CAPÍTULO II - O dia em que conheci Mariana Simões.

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Acordar cedo, e feliz de manhã, não era bem meu forte. Mas algo de errado, não estava certo, eu estava diferente, mas pelo o quê?

- Ei Jorge, acordou cedo. Que milagre é esse? Você está bem? - Disse Isabella, minha irmã, tocando em minha testa tentando sentir minha temperatura.

- Ha ha ha. Que engraçado. - Zombei.

- Toma Jorge, preparei seu café da manhã. - Disse minha mãe me dando uma sacola de papel.

O dia estava lindo, de novo. Talvez seja porque estava em março, mas não tem nada haver. Parece que naquele dia estava tudo ao meu favor.

- Ei Jorge, tiramos nota máxima no trabalho de química orgânica. - Gritou Matheus sorrindo.

Eu era péssimo em química. Se for parar para pensar, eu sei apenas a forma da água, que é CO2. Mas as coisas foram pacificas o dia inteiro. Uma linda quinta-feira, esperei ela debaixo das arvores, ao lado da escola, sentado numa calçada. As árvores que uivavam os ventos suaves, e que traziam calma ao local. Por vinte minutos esperando ela chegar, e enquanto não chegava, eu lia um livro de Machado de Assis. Na página 86 do livro, Ressurreição, dizia: "Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar". Nem sei porque estava lendo um livro, eu nunca consegui terminar um.

Ela estava vindo de longe, me olhou com um olhar alegre, um sorriso estampado no rosto, com uma simplicidade estupenda, que exalava amor. Foi a primeira vez que alguém me olhou daquele jeito, tão, sincero.

- Você veio mesmo? Cara você é louco. - Disse Mariana com uma breve risada.

- Eu disse que viria. Não disse? - Perguntei com um tom de voz alegre me levantando de onde eu estava sentado.

- Eu achei que você estava brincando. - Mariana riu.

- Eu não estava! - Exclamei com uma gargalhada.

- E então, vamos? - Disse ela pegando em minha mão, começamos a andar rápido, como se ela estivesse atrasada para algo. Eu como sou uma pessoa que tem preguiça até de andar, perguntei: - Por que estamos andando tão rápido?

Mariana olhou para mim brevemente e disse: - Já não irei pegar o ônibus, então vamos andar logo, e essas pessoas do colégio falam demais.

Era quase meio-dia, e o dia estava muito quente, tão quente que quase não dava para respirar. Mas continuávamos a andar, e seguindo o caminho conversando.

- Onde exatamente você mora? - Disse eu com uma preguiça de andar.

- Um pouquinho longe. - Disse Mariana rindo baixo.

- Você anda rápido assim mesmo, ou quer chegar em casa logo? - Perguntei rindo.

- Não sei (risos). - Respondeu Mariana indecisa.

Seguimos a rua, com pouca movimentação, e com um sol escaldante de trinta e cinco graus sobre nossas cabeças. Subimos uma estradinha, que levava à um beco, e que dividia um bairro do outro. Descemos a ribanceira que divide os bairros, onde tinha uma grande arvore, com uma sombra tão boa, que dava vontade de colocar uma rede e dormir. Seguimos a avenida que era ligada ao beco. Eu já estava quase sem chão, não por andar muito num calor infernal, mas de olhar aquele olhar lindo que ela tinha. Eu deixei de olhar ela como uma conhecida, como uma amiga, e passei a querer algo mais.

Eu não fazia ideia que minha vida poderia mudar naquele dia, naquela hora, e por aquela garota. Talvez eu seja aquele tipo que pessoa que foi feita para ser idiota. Se eu não fazer merda, não sou eu, merda é meu sobrenome, Jorge Merda. Eu tomei coragem e fiquei na frente dela, olhei dentro de seus olhos castanhos claros, arrumei seu cabelo para trás, e a beijei, sem me importar com o suor que corria entre nossas faces. Eu abri meus olhos, e olhei dentro dos olhos dela de novamente, e vi que, as coisas que eu estava sentindo ali, só aumentavam cada vez mais. Eu queria muito entender o que era aquilo, então fui assimilando tudo o que eu já tinha conhecido em minha vida. Continuamos a andar na avenida pouco movimentada, até que chegamos na esquina da rua em que ela morava. Uma rua com nenhum movimento, era um total deserto, que acho que seria bem possível observar uma bola de feno atravessando a rua. Nessa esquina tinha uma casa verde, do portão branco, e uma lixeira branca.

- Então, a rua da minha casa é aqui. - Disse Mariana parando de andar.

- Da escola até aqui, é um pouco longe (risos). - Disse eu já cansado.

- Eu falei que era um pouquinho longe, por isso sempre venho de ônibus. - Disse Mariana com uma risada.

- Quer que eu te leve na frente de sua casa? - Disse eu na intenção de ficar mais tempo com ela.

- Adoraria, mas minha mãe está em casa. Provavelmente, em frente de casa. - Respondeu Mariana.

- Entendi. Estou morrendo de fome. Devo ir. - Disse eu com muita fome mesmo.

- É, eu também. - Concordou Mariana.

Me aproximei dela para me despedir com um abraço, mas não deu, minha boca estava querendo a dela, e então a beijei encostando ela sobre a parede. Ela cedeu.

- Até mais Mariana. - Despedi-me sem graça.

- Até logo, Jorge. - Despediu-se Mariana.

Não sei porque sai dali tão feliz, mas o dia continuava perfeito. Era apenas mais uma garota que eu beijava, não tinha porquê eu estar daquele jeito. E enquanto eu andava, eu pensava nela, talvez pela primeira vez, eu estava entendendo o que talvez poderia ser o amor que tantas pessoas falam. Igual os que sempre vi nos filmes, será que minha vida está sendo um filme? Como será o final dele? Eram perguntas que encabulavam minha mente. E ao chegar em casa, percebi que já era tarde para pensar mais no que tinha acontecido, eu apenas cheguei na conclusão de que eu queria aquele momento de novo. Mas não só pelo beijo, mas sim, por ela. Eu queria muito acreditar que aquilo foi apenas mais uma garota que eu ficava, mas não sei porque minha boca suplicava a boca dela, eu queria muito colocar em minha cabeça, que aquilo era normal, que aquilo que acontece nos filmes, não iria ser verdade. Então eu decidi me manter afastado, não totalmente, mas não ficar no pé dela. E com essa amizade distante, ajudou eu a esquecer que aquele momento, foi apenas um beijo de uma garota qualquer que eu beijei. E por mais que passássemos tempo sem conversar, acabávamos voltado um para o outro. Era uma amiga, por mais que eu não quisesse.

- Ei Jorge, gostei do último desenho que postou. - Disse Mariana por mensagens.

- Obrigado Mariana. Me diga que os olhos da capa do seu Facebook, são os seus. - Disse impressionando-me.

- Sim, são meus. Por que? - Perguntou Mariana rindo.

- Não sei, nunca tinha reparado. - Respondi ironicamente.

- Entendi. Mas são meus. - Respondeu ela rindo.

Eu tinha que ser irônico com aquilo. Fiquei conversando com ela, até cair no sono. E isso sempre acontecia. Era inevitável. E a rotina com ela, não era assim tão ruim, já que eu odiava rotinas. Chegava em casa depois da aula e ia conversar com ela.

Ventos MitigantesOnde histórias criam vida. Descubra agora