V i n t e e s e t e

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Eu costumava odiar a dor

com a mesma fúria que se odeia a morte

a falta de amor

e o sangue que jorra do corte

Com o tempo, eu aprendi a suportá-la

como se ela fosse o zumbido chato de uma mosca

"deixe que doa"

ouvi você dizer

Mais tarde

eu aprendi a conviver com a dor

educadamente

como se ela fosse uma companhia desagradável

ou uma visita indesejada

"não permita que ela saia"

ouvi você dizer

Depois

consternada

eu percebi que até a amava

ela foi como uma mãe

que me dava colo em noites solitárias

um veneno que não mata

mas paradoxalmente

me dá forças pra permanecer viva

Hoje, eu a venero

ela é o meu próprio deus

o sol ao redor do qual eu orbito

e eu simplesmente preciso

de doses homeopáticas dessa dor

todos os dias

todos os segundos

sabe o porquê?

é porque em cada dose de dor

há uma gota de você

Estrelas MortasOnde histórias criam vida. Descubra agora