CAPÍTULO VI - Um dia depois de ontem.

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Acordei ao som de músicas na casa de João, enquanto eu não levantava, fiquei ali vegetando, deitado. Fui o último a acordar, tomei um café, peguei minhas coisas, e fui para casa. Quando cheguei, coloquei meu celular para carregar, e liguei o computador para tentar sair de um tédio em pleno domingo. Aquela festa de família que acontece todo domingo, não estava me ajudando com meu bendito tedio, nem minhas músicas, nada, e nem ninguém me animavam. Naquela tarde tediosa, Felipe, um amigo, me ligou, para avisar que iria a um clube, para aproveitar aquele dia ensolarado tomando banho de piscina.
- E aí cara, vamos para o clube hoje? Eu pago! – Disse Felipe por ligação muito alegre.
- Acho que não vou. Não estou muito bem para isso. – Respondi Felipe com um ar de desinteresse.
Uma parte de mim dizia que eu deveria ir, e apenas menti para não ser chato demais, outra parte dizia para ficar em casa. Mas, por que? Se o dia estava tão chato, que nem conseguia dormir para a hora passar mais rápido. Eu não conseguia nem comer. Nas redes sociais eu nunca faço nada, além de ver o feed de notícias, e jogar alguns jogos, mas nada tira aquele maldito tedio. Jogar videogame, de novo? Não. Eu tentei. Eu sempre tirava meu tedio conversando com a Mariana, mas ela não estava online. Escutando músicas a horas, ela me chama, do nada.
- Jorge, o que você está fazendo? – Perguntou diretamente.
- No tédio de domingo? Nada como sempre. Por que? – Perguntei muito curioso.
- Vem aqui em casa. Meus pais saíram, e vão demorar um pouco para voltarem.
E de novo ela foi direta com suas palavras, eu apenas aceitei. Sem perguntar o porquê, talvez nem tinha porquê perguntar o porquê. Naquele calor, eu pensei em algo mais suave com a roupa, separei-as de um lado, tomei aquele banho, e apenas fui. Naquele sol escaldante de trinta e oito graus onde meus olhos lacrimejavam, e as lagrimas evaporavam.
Chegando em sua casa, eu a vi, tão, natural, e tão ela. De todas as vezes que eu à via e me apaixonava todo dia, eu me apaixonei por aquele mínimo detalhe que eu nunca tinha visto, sua naturalidade, e é aquilo que mudou um domingo tedioso, para um domingo esplendidamente incrível para mim.
- Oi cara. – Cumprimentou ela me dando um selinho. – Entre por favor. – Disse Mariana educadamente.
- Tudo bem. – Sem entender mais nada. Mas eu estava nas nuvens.
Eu nem sabia o que falar para ela naquelas condições que eu estava, nervoso, sem saber o que fazer. Era um apavoro dentro de mim. Eu apenas a olhava, e tentei puxar assunto.
- Hoje está um dia muito chato – disse eu com preguiça até de falar.
- É. Realmente. Eu estava escutando Skillet, mas não adiantou muita coisa. – Disse ela com mais preguiça ainda.
- Que vida. – Suspirei.
- Pois é.
- Ainda sobrou bolo da festa de ontem? – Perguntei tentando tirar a gente do tédio.
- Sim! Você vai querer? – Perguntou Mariana se levantando.
- Claro. – Me levantei também.
Primeira vez na casa dela, a sós, eu ainda confuso com aquilo tudo não sabia o que fazer. Mas como o sonho é meu, eu faço o que eu quiser. Puxei Mariana ao meu lado, e a encostei na parede, olhei em seus olhos novamente, como tinha feito a primeira vez que a vi, mas dessa vez parecia diferente, foi o sonho mais real. Pude ver seus olhos brilharem naquela hora, minha boca formigava naquele momento, como se ela pedisse algo, e ela pedia sua boca. Eu a beijei, como se não fosse a beijar de novo, nunca mais, eu não queria acordar daquele sonho. Levei ela para o quarto, eu a deitei em sua cama, e o desejo de tirar sua roupa ali, era tão grande, mas ela tinha medo, percebi em seus olhos, mas não sei se eu fui frouxo naquela hora, mas apenas respeitei, e não me arrependi por aquilo. Sua mente não queria, eu entendi, eu fiz o que ela queria. Talvez.
- Meus pais foram para o interior, e eu queria ficar em casa, eles deixaram – disse Mariana com uma risada.
- Por isso me chamou? – Perguntei com um sorriso.
- Também. Quer dar uma volta? – Perguntou ela abrindo os olhos.
- É. Eu quero. E obrigado pelo bolo. – Agradeci enquanto saíamos da cozinha.
Dar uma volta num sol de trinta e outro graus, isso sim é incrível. E eu ainda achando que era um sonho aquilo, e não querendo acordar.
