Q u a r e n t a e t r ê s

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Foi há mais de dez anos

você se sentava na cadeira do quintal

e eu, em seu colo

ouvia todas as suas histórias

feito sonhos pendurados num varal

para nunca secarem

jamais esmorecerem

Suas palavras tinham sabor de inocência

e tempero de infância

faziam reluzir o brilho contido

em minhas pupilas dilatadas de criança

Você prometeu que seria rei

e eu, princesa

nós teríamos o nosso próprio arranha céu

nossa fortaleza

despertando inveja em qualquer um que ousasse olhar

Amanhã farão doze anos

lembranças daquela época são como água turva

impossível de enxergar além da superfície escura

mas você

é uma das raras memórias que a poeira do tempo não varreu pra longe de mim

Eu ainda me lembro de tudo

de como você me ensinou a imaginar

me fazendo desejar jamais crescer

e dos seus malditos cigarros

que eu insistia em tentar esconder

Nós criamos um mundo só nosso

uma Terra do Nunca particular

onde eu era a única criança

que nela poderia habitar

Os passarinhos cantavam

confinados em suas gaiolas

a realidade

enfim,

bateu à nossa porta

e a felicidade nunca mais voltou a escapar dos seus lábios risonhos

você me ensinou a derradeira lição

a morte é uma fábrica de destruição de sonhos

- Para o meu avô

Estrelas MortasOnde histórias criam vida. Descubra agora