Epílogo

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Olá, meu nome é Guilherme, mas pode me chamar de Gui. Tenho 16 anos e acabo de chegar da Austrália. Fazia 4 meses que eu estava lá, num intercâmbio, estudando o segundo ano de High School. Aprendi muito, me diverti bastante e fiz novos amigos. Mas, apesar de tudo, estava sentindo muito a falta da minha família, pois nunca estive longe deles por tanto tempo. Em particular, sentia muita saudade também do ex-namorado de minha irmã. "Por quê?", você me pergunta, e eu explico rapidamente: porque estou apaixonado por ele. Sim, você não leu errado. Quero confessar ao mundo todo que meu antigo cunhado se tornou o amor da minha vida.

Isso não aconteceu de repente, nem é algo que começou agora. Faz um ano e meio que o conheci. Desde o primeiro instante em que o vi, senti algo de muito bom em relação a ele. Não sabia direito o que era, mas sabia que era especial. Minha irmã tinha falado muito bem do novo namorado. Fui apresentado a um rapaz alto, bonito e amigável. E quando começamos a conversar, vi que não era idiota como os dois namorados que ela teve antes dele. Pensei comigo mesmo: "Vai ser bom ter esse cara como cunhado". Em pouco tempo, além de meu cunhado, ele se tornou o meu melhor amigo. E, depois, ele passou a ser bem mais do que isso.

Não foi de repente, como eu disse. Parecia uma amizade muito grande, mas não era só isso. Custei um pouco para entender que aquilo que eu sentia não era apenas amizade entre dois caras. Afinal, aquele sentimento era inteiramente novo para mim. Não me passava pela cabeça que eu pudesse ter um desejo homoafetivo. Não era por preconceito meu, eu só nunca tinha pensado nisso. Até conhecê-lo, nunca nem tinha olhado pra outro homem com alguma atração.

Passei por todo um processo desde o momento em que eu percebi que ele era um "gato" até quando finalmente admiti que era muito "gostoso"... Mas  eu preciso reconhecer que esses sentimentos fluíram em mim com uma rapidez e uma naturalidade que nunca experimentei numa relação heterossexual. Só depois entendi por quê.

O fato é que me apaixonei por uma pessoa que, por mero acaso, era do sexo masculino. E, por infortúnio, era o namorado de minha irmã.

Certa vez, fiz algo de que gostou e, bem feliz, ele afagou meus cabelos e me beijou a cabeça. Eu adorei esse beijo, queria mais, mas não sabia como reagir com meu cunhado hétero. Ah, esses protocolos sociais entre homens são um tanto imprecisos! Pode beijar, ou não? A masculinidade é uma coisa muito vulnerável, não acha?

Mas como eu queria muito beijá-lo, assim como ele me beijou, resolvi arriscar. Então, além do abraço que já lhe dava costumeiramente, passei a me despedir dele, ou mesmo a  cumprimentá-lo, com um beijo no rosto. Eu queria isso e nem pensava direito em por que razão eu  queria. E não é que ele correspondeu? Pronto, inauguramos uma nova forma de contato, mais adequada ao carinho que já demonstrávamos um pelo outro.

Eu queria sempre estar perto de Átila. (Eu esqueci de dizer o nome dele, não foi? Pois é Átila, como o cruel, feioso e baixinho líder dos Hunos. Não poderia haver nome mais inapropriado...). Só de ouvir a sua voz lá na entrada da casa eu já me arrumava todo e disparava do meu quarto para ir vê-lo. Claro que eu ocultava a empolgação, senão ficaria muito suspeito. Mesmo a campainha já me deixava com o coração acelerado.

Meu amor clandestino me reservava pequenos momentos de deleite. Afagos casuais, abraços ligeiros ou apertados, longas conversas, beijos singelos e fraternais. O dia em que ele se deitou na minha cama para me ensinar matemática (não queria mais trocar o lençol ou a fronha, que ficaram impregnados com seu perfume!)... A vez em que me ergueu sentado em seus ombros na piscina... A ocasião em que sua barba por fazer roçou em meu pescoço... Ou quando fiquei excitado ao brincar com os meus pés nos pés dele...

