O Rei das Docas

Capítulo V Duque

Em três de agosto 1492, o genovês Cristovão Colombo partiu com sua esquadra da Espanha. Tendo o apoio do rei e da Igreja que acreditavam que ele chegaria às índias por outra rota marítima. Colombo fez sua saída do município costeiro Palos de La Frontera, situado na província de Huelva, na comunidade autônoma de Andaluzia.

Passado quase um século, em 1586 o império espanhol colhia expressivamente os frutos das descobertas marítimas de Colombo e de outros conquistadores. Este era o início da chamada Idade do Ouro. O império espanhol, expandido por Carlos V, era agora comandado por seu filho Filipe II. Que, apesar das guerras, vivia um momento sublime, dada as riquezas provindas de colônias do novo mundo. Navios chegavam a todo instante abastecidos com ouro, prata e outros metais preciosos, além de toda madeira, grãos e variadas novidades trazidas de terras pouco exploradas. Nesta época, o comércio criara os primeiros burgueses com poder de decisão, a euforia começara a gerar conflitos internos entre os nobres que queriam sua parte nas terras do novo continente. Os senhores feudais já perdiam a concorrência para os produtos vindos do mar, o que os irritava. Com o crescimento da burguesia, os nobres precisavam urgentemente de outras fontes de rendimento, para manutenção de seu poder.

Duque de Medina e Sidonia, D. Alonso Perez era um nobre muito conceituado no Império Espanhol. Havia sido enviado para diversas missões a serviço do rei, liderando batalhas e até mesmo governando terras invadidas. Tinha teias tecidas em diversos estados e sua influência excedia a de muitos, demonstrava também formas nada dignas de conquista de poder. Essas eram as principais características deste fidalgo. Porém, havia algum tempo, seus métodos e sua administração estavam sendo questionados e postos à prova pela coroa. Tudo por conta de uma derrota sofrida contra os turcos Otomanos, o que causou grande prejuízo à monarquia. O duque precisava retomar o status perdido, e não ia medir esforços para isso.

- Deixe-me liderá-los, D. Manolo. Seria a melhor decisão a tomar. Vossa alteza conseguirá o que quer e eu igualmente. ­­– proferiu com educação. – Creio que sabe. Aquelas terras não são importantes para mim.

- Aquelas terras são tão boas para vossa alteza, como para o resto da corte, meu caro, não tente me enganar. Todos estão trabalhando muito, a fim de alcançar graça aos olhos de sua majestade. E quem sabe ser recompensado.

- Meu prezado Manolo, vós não entendeis. Estas disputas de nada me interessam. Sabeis que eu não preciso de mais riquezas, olhai ao seu redor, possuo mais do que posso usufruir. Existem objetivos maiores do que adquirir propriedades e dinheiro. Alguns indivíduos atingem estágios de iluminação diferentes dos demais, e quando alcançamos tal grau de evolução, enxergamos tudo de modo diferente. Inclusive os nossos ideais são transformados por essa nova visão. Luto por uma causa e arriscaria tudo para conseguir o que quero. Nem todos estão dispostos a perder por conta de um sonho. Este jogo de poder é muito traiçoeiro, será que vale mesmo a pena se arriscar? Temo que não estejais preparados para o caso de que situações ruins ocorram. Vossas ações inclusive já despertaram a ira de pessoas importantes – Verteu, deixando um pouco de dureza transparecer na voz.

- Desculpe-me, D. Alonso, mas isso está soando estranhamente intimidador. Se eu não o conhecesse, diria que vossa alteza está me ameaçando.

- Não meu caro, longe disto. Tenho muito carinho por vossa alteza e vossa família. Não seria capaz de tal sordidez. Apenas me preocupo com vossa segurança e de vossos filhos.

- Pois não precisa se preocupar, Alonso! – A voz de D. Manolo subiu um tom ao ouvir falar dos filhos. – Sou capaz de cuidar da minha família, bem como dos meus negócios. Preocupo-me com isso além do que vossa alteza imagina; aliás, acho que vossa alteza deveria deixar os negócios dos outros em paz e se atentar mais a sua imagem, que pelo que sabe, não anda assim tão boa. – D. Manolo levantou-se da cadeira.