Capítulo 13

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– Bom dia.

Abri um olho ao ouvir o cumprimento inesperado assim que me levantei do sofá, e respirei fundo na tentativa de parecer menos exausto após a noite passada em claro.

– Bom dia – murmurei de volta, educadamente me escorando na entrada da cozinha, e enfim sua imagem entrou em foco. Blair estava em pé ao lado da mesa, despejando cereal numa tigela. Ao perceber meu cansaço, franziu a testa de leve.

– Te acordei? – ela indagou inocentemente – Desculpe.

Balancei a cabeça em negação, sem forças para gaguejar uma resposta, ainda mais depois de perceber suaves círculos escuros sob seus olhos. Pelo visto, não só a minha noite tinha sido péssima.

Procurei afastar tal pensamento de minha mente assim que ele surgiu. Estava cedo demais para me afundar em culpa e arrependimento.

– Não, eu... Já estava acordado – disse, mesmo que já tivesse respondido sua pergunta. A necessidade de manter meu raciocínio ocupado com qualquer tarefa era minha única esperança de não acabar balbuciando algo que não deveria ou me perder em devaneios impróprios.

Blair assentiu lentamente, sentando-se numa das cadeiras e hesitando por um momento, com o olhar baixo, antes de pegar a caixa de leite sobre a mesa e adicioná-lo ao conteúdo da tigela. Um breve silêncio se instaurou, até que ela voltou a erguer os olhos e sorriu fraco.

– Quer? – ela perguntou, um tanto tímida, indicando seu café da manhã – Eu disse que não ia dividir, mas era mentira.

Seu tom redimido me fez soltar um risinho baixo, porém verdadeiro. Ela realmente achou que eu levaria sua brincadeira a sério? Sempre tínhamos brigas fajutas como aquela quando...

Engoli em seco; o sorriso desapareceu rapidamente.

– Obrigado – falei apenas, e se não fosse pelo monstro rosnando em meu estômago, teria recusado sua oferta. Ocupei a cadeira à sua frente, passando no caminho por um dos armários e pegando uma tigela, e me servi sem dizer mais nada.

Apesar da postura amigável que ambos mantínhamos, algo havia mudado. A tensão entre nós havia retornado, e parecia furiosa por ter sido suspensa na noite anterior. Já não era mais tão fácil ignorar tudo o que pesava sobre nossos ombros, e o reflexo disso estava em nossas pálpebras pesadas, privadas de descanso por longas horas. O passado, nosso passado, batia incessantemente à porta de nossas consciências a cada olhar lançado, a cada palavra trocada, e nosso encontro inesperado (e frustrado) no corredor foi o divisor de águas nessa mudança brusca, eu tinha certeza disso.

Longos minutos se passaram, e nós apenas comemos, sem ousarmos desviar nossas atenções dos flocos coloridos em nossas tigelas. Terminamos nossa refeição praticamente ao mesmo tempo, e como se já não tivéssemos preocupações suficientes, resolvemos ter a mesma ideia ao mesmo tempo: suas mãos envolveram a tigela à sua frente, e meu braço se estendeu para alcançá-la, com a mesma intenção de levá-la até a pia.

Nossas mãos frias se encontraram sobre a cerâmica, e de imediato, o rosto de Blair ardeu, enchendo-se de cor. Meu coração bateu feito doido no peito; eu estava perfeitamente acordado.

– D-desculpe – gaguejei, meu olhar acertando o dela em cheio, ambos igualmente surpresos e embaraçados. Minha mão continuou sobre a dela, e por mais que a razão ordenasse que eu a retraísse instantaneamente, como se a tivesse exposto ao fogo, nada me parecia mais agradável do que mantê-la entre as chamas.

Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, imóvel, antes de balançar negativamente a cabeça e baixar seus olhos para o fundo da tigela. Observei seu peito subir e descer num ritmo mais acelerado que o comum. Blair estava claramente lutando com todas as forças que ainda lhe restavam... E que com certeza eram mais eficientes do que as minhas, pois enquanto eu ainda mantinha meu braço esticado para tocar sua mão, ela se levantou de súbito, levando sua tigela consigo, e seguiu até a pia.

Biology II • ZMOnde histórias criam vida. Descubra agora