase não mandava mensagens.
E nem respondia.

Eu sabia que eles só mandavam por obrigação.
Ou pelo menos foi isso que escolhi acreditar.

Eles eram sim meus melhores amigos, e esse lugar ninguém nunca tomaria. Eu acreditava que o amor que eu sentia por eles era o mais forte que eu um dia senti.

Mas o Felix que eles conhecem não é mais o verdadeiro.

Eles amavam a imagem que mostrei e lutei para manter.

E eu tinha medo de que eles me abandonassem quando vissem a destruição que eu era.

Por isso eu abandonei eles sem perceber.

Isso também me matava aos poucos.
Saber que tudo era sempre culpa minha e de minhas escolhas mal feitas.

Arranquei uma folha do bloco e peguei minha caneta, me sentando mais uma vez na cama.

Foi ali que comecei a escrever minha segunda carta.

No mesmo lugar da primeira.

Mas com sentimentos diferentes.

Agora era eu quem precisava de ajuda.