Foi há mais de dez anos
você se sentava na cadeira do quintal
e eu, em seu colo
ouvia todas as suas histórias
feito sonhos pendurados num varal
para nunca secarem
jamais esmorecerem
Suas palavras tinham sabor de inocência
e tempero de infância
faziam reluzir o brilho contido
em minhas pupilas dilatadas de criança
Você prometeu que seria rei
e eu, princesa
nós teríamos o nosso próprio arranha céu
nossa fortaleza
despertando inveja em qualquer um que ousasse olhar
Amanhã farão doze anos
lembranças daquela época são como água turva
impossível de enxergar além da superfície escura
mas você
é uma das raras memórias que a poeira do tempo não varreu pra longe de mim
Eu ainda me lembro de tudo
de como você me ensinou a imaginar
me fazendo desejar jamais crescer
e dos seus malditos cigarros
que eu insistia em tentar esconder
Nós criamos um mundo só nosso
uma Terra do Nunca particular
onde eu era a única criança
que nela poderia habitar
Os passarinhos cantavam
confinados em suas gaiolas
a realidade
enfim,
bateu à nossa porta
e a felicidade nunca mais voltou a escapar dos seus lábios risonhos
você me ensinou a derradeira lição
a morte é uma fábrica de destruição de sonhos
- Para o meu avô
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Estrelas Mortas
PoetrySe até mesmo a morte de uma estrela foi capaz de gerar a vida e tudo o que conhecemos e amamos, quem sabe dessa dor não sairá algo belo?