29- Cuidados, apenas

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Zack

Eu gosto de uma garota, minha melhor amiga. Tudo nela é lindo, tanto por dentro quanto por fora. Acho que o que mais me chama a atenção é quando ela cuida das pessoas, principalmente de mim. Se fosse eu, não teria paciência. Tenho certeza de que o sentimento é recíproco, o que deveria deixar-me feliz, mas acredito não ser uma boa ideia.

Eu não sou o cara ideal para nenhuma mulher no mundo. Já traí enquanto namorava, já fugi de casa cinco vezes, tive aventuras que hoje descobri que fazem mal para minha saúde, meus pais brigam todo o tempo quando sequer estão em casa e presentes em minha vida. Nesse quesito, eu e Lolla somos muito parecidos, fazendo com que eu não seja o único a ter que lidar com isso.

Eu bebo.

Ela não.

Eu vou em festas.

Ela prefere ficar em casa com o bom e velho netflix.

Eu fico com qualquer uma.

Ela seleciona.

Sou frio no quesito amor.

Ela é toda amorosa e aberta a relacionamentos.

A verdade é que nunca me ensinaram a amar.

Ela conhece o amor e o espalha por aí.

Meus pais estão juntos devido um casamento arranjado pelas famílias deles. Casamento que ocorreu para que as heranças e padrões de vida de ambos permanecessem intactos. Não há amor, apenas aprenderam a suportar um ao outro com o tempo.

Ah, Ayla.

Às vezes, esqueço que você repudia tudo aquilo que vem fácil, pois vai fácil. Conteúdo, sensações, sentimentos, aventuras novas. São esses seus objetivos.

Enquanto você está em casa, quentinha enrolada nos lençóis, eu vago pelas ruas procurando por algo para fazer, companhias de uma noite, pessoas erradas, enquanto que eu sei que só tu é a certa. Fico com raiva quando ganho broncas suas por atitudes erradas minhas, mas é porque odeio admitir meus erros. Meu ego é muito grande. Tenho pavio curto. Sei que isso só me torna violento, porém, é só meu mecanismo de defesa que criei para ninguém passar por cima de mim.

Meu pai se importa mais com suas construções maciças de ferro e tinta de trinta-quarenta andares do que com seu próprio filho. Ele acha que o dinheiro compra e resolve tudo.

Quando minha irmã de oito anos desapareceu, meu mundo desabou. Fazíamos tudo juntos e eu cuidava mais dela do que a própria babá. Zoe amava rosa, purpurina, desenhos da Disney, princesas, castelos e bichinhos de pelúcia, principalmente as joaninhas. Até hoje, não entendo direito o que aconteceu e já faz cinco anos. Os policiais desistiram depois de tentar absolutamente todos os caminhos possíveis para encontra-la, porém, sem sucesso. O caso de desaparecimento foi encerrado e arquivado faz dois anos. Eu nunca parei de procurar. Fiz um cartaz com todas as informações dela e coloquei a foto que mais bem a definia. Coroa de plástico, roupinha de princesa da Bela Adormecida, sapatinhos cor de rosa e glitter nas bochechas, acompanhado do sorrisão banguelo que eu era tão apaixonado. Espalhei centenas pelo bairro e coloquei um anúncio na internet. Não adiantou absolutamente nada, aumentei a quantia da recompensa em troca de qualquer informação, nada parecia sair do lugar, o que me deixava cada vez mais desesperado e com menos forças para continuar tentando. 

Desde que não a tenho mais, mudei praticamente tudo. Antes, meu quarto era verde claro e todo mobiliado com móveis em tons claros e brancos. Agora, a parede tornou-se cinza chumbo com móveis pretos. Comprei uma televisão grande, um x-box, muitos jogos, porta-retratos de fotos nossas e pôsteres na parede, sem contar meu repentino interesse por muay tai. Tranquei todos os armários, mudei o corte de cabelo, furei um piercing no lábio e comecei a malhar com frequência.

Into YouOnde histórias criam vida. Descubra agora