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Eu não sei exatamente o que havia acontecido comigo para que eu estivesse quebrando minha cabeça escrevendo uma carta para alguém que sequer deve saber quem sou.
Primeiro que ninguém mandava cartas nos dias atuais, segundo que esse garoto provavelmente nunca responderia.

Respirei fundo encarando o papel e a caneta em minha mão.

Talvez valesse a pena enviar, eu entendia um pouco o que ele estava passando e isso poderia ajudar.

Mas por outro lado, eu não sabia se ele leria ou se sentiria ofendido.

Coloquei uma playlist de músicas tristes para tocar com o objetivo de pensar melhor. Não que isso realmente funcionasse, mas minha consciência ficava mais limpa de tomar decisões em momentos que meu psicológico estava abalado, assim eu tinha a quem culpar: spotify.

Já estava na quinta música quando decidi que deixaria a carta em seu armário no dia seguinte. Completamente anônimo, não teria nenhuma forma de me contatar ou qualquer coisa que entregasse minha identidade.

Não era o tipo de carta na qual eu esperava uma resposta, eu apenas queria que ele lesse todas as palavras e percebesse que não estava sozinho, que valia a pena lutar um pouco mais.

Bom, começando realmente do início, vamos falar um pouco sobre o destinatário e o porque de eu ter me tornado seu remetente.

Seo Changbin é seu nome. Nós estudamos na mesma faculdade de música e coincidentemente temos as mesmas matérias, mas em anos diferentes. Eu apenas sabia disso pois seu nome não parava de ser citado um segundo sequer nos últimos dias.

Seo Changbin, o garoto que perdeu sua popularidade em segundos por simplesmente ser honesto consigo mesmo.

É claro que eu ja havia o visto antes, que atirasse a primeira pedra quem nunca havia tido uma queda pelo sorriso do moreno, mas as circustância eram outras. Eu gostava de admira-lo, no quesito aparência, mas nunca havia gostado do mesmo no quesito personalidade. Eu o achava fútil, não por ser popular, mas por sempre parecer estar fingindo ser algo que não é.

O ponto é, ele não estava mais fingindo.
Mas não por escolha própria.

A faculdade é um lugar no qual você apenas aparenta estar gostando. O curso pode ser bom, e você pode realmente estar realizando um sonho ao estar ali, mas o ambiente em si, as pessoas que ali frequentam, a pressão que jogam em cima de você, mostrando que se você não for o melhor alguém vai pegar o seu lugar, aquilo tudo era insuportável.

O psicológico de poucos sobrevive a tanta coisa, é difícil se manter focado e inspirado o suficiente.

O pior, é que quando você falha, sabe que a culpa vai se jogada toda pra cima de você. Afinal, você poderia ter se dedicado mais, você poderia ter se esforçado.

Isso mexe com a cabeça das pessoas, mas nunca pareceu mexer com a de Changbin.

Eu sempre o via com o mesmo sorriso no rosto, sempre acompanhado de alguém.

Nunca triste. Nunca sozinho.

Eu sempre via que ele dava seu melhor, seu nome antes era citado por inúmeros motivos, seja pelas notas, pelo talento, por sua voz, Seo Changbin era um nome que todos conheciam e admiravam de longe.

Mesmo eu, que não ia lá tão bem com a cara do garoto, admitia que meu objetivo era me tornar um rapper tão bom quanto ele. Eu o achava fútil, sim. Mas não quando se tratava de música. As letras que ele compunha eram sempre faladas, mesmo que eu nunca tenha tido a oportunidade de ler ou escutar alguma, sabia que o talento dele era usado de parâmetro por todos.

unhappy | changlix Onde histórias criam vida. Descubra agora