Capítulo 1 - Telefonemas

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Eram cerca de 8:40 quando escutei o som da chuva batendo contra a janela do apartamento. Levantei relutante de entre as cobertas. Hoje é o funeral do meu pai e eu estava muito atrasado. Olhei-me para o espelho do guarda-roupa, "definitivamente minha mãe vai me matar por eu não ter feito a barba..." Pensei. Vesti o melhor terno que tinha e quando estava prestes a pegar a gravata, o telefone toca.

- Peter! Cadê você?!

- Alô?

- Peter, o Sr. Buckingham está na sala de reuniões te esperando faz dez minutos!

- Droga! Esqueci de remarcar a porra da reunião. Manda o Edgar tomar conta dele que eu tenho que resolver uns assuntos pessoais.

- De novo com essas "mulheres" Peter?! - sussurrou.

- Não, Alice, é funeral do meu pai. E deixa as garotas fora dos nossos compromissos, ouviu? - brinquei.

- Hahaha, muito engraçado. - ironizou. - Divirta-se no funeral.

- Há! E como, adoro ver parentes que não suporto.

Escutei Alice rir do outro lado da linha.

- Tá, segura as pontas aí, já estou indo.

Desligo o telefone a tempo de Allan aparecer como mágica na cozinha.

- Ainda de pijama Peter?! - zombou, ele estava com uma roupa colorida demais para um funeral.

- E onde você acha que vai com essa roupa de palhaço?

- É o meu terno de "Foda-se, não conheço ninguém aqui". E não esqueça que temos uma festa depois.

- É...- acabei me esquecendo da festa no iate. - Olha, Allan, não vai dar para ir... Tenho uns assuntos na empresa para resolver...

- Manda o Edgar fazer isso! Vamo lá! Quando foi a última vez que você foi numa festa?!

- Quando eu me formei. Em arqueologia.

- Você fez arqueologia?! Por que trabalha como advogado?!

- Eu não trabalho como advogado, eu só mantenho a empresa da família. - respondi revirando os olhos.

- Ahn...- Allan fez cara de cachorro pidão.

- Menos, Allan, Menos.

- Você não era assim tão sério. O quê aconteceu?

- A vida é uma desgraça... Isso aconteceu.

Não sei como, mas o funeral conseguiu ser terrível. Meu pai se separou da minha mãe depois que descobriu que ela traia ele com o vizinho, acabou criando outra família. Essa família, sabia da história da traição e jogava na cara da minha mãe toda a situação. O clima tava tenso, não triste. Um queria, internamente, voar no pescoço do outro. Todos ficaram em silêncio. Eu e Allan apenas comiamos a comida e esperava alguém matar alguém.

Fui embora antes de terminar, consegui dar um perdido em Allan e fui direto para qualquer parque com árvores e coisas normais. Começou a chover e eu estava sem guarda-chuva. Apressei o passo para o edifício da empresa. Quase em frente de suas portas de vidro, esbarrei com um homem na rua. Ele fechou a cara.

- Qual foi babaca, não me viu não?! - reclamou com o sotaque escocês carregado.

- Desculpe, estou atrasado.

O homem continuou seu caminho atravessando a rua movimentada. Entrei no saguão e corri para o elevador. Senti o telefone vibrar no meu bolso.

- Alô?

Organização Secreta De Glasgow: LDC Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora