nove

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a primeira confissão

Sem dúvidas o resto do meu dia se resumiu em reler a carta definida como a última incansavelmente.

Eu queria lhe entregar logo e acabar com isso.

Mas ao mesmo tempo eu sabia que acabar com nossa única forma de contato também acabaria comigo.

E acabaria com ele.

Eu suportaria a dor.

Mas eu não sabia se ele suportaria.

E ver Changbin triste mais uma vez fazia com que meu coração sangrasse apenas com a imagem.

Eu me importava mais com ele do que comigo.

E foi por isso que rasguei a carta.
Fiz dela vários pequenos papéis.
E joguei todos fora.
Tentando jogar também o peso formado no meu coração.

Me sentei do lado do pequeno lixo, com alguns papéis ainda colados na minha mão suada devido ao nervosismo.

Ali, sozinho, no completo silêncio, me permiti chorar.

Meu peito doía enquanto as lágrimas rolavam pela minha face cansada.

Por que nada dava certo para mim?

Por que eu sempre sentia que fazia as escolhas erradas?

Por que eu nunca conseguia me sentir satisfeito?

Por que eu era uma falha tão grande?

Cruzei meus braços ao redor do meu joelho e deitei sobre eles, cansado demais para ficar erguido.

De olhos fechados me permiti pensar na voz angelical de Changbin pronunciando aquelas palavras tão bonitas para alguém tão feio e vazio.

Como ele poderia me dar o mundo se meu mundo pouco a pouco se tornou ele?

Sorri de forma triste por saber que eu estava ferrado.

Sorri melancolicamente ao comprovar que eu me importava mais com ele do que comigo.

Sorri ainda mais dolorosamente ao concluir que sem ele eu não seria o mesmo.

Eu sabia disso porque antes quando eu pensava em me matar não existia nada ou ninguém para me incentivar a viver.

Mas agora eu o tinha.

Mesmo que de forma incompleta.

Enxuguei fracamente as lágrimas que ainda caiam e me levantei, sentindo que meu corpo desejava o exato oposto.

Passei a caminhar lentamente pelo ambiente na tentativa de me concentrar em qualquer outra coisa.

Eu tentei; mas tudo trazia Changbin para minha mente.

Até mesmo minha cama que nunca teria o contato com ele o trazia para minha mente, pois aquele era o lugar em que eu mais me sentia seguro, e era esse o sentimento de estar perto de Changbin.

Talvez eu já soubesse a resposta das perguntas que mais rodeavam minha mente nas últimas semanas.

Talvez o fato de eu não parar de pensar nele já deixava óbvio.

Talvez o fato de eu me sentir mais vivo do que nunca apenas por saber que ele estava bem esfregasse em meu rosto todas as verdades.

Eu me sentia burro porque não havia mais como negar.
Por isso admiti para mim mesmo e para todos os monstros que rodeavam minha mente.

Eu estava apaixonado por Changbin.

Não so por ele, mas por tudo que o envolvia.

Porque ele era minha calmaria em todas as tempestades.

Porque ele não me conhecia mas se preocupou mais comigo do que qualquer outra pessoa.

Porque ele merecia o melhor do mundo e eu não pensaria duas vezes antes de buscar para ele.

Porque ele era ele, e isso era mais que suficiente.

Peguei meu bloco de papéis dessa vez mais determinado do que nunca.

Desta vez eu realmente escreveria a última das cartas.

Ele merecia alguém melhor e eu estava disposto a me tornar esse alguém.

Mais do que nunca eu quis ser alguém melhor, não só por ele mas também por mim mesmo, pois eu havia chegado ao ponto de não conseguir conviver em harmonia com minha própria mente e isso machucava mais do que qualquer outra coisa, porque era uma dor que eu não conseguia me livrar.

Era uma dor acorrentada a mim.

Uma dor que me perseguia para todos os lugares.

Porque eu era o motivo da minha própria dor.

Eu estava disposto a esquecer meus fantasmas do passado.

Eu estava disposto a esquecer meus pais e o destino que ambos escolheram.

Eu estava disposto a viver.

Por Changbin.

Por nós.

Por isso segurei minha caneta uma última vez e escrevi apressadamente a decisão mais rapidamente tomada da minha vida.

Dessa vez não foi nenhuma carta.

Não coloquei no papel nenhuma das minhas crises.

Mas foi o papel com maior significado até agora.

Porque ali eu decidi mudar.

Porque ali eu esqueci de todas as minhas paranóias e escolhi ser feliz, mesmo que por um pequeno momento.

Eu sabia que poderia me arrepender, sabia que tudo poderia dar errado.

Mas decidi fazer daquela minha tentativa final.

Me encontre no parque do centro às 17hrs no dia 12.

unhappy | changlix Onde histórias criam vida. Descubra agora