Frank Sellers.
Mesmo no escuro, deitada em minha cama, encarando as sombras projetadas no teto pelas fracas luzes vindas da janela, aquelas eram as únicas palavras que eu via. Mesmo ao amanhecer do dia seguinte, tão esvaziado de qualquer outro sentimento a não ser ansiedade quanto as horas que o precederam, aquelas eram as únicas palavras que reverberavam em minha mente. Mesmo durante o trajeto de trem até a estação mais próxima à casa de Elliot, onde nos encontramos para seguir viagem por mais meia hora de carro como eu instruira ao telefone na noite anterior, aquelas eram as únicas palavras que me orientavam.
Frank Sellers... Poderia eu estar enganada?
Não... Mas com toda a certeza do mundo, eu gostaria de estar.
– Você não vai mesmo me contar o que está acontecendo?
A voz de Elliot, transmitindo um misto de irritação e preocupação, rompeu o silêncio que já durava vinte minutos dentro do veículo. Apertei os papéis em minhas mãos, os mesmos que apertei com incredulidade há cerca de doze horas, e que eram a causa de nosso trajeto misterioso.
– Logo você saberá – foi o que pude dizer, e o que se seguiu foi mais uma reafirmação para mim mesma do que uma continuação de minha resposta – E eu também.
Elliot não teve coragem de insistir. Agradeci mentalmente sua desistência. Meus nervos já estavam em frangalhos com todo aquele suspense; a última coisa de que precisava agora era dar explicações que não tinha. Precisava de alguém que confiasse em mim, pelo menos só até que minha dúvida fosse sanada, e então ele obteria todos os esclarecimentos que quisesse.
– Uma coisa eu posso adiantar – suspirei, antes de voltar a me calar, na tentativa inútil de parar de sentir, de parar de existir – Esta é a minha última esperança.
Ele lançou um olhar ainda mais receoso do que antes em minha direção, porém manteve sua atitude resignada e apenas continuou dirigindo. Mais vinte minutos se passaram, novamente imersos em silêncio, até que Elliot estacionou o carro em frente ao nosso destino. Respirei fundo ao observar a fachada do prédio, e por um momento o desejo de desistir e voltar para casa, fingir que nada acontecera, foi tão forte que eu quase implorei para que ele nos levasse embora dali. Meus lábios chegaram a articular a primeira palavra da frase, embora nenhum som tenha saído, mas outras duas, muito mais pesadas, ancoraram-me diante do edifício.
Frank Sellers.
– Vamos? – Elliot indagou, ao perceber que eu estava presa em meus próprios pensamentos, temerosa demais para dar o primeiro passo, que sua curiosidade o motivou a dar. Após uma breve hesitação, durante a qual reuni todas as evidências, concretas ou abstratas, de que estava tomando a decisão certa, enfim abri a porta do carro.
– Vamos.
Cada passo dado até a entrada do prédio precisou de reafirmação. O caminho mais fácil insistia em agarrar-me as pernas, fazê-las pesarem o triplo do normal, esforçando-se para me afastar do caminho mais difícil, do caminho que eu acreditava ser verdadeiro. Relutante, segui em frente, disposta a ir até o fim para revelar o segredo tão cuidadosamente encoberto há anos. Se não houvesse segredo a descobrir, menos mal; seria um baque difícil de aguentar, saber que minha intuição falhara tão significativamente, mas eu me recuperaria. Talvez Zayn tivesse razão... Talvez Matthew tivesse conseguido entrar em minha cabeça, manipular minha visão dos fatos... Tudo ficaria bem se eu estivesse errada.
Mas se eu estivesse certa... Se eu tivesse razão, tudo viraria de cabeça para baixo. Eu também sobreviveria, com alguns arranhões e hematomas. O pior de tudo, naquela que já era a pior das hipóteses, seria o estado em que as outras partes envolvidas se encontrariam quando soubessem.
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Biology II • ZM
FanfictionA continuação de Biology segundo minha versão. Essa história não é minha.