Com as bagagens arrumadas no carro, Gui e eu estávamos silenciosos. Eu me limitava a responder monossilabicamente o que me perguntavam, ou exibia um sorriso insincero quando exigido.
- O que foi que aconteceu com você, Átila? - perquiriu Amanda, sem ter notado que o irmão estava na mesma atmosfera.
- Nada, tô com muita dor de cabeça.
Para a mesma pergunta, Gui respondeu à mãe que não havia dormido bem à noite e estava indisposto.
Sentei-me do lado direito da parte de trás da pick-up, Gui sentou-se do lado esquerdo e Amanda ficou no meio, entre nós dois. Gui, com um olhar distante, recostou a cabeça no vidro da janela.
Paramos na metade do percurso para abastecer e esticar as pernas. Retornando ao carro, mudamos a configuração dos passageiros: dessa vez, Amanda trocou de lugar comigo e eu fiquei no meio.
A exaustão fez com que Guilherme dormisse e, em certo momento, repousasse a cabeça no meu ombro. Seu pai então comentou:
- Olha só pra Gui, tá despencado em cima de Átila!
- Tá cansado, disse que não dormiu direito... - justificou a mãe.
- Não tem problema, não tá incomodando não! - expliquei, desejando que ele ficasse ali o maior tempo que quisesse.
Gui ficou dormindo assim a maior parte do trajeto. À minha direita, Amanda segurava a minha mão. Foi uma viagem de retorno bem silenciosa.
O carro parou na porta de minha casa. Eu olhei para todos no veículo, especialmente para Guilherme, que tinha acabado de acordar. Peguei minha mochila o mais lentamente possível, pois não queria que aquela viajem acabasse.
- Agiliza, Átila - disse meu sogro - Vocês já perderam a aula, mas os adultos ainda vão trabalhar...
Despedi-me de todos. Fui deixado na porta de minha casa e eles seguiram em direção à deles. Parecia que um pedaço de mim tinha ficado naquela fazenda e outro pedaço estava indo embora no carro. Ali, em pé, só o espectro de um homem cheio de dúvidas e de certezas, mas todas misturadas umas às outras.
Ainda que eu não ficasse com Gui, meus sentimentos estavam completamente comprometidos com ele e já não havia espaço para outra pessoa nessa relação. Guilherme passou de um sonho impossível para algo muito concreto e completamente correspondido, de uma forma que me surpreendeu e para a qual eu não estava preparado.
Eu não só precisava terminar meu namoro, como também desejava, mais do que nunca, virar essa página. A questão era: "como?" Uma maneira seria dizendo toda a verdade, mas isso causaria dor desnecessariamente. Eu e Amanda nos dávamos bem e, afora o que se passava dentro de mim, não havia motivo aparente para terminar, embora, passados dez meses, não estivéssemos no mesmo vigor do início. Não dava para simplesmente dizer: "Vamos terminar", sem explicar os motivos; e explicá-los é o que eu não faria, com certeza.
Outro problema, que para mim tornava a situação ainda mais dolorida, era que, uma vez encerrado o relacionamento com Amanda, isso não me autorizaria a atar, imediatamente, um outro relacionamento com o seu irmão bem na cara dela. Eu nem sabia se isso seria possível um dia.
É com sinceridade que digo que amava Amandinha, mas algo muito maior e incontrolável surgiu entre mim e Guilherme. E não foi por nossa culpa. Mas muito mais inocente era ela.
As semanas foram passando e o namoro arrefeceu. Eu não tinha coragem de terminar, nem tinha energia para manter a relação. De alguma maneira, sentia que Amanda espelhava esse comportamento. Chegamos ao fim do ano nos vendo bem menos do que o habitual.
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O Cunhado (conto gay)
Короткий рассказ🔞 Trata-se de um conto sobre dois rapazes que se veem num triângulo amoroso inesperado, em que o narrador se apaixona pelo irmão de sua namorada. Embora tenha forte apelo sexual, a história é eminentemente romântica e, com certeza, vai agradar àque...