- Como está sua irmãzinha? – Perguntei tentando puxar assunto.
- Está bem. Ela amou o aniversário, minha mãe caprichou na decoração. Ela gostou dos presentes.  – Respondeu rapidamente.
- É, eu percebi. Ela estava bem animada ontem. – Disse eu com um sorriso.
Nós dois sem ideias do que fazer, conversávamos de qualquer coisa, tipo, qualquer coisa mesmo.
- Então, e você gostou do bolo?  – Disse eu com um sorriso.
- Sim, estava ótimo. Isso é você puxando assunto? Se quiser pode levar um pedaço. –  Mariana soltou uma gargalhada perguntando.
- É, eu tento. É difícil quando não se tem nada a dizer. – Eu com aquela risada de sempre.
- Realmente. Tem alguma ideia de onde podemos ir? – Perguntou ela.
- Você que me chamou aqui. Mas tem um lugar que eu queria conhecer. O morrinho. – Disse olhando fixamente nos olhos dela.
- Tudo bem, já estamos perto de lá. – Falou apressando o passo.
Eu tive que tentar acompanha-la, pois ela é rápida para andar. A rua estava deserta aquele dia, todas as pessoas estavam dentro de casa, curtindo seu belo domingo chato, que para mim era tedioso. Mas com a Mariana, estava tão, impossível. Chegando ao morro que eu tanto queria conhecer, procuramos um lugar para sentar. Eu ainda não estava acreditando que era aquilo mesmo. O morrinho, tinha uma paisagem para a cidade, para a pequena floresta que tinha, um contêiner abandonado.   
- Aqui é lindo. Só uma arrumadinha, e fica perfeito. – Disse eu impressionado.
- É, realmente. Fico imaginando como seria o Réveillon aqui. – Disse Mariana.
Como o sonho era meu, eu poderia fazer que o que quiser né. Então a beijei de novo, e dentro de mim o desejo de falar para ela o quanto eu a amava, mas como todo sonho bom acaba em pesadelo, eu fiquei com medo. Mas certeza que ela desconfiava. Depois de uns trinta minutos ali conversando, percebi que não era sonho, que eu estava mais acordado do que nunca, eu apenas nunca tinha sentindo aquilo. Era novo para mim, eu nem sabia o que fazer mais com aquilo que eu sentia, é como se quisesse sair de dentro de mim, e descontar tudo nela aquilo que eu sentia. Foi a primeira vez que eu achei que me apaixonei.
- Então, vamos. Minha mãe está perto de chegar. – Disse ela já se levantando de seu lugar.
- Sim, vamos. Não quero tomar um tiro dela. – Disse eu brincando com ela.
Chegando em sua casa, eu fiquei com tanta vontade de falar tudo o que tinha dentro de mim para ela, mas nada saía. Eu sabia que não era mais sonho, porque eu tinha que ir embora. Eu a beijei novamente, e fui. Quando cheguei em casa no final da tarde, o clima de domingo ainda continuava, e eu estava morrendo de sono, e acabei dormindo. Eu acordei, e fui para o computador rapidamente para conversar com a Mariana, e ela tinha deixado uma mensagem.
"Estou saindo agora com meus pais, depois irei para igreja, quando eu chegar eu te chamo".
Esperando-a voltar, sai para dar uma volta, fui na casa de um amigo, onde também estava tendo uma festa de família.
- E aí, como está o tedio de domingo? – Perguntei rindo.
- Está tedioso. – Respondeu Leonardo.
Leonardo, é primo de Felipe.
- Então, o que está fazendo de bom? – Perguntei.
- Estou jogando videogame. Entre por favor.
Jogamos tanto que nem vi a hora passar. O que descobri, é que amigos nos salvam dos tédios de domingo. Leonardo era primo de Felipe, uma ótima pessoa, depois da morte de sua mãe, ele se tornou mais fechado com todos, mas nunca o deixei de lado.
- Cara, já é quase meia-noite, tenho que ir embora. Ainda vou conversar com a Mariana.  – Disse eu.
- Vocês estão bem? – Perguntou Leonardo curioso.
- Por que não estaria? – Perguntei a ele.
- É cara, vocês sempre estão se afastando. – Argumentou Leonardo.
Leonardo sempre soube de mim e Mariana, ela já foi diversas vezes encontra-la comigo.
- Verdade! Mas somos amigos, e amigos se perdoam. – Disse eu com um sorriso.
- Jorge, acho que ela te ama, para te aguentar tanto assim. – Leonardo riu.
- Eu duvido muito (risos). – Disse eu enquanto saia pela porta da frente.
Eu muito sem entender, o que ele quis dizer com aquilo, mas uma parte de mim acreditava no que ele disse, pois Joana tinha dito que ela estava gostando de mim também, pronto, isso foi o cumulo para eu me sentir especial.

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