Capítulo 1

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O frio congelante surgiu sorrateiramente, surpreendendo a todos os habitantes do deserto de Tanaris. A temperatura caiu tanto que todos os animais desistiram de sair de suas tocas e sequer é possível ouvir os sons noturnos característicos da região. Sem sombra de dúvidas essa é uma das madrugadas mais frias que Trinahh enfrenta durante sua longa estadia no deserto. Nem as duas fogueiras acesas no acampamento foram capazes de espantar a sensação congelante de seus ossos.

Quando a noite chegou e a temperatura começou a despencar, Trinahh dispensou seus alunos ordenando que eles fossem passar a noite na estalagem de Geringontzan para aquecerem-se como deveriam e aproveitar a farta refeição servida pelos goblins. Se ela não estivesse tão agitada e precisando ficar sozinha, teria deixado o trabalho de lado para ir descansar e se divertir um pouco. A maga passou o dia inteiro com um turbilhão de pensamentos a atormentando e tudo o que desejava no momento era a companhia de seu cão, uma xícara de chá fumegante e o mais profundo silêncio para tranquilizar os pensamentos e se concentrar no estudo minucioso dos mapas do terreno da escavação que estava liderando.

Geringontzan é a Capital do Cartel Bondebico, lar dos mais exímios engenheiros, alquimistas e mercadores goblins. Uma cidade construída à beira mar, que apesar de ser comandada por goblins, recebe de bom grado integrantes de todas as raças e facções. O lucro vem em primeiro lugar na visão dos pequenos verdinhos e essa história de guerra entre Horda e Aliança não interessa aos integrantes do Cartel. O mercado diversificado com artigos de todas as partes do mundo é o principal atrativo para os viajantes que chegam de toda Azeroth, Terralém, Pandária e Nortúndria. As construções feitas de pedra, madeira e areia, lembram ocas e apesar de à primeira vista não parecerem, são bem aconchegantes. Os engenheiros da cidade são tão incríveis que projetaram construções capazes de proteger tanto do calor quanto do frio. A única estalagem de Geringontzan é comandada por Gabor Bulho, um goblin baixinho e interesseiro, mas que atende muito bem aos hóspedes; é nela que o grupo de dez aprendizes de arqueologia estão dormindo neste momento. Ao menos é isso o que Trinahh espera.

Com todo esse frio, uma comida quente e uma cama confortável num local aquecido não seria má ideia. Foram justamente essas as justificativas que Dubaii e Thaurisa usaram para tentar convencer Trinahh a deixar de lado essa ideia estapafúrdia de passar a noite sozinha trabalhando. Nada do que alegaram conseguiu convencer a professora que decidiu ficar no acampamento mesmo com seu corpo implorando por um descanso. Dormir em uma cama na estalagem é um luxo que ela não pode se dar no momento.

Quando Dubaii falou que passaria a noite montando guarda para cuidar da proteção de sua querida amiga, a maga quase o fulminou com uma bola de fogo apontada para o troll que saiu em disparada quando percebeu que Trinahh falava sério. Ela precisava encontrar a última peça que faltava e essa demora a estava atormentando mais do que deveria.

Mais um dia de escavação se passou e nem sombra do fragmento. Encontrar as três partes perdidas do Cajado de Luthier virou sua obsessão nos últimos oito anos e, agora que só resta encontrar o último pedaço, a maga tem trabalhado incansavelmente, dia e noite, seguindo pistas na esperança de pôr um fim ao seu sofrimento. Ela não suporta mais viver presa no corpo de uma elfa sangrenta. Essa maldição tirou de Trinahh muito mais do que qualquer um possa imaginar. Ela perdeu o contato com a família, os amigos, sua vida feliz e as tardes de lazer regada à muita cerveja anânica nas tavernas de Dun Morogh. Além, é claro, das mudanças em seu físico. Não foi fácil acostumar aos novos 1,67 metros de altura quando se passou uma vida inteira medindo 0,95 centímetros. Mesmo passados oito anos, a arquimaga, vez ou outra, bate com a cabeça na soleira das portas quando precisa visitar a casa de um goblin por esquecer de se abaixar.

Trinahh está inquieta e muito preocupada. Há meses ela e seu grupo de alunos estão explorando esse sítio arqueológico no deserto de Tanaris e até o momento nem sinal de que estão no caminho certo para encontrar o fragmento. O segundo pedaço do cajado levou cinco anos para ser encontrado e só de imaginar passar mais cinco anos no corpo de uma elfa a faz sentir ânsia de vômito. Por mais que Eridormu insista que estão procurando no lugar correto, - de acordo com as pistas que ele coletou nos livros da biblioteca de Tirisgardi - a arquimaga decidiu passar a noite estudando os mapas e as anotações do dragão.

A Maldição do SádicoWhere stories live. Discover now