Nada é mais triste do que a verdade. Que verdade?
Essa daí, ou daqui. A genuína verdade da existência, a qual somente os imaculados abortos se veem em ocasião de escapar. Todos gostariam, se possível, de colocar alguma cor, adereço ou pingente nesta realidade fria e dura. Por isso existem os livros, a música, as peças... A arte e outras manifestações até funcionam por um tempo e apenas para alguns. Mas infelizmente as manhãs nascem e a subsistência se revela crua, limpa... Ou suja. Moldando-nos conforme determina o acaso, fazendo-nos escravos das circunstâncias, diminuindo nosso leque de opções e determinando quem nós somos. Além da clara obrigação que é o viver, é preciso, por puro instinto simplesmente, sobreviver. E diversas são as encrencas as quais nos submetemos, ora pela ocasião, ora pelas necessidades.
Imaginem vocês então, o que dizer dos marginalizados. Que chance tem os excluídos? Tratados como escoria, ralé. Deixados de lado, invisíveis ao nosso campo de visão. Podemos até descartá-los, ignorá-los, no entanto, estarão sempre lá, não se dissolvem como uma ideia, ou nuvem. E por mais que não queiramos, as vidas dos indigentes se cruzam com nossas vidas, obrigando-nos a confrontar o imbatível. Como pelejar com quem não tem nada a perder? Como ofender os Sem-Honra? Vejamos então por outro lado: Digamos que as pessoas, todas elas, podem ser convertidas dos seus "maus caminhos", com a alegação de serem salvas. Do que? Do hoje, do póstumo, de si mesmos... O que teríamos nós ou quem quer que seja a lhes oferecer. A nos oferecer. Eis que surge... A Fé. O simples fundamento das coisas que não se vêem, mas que se esperam. Esperanças vãs ou não no incompreensível, no inatingível, no inimaginável, no imutável... Crenças no distante; Créditos aos contos; Às fábulas; Mas segundo dizem, existem as provas: os milagres. E estes são a ancora, o apoio que lhes sustentam a confiar.
Então subamos nós neste altíssimo monte, fechemos os olhos e saltemos. Se por ventura as coisas derem certo, atribuiremos a conquista a quem nos bem aprouver, demo-nos os louros a quem quisermos. Se porventura derem errado, acusemos os demais, afinal são sempre eles os culpados, não é verdade? Nunca nós, ah, isso nunca! Todavia, eu não vos deixarei enganar, pois lá no fundo de suas almas mesquinhas, vós sabeis a verdade!!
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O Rei das Docas
Historical FictionNo fim da Idade Média, um bando de garotos luta contra as injustiças e crueldades de um mundo inóspito, sombrio e inclemente. Num cenário repleto de piratas, nobres e religiosos inescrupulosos, bruxas e maldições, onde quem se descuidar é destinado...