QUATRO

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"Na verdade continuo com a mesma condição...
Distraindo a verdade e enganando o coração."

Pato Fu
Antes que seja tarde

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O sábado chegou com aquela cara de sempre. Almoço com a família, e socialização com os parentes. Se tem algo que não suporto é socializar com pessoas que não conversam comigo. É desgastante e frustrante ao mesmo tempo. Mas esse era um ritual que meus pais faziam questão que participasse todos os finais de semana. E eu, nos meus 23 anos já vividos, pensava que aquela tradição já estava tolamente ultrapassada.

Chegando mais uma vez naquela casa, a única coisa que me deixa mais confortável é que Hugo está comigo. Afinal, meu melhor amigo amava a comida da minha mãe.

Após os cumprimentos costumeiros, Hugo e eu resolvemos aguardar o almoço no quintal. Gostávamos de sentar nas cadeiras de balanço, enquanto colocávamos as conversas em dia.

“Novidades?” Hugo perguntou, curioso como sempre. Esse moleque não muda mesmo…

“Talvez…” respondi, brincando com ele, usando um tom mais alegre do que de costume.

“Como assim talvez? Pela sua cara é óbvio que tem novidades! ME CONTA TUDO!” Sabia que agora, Hugo não me deixaria em paz antes de saber todos os detalhes.

“Bem, vejamos por onde eu começo…” Pensei em voz alta, e aquilo bastou para meu amigo ficar cada vez mais nervoso, sofrendo por antecipação.

“Por favor Gabs!!! Fale logo! Desembucha mulher!!” Que pessoa mais sem paciência que eu fui escolher para amigo hein…

“Calma! Vamos ver… Ah! Conheci uma pessoa.” Resolvi começar pelo óbvio.

“Quem? Que pessoa?” Seu rosto pareceu se contorcer em um misto de surpresa e decepção. Poderia eu estar enganada?

“O nome dele é Johann…” Respondi, suspirando mais alto do que minha sanidade permitia.

“E onde você conheceu esse tal de Johann???” Hugo me questionou, como um repórter em busca de um furo.

“Você não vai acreditar!” Minha cara de felicidade parecia estar deixando Hugo assustado.

“Quem sabe se você contar eu acredito!” Disse, sem se conter em ansiedade pela resposta.

“No apartamento da Simone.” Falei baixinho, esperando a reação do meu amigo.

“Como assim no apartamento da Simone? Por acaso vocês são amiguinhas agora? Resolveu do nada ir em uma das festinhas dela e encontrou esse talzinho?” Hugo levantou-se um pouco alterado demais para a minha concepção, e começou a andar pelo jardim. Precisei ir atrás dele.

“Está maluco? De onde tirou uma ideia estapafúrdia dessas? É claro que não! E não, e muito menos não! Hugo, escute, eu apenas fiz algo a respeito dessas festinhas da Simone! Cansei de tentar me concentrar nos estudos com aquele volume alto de música, e resolvi tirar satisfações com ela! Você mais do que ninguém sabe que eu não a suporto, e estava tentando ignorar a existência dela. Mas a minha paciência tem limites!” Confesso que estava usando um tom acima do normal com ele, mas Hugo me provocou quando insinuou uma amizade minha com Simone.

A garota dos fones de ouvidoOnde histórias criam vida. Descubra agora