A garota dos fones de ouvido

VINTE

A felicidade é como uma montanha russa. Cheia de altos e baixos.

Nos despedimos após nosso pequeno café da manhã juntos. Apesar de não querer me separar de Johann tão cedo, tinha a minha vida ainda para seguir, como qualquer ser humano. Trabalho, estudos, e ainda a família, que definitivamente era algo que tentava evitar a todo custo. Somente tentava. Não há como escapar das reuniões dos Mentger.

Literalmente no mundo da lua por conta do cara de cabelos vermelhos, fui surpreendida pela campainha, apitando sem parar. Faziam somente alguns minutos que o ruivo havia saído por aquela porta. Mas para mim pareciam horas. Quanto drama.

"Já vou! Calma!" Gritei, andando rapidamente em direção àquele barulho incessante.

"Bom dia miss simpatia!" Fui recebida com seu habitual bom humor. Hugo sempre o mestre do deboche.

"Que bom que você me conhece, assim evitamos constrangimentos." Abri espaço para que meu amigo entrasse, o que fez mais do que depressa.

"Pensei que tinha morrido... Você não olha suas mensagens?" Seu tom acusador não me surpreendia. Afinal, fiquei praticamente as últimas horas todas nos braços do ruivo. Como lembrar de outras coisas?

"Me desculpe por isso. Eu...bem, posso dizer que estive muito...ocupada." Sabia que não conseguiria tirar o sorriso do meu rosto quando proferisse estas palavras.

"Ocupada? Ocupada com o quê? Ou melhor, com quem?" A cara de Hugo era impagável. Sua sobrancelha arqueada em sinal de puro ciúme, misturado com um leve toque de curiosidade.

"Sei que mesmo que não te contar, vai acabar descobrindo, então...será melhor saber por mim mesmo antes que nos veja juntos..." Precisava ter cuidado com as palavras a partir de agora. Mas por mais que adorasse meu amigo, precisava pensar em mim também.

"Não sei por quê, mas sinto que não vou gostar de ouvir o que eu sei que vou ouvir... Mas fale assim mesmo." Admirava a forma franca com que Hugo lidava com suas frustrações. Sempre o admirei por isso.

"Então, como eu estava dizendo, ontem à noite...não dormi sozinha. Eu...e ele...nós..." Era complicado dizer em voz alta ao meu amigo que supostamente estava apaixonado por mim que dormi com Johann. Mas enrolar as palavras era algo que não estava habituada a fazer, e nem tinha sequer domínio sobre isso.

"Desembucha! Fale logo!" Poderia ter soado alto demais, mas na situação em que nos encontrávamos era absolutamente plausível o descontrole de Hugo.

"Dormi com Johann! Pronto, falei! O ruivo e eu...estamos juntos." Analisava a expressão de meu amigo, que tentava digerir a informação, devo dizer, sem sucesso.

"O quê? Como assim? Você e aquele cabelo de cenoura? Não! Você só pode estar brincando comigo!" Bem, não esperava que Hugo fosse pular de felicidade,  mas essa reação exagerada confesso que também não estava esperando.

"Por que acha que estou brincando com você? É sério. Estou com Johann, e muito feliz...Deveria estar contente por mim, e não ficar dando chiliques..." Sei que podia soar como uma colegial apaixonada, mas e se fosse?

"Eu estou...quer dizer, se você está feliz, o que mais posso fazer?" Hugo ainda mantinha aquela expressão desgostosa no rosto, como se tivesse comido algo que não gostasse. Engolido um sapo, e dos grandes.