Aliás, eu me dei conta por completo dos meus sentimentos justamente nessa vez em que fiquei excitado. Não havia mais dúvidas de que minha atração por ele, além de intelectual e afetiva, era sexual também. Naquela mesma noite eu acabei melando a cueca e os lençóis com o sonho que tive. Sonhei que ele dormia ao meu lado e que minha mão encostava em seu pau. Foi só isso e bastou pra uma gozada fenomenal, pois já fazia um tempo que eu não me masturbava. Daí pra frente, cada punheta era dedicada a Átila.

Até que, numa venturosa viagem à fazenda, eu fui correspondido por ele. Mal conseguia acreditar que ele também pudesse me querer. E ele quis tanto quanto eu. Foi a primeira vez em que fiz sexo. E a segunda. E a terceira.

Eu não poderia sentir culpa em ter me apaixonado (de que maneira eu controlaria meus sentimentos?), mas certamente era culpado por não ter resistido aos meus desejos... Meu Deus, como algo tão errado poderia parecer tão certo, necessário e irresistível?

"Mas ele era o namorado de sua irmã!", dirá você. Acha que eu me esqueci disso? Não, não esqueci... Foi exatamente por esse motivo que resolvi estudar do outro lado do planeta.

A bem da verdade, esse intercâmbio era uma certeza para mim antes de eu o conhecer. Só depois é que eu já não tinha mais tanta convicção nem vontade de ir. Eu não queria mesmo deixá-lo para trás, mas, dadas as circunstâncias, o afastamento parecia uma solução razoável.

Quando já fazia dois meses que ele e minha irmã tinham terminado o namoro, eu decidi contar para ela sobre o que eu vinha sentindo há tanto tempo por Átila. Aproveitei que o oceano nos separava  para evitar tomar uns tapas. A conversa foi difícil, como não poderia deixar de ser. Mesmo que ela já não estivesse mais apaixonada por ele, o fato de eu ser o seu irmão complicava tudo num grau inimaginável. Seja como for, guardar aquilo no meu coração  era muito mais difícil. Não foi justo para ela o que sucedeu entre nós, é verdade. Mas agora já não seria justo conosco manter essa distância forçada.

Então abreviei a minha volta, mas disse a Átila que tinha estendido o curso por mais seis meses. Decidi fazer uma surpresa e fui parar na sua porta sem aviso! Você não acreditaria na cara dele quando me viu! Tudo o que eu queria era beijá-lo e foi o que eu fiz com o melhor dos meus sentimentos. Nem percebi que seus pais estavam vendo tudo da janela. Mas, mesmo assim, ele não me impediu. Ao contrário, me levou até a sala e, sob o olhar apreensivo dos seus pais (a cara deles estava ainda mais impagável do que a de Átila), revelou que éramos namorados. Eu os cumprimentei vermelho como um pimentão, mas satisfeito com sua atitude. Eu já tinha esclarecido tudo do meu lado da família e era justo que ele fizesse o mesmo. Eles reagiram com espanto e preocupação. Eu gosto muito deles dois, são pessoas ótimas. Espero que me aceitem, mas, pensando bem, eles não têm alternativa.

Átila me fez entrar no carro e me perguntou se haveria alguém na fazenda naquele dia. "Não, quem iria para lá numa terça-feira?", falei. "Nós dois, é claro!", respondeu.

Como é bom tê-lo em meus braços de novo, e agora sem o peso da clandestinidade.

Vejo-o, neste momento, dormindo ao meu lado e percebo o quanto ele mudou a minha vida...

Pouco tempo atrás eu mal sabia quem era. E ainda nem sei que tipo de pessoa eu serei no futuro. Mas sei exatamente com quem eu quero estar.

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O Cunhado (conto gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora