Eu costumava odiar a dor
com a mesma fúria que se odeia a morte
a falta de amor
e o sangue que jorra do corte
Com o tempo, eu aprendi a suportá-la
como se ela fosse o zumbido chato de uma mosca
"deixe que doa"
ouvi você dizer
Mais tarde
eu aprendi a conviver com a dor
educadamente
como se ela fosse uma companhia desagradável
ou uma visita indesejada
"não permita que ela saia"
ouvi você dizer
Depois
consternada
eu percebi que até a amava
ela foi como uma mãe
que me dava colo em noites solitárias
um veneno que não mata
mas paradoxalmente
me dá forças pra permanecer viva
Hoje, eu a venero
ela é o meu próprio deus
o sol ao redor do qual eu orbito
e eu simplesmente preciso
de doses homeopáticas dessa dor
todos os dias
todos os segundos
sabe o porquê?
é porque em cada dose de dor
há uma gota de você
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Estrelas Mortas
PoetrySe até mesmo a morte de uma estrela foi capaz de gerar a vida e tudo o que conhecemos e amamos, quem sabe dessa dor não sairá algo belo?