02. bourgeois

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angel

eu até gostava do uniforme escolar, mas era chato todas as alunas ter que usar a mesma coisa, sempre me fez pensar no quanto queriam nos ver como apenas uma massa igual de gente.

no entanto, quando as meias calças começavam a ficar descendo e a gravata a sufocar, indicava que o tempo de usá-las tinha extrapolado.

era para eu estar em casa a essa hora, mas prefiro pegar o caminho mais longo, andar é um bom calmante de ter de aguentar o falatório da mamãe toda vez que chego em casa.

e o teatro é comprovado mais uma vez.

"você é muito lerda."

ela solta assim que entro pela porta dos fundos, ela estaria na cozinha de qualquer modo. ter que dispensar a empregada talvez fosse o que mais a envergonhou na vida toda.

passo por ela, mas não a respondo, ela sabe que sempre chego bem depois e continua a usar todos os adjetivos referente a minha lerdeza.

subo para o meu quarto e coloco água na metade da banheira, tirando o uniforme enquanto isso.

jogo meu cabelo para a borda para não molhar, e quando já estou lotada de sabão no corpo, minha mãe entra com roupas limpas nas mãos.

"precisa ir pegar mais água, para que eu faça o jantar.

assinto, abrangendo a água até meu pescoço, e depois saindo de lá, me secando e colocando um vestido branco, com mangas e um laço na esquerda.

a delicadeza toda disso não combinava com as botas pretas que eu era obrigada a usar. mamãe imaginava que eu seria um alvo fácil para um animal na floresta, deve ser porque eu nunca lhe contei sobre a cobra que peguei nos braços e carreguei para um local seguro.

"não vá pela parte fechada da floresta, e volte logo."

a ditadora ordenava me empurrando pelas costas, até chegar ao estábulo e me entregar um balde.

"okay, mamãe."

ela me segura ao lado do rosto, prendendo alguns fios de cabelo nos dedos, e me beija na testa.

enquanto caminho para longe, é impossível deixar de pensar que ela me protege para seu próprio bem. não acho que me odeia, mas papai certamente tinha um sentimento verdadeiro por mim.

ele deixou isso muito claro na última vez.

nem mesmo suas moedas trocados com um boticário conseguiram enganar mamãe daquela vez.

as cartas no meio das roupas sujas somente comprovaram o que ela já dava indícios de pensamento.

eu meio que sou sua garantia, um pote de ouro para um futuro promissor, pelo menos para ela.

há uma lebre correndo a minha volta, mas ela sai fora quando eu estou prestes a entrar na floresta.

o caminho ao lado é pitoresco, e apesar de eu amar o sol, reconheço que prefiro a sombra das árvores altas e as flores rasteiras.

nenhum bichinho intervém no meu espaço, o que me deixa um pouco triste, mas mudo isso cantarolando uma música da qual eu me tranquilizo para dormir, isso quando minha mãe não aparece e tira a agulha do disco.

há pássaros cantando também, o meu som se mistura com os deles, e tiro os olhos do alto para enxergar a rota certa do caminho.

paro por uns instantes, é o reflexo de um barulho diferente. volto alguns passos e vejo, ao longe, um cavalo grande de costas, cavalgando para longe com homem em suas costas.

não sei porque um rapaz da burguesia estaria por esses lados, mas me mantenho ao lado de uma árvore, observando.

a curiosidade é um dos meus pontos negativos, mamãe começava a ensinar que isso não era bom para seus planos.

ignorei, não queria pensar mais nisso, pelo menos não enquanto me sentia tão bem, o que era mais comum quando eu estava sozinha.

percebo que estou saindo da floresta pela falta de grama e terra debaixo das botas, e sigo para o poço, pensando até em voltar logo mesmo, para poder ter o som do vinil nos ouvidos antes de dormir.

•••

acheeei a garota jzkzkkd ela é perfeita né? pse nem o nome sei mas ok.

dei uma enrolada pq troquei os caps sem querer, por isso o próximo vem logo sz

obrigada pelas 100 leituras a- 💓💓💓

angel ۩ hes {concluído}Onde histórias criam vida. Descubra agora