VINTE E DOIS

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Ficar aqui com você tão perto de mim
É difícil lutar contra esses sentimentos
Quando parece tão difícil de respirar
Estou presa neste momento Presa no seu sorriso

Lady Antebellum - Just a kiss

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Meu coração precisava tomar uma decisão esta noite. Sim, eu já sabia muito bem qual seria a minha resposta, por mais que arrumasse mil e um motivos para dizer ao contrário.

Desde o momento em que o conheci, a cada vez que nos víamos, o sentimento ainda confuso no meu peito tomava forma. A cada palavra que saía de sua boca, a cada sorriso que me dava, mais e mais caía por ele, mesmo sem querer. Sem a consciência de que podia tê-lo.

Deixei a razão totalmente de lado quando pedi à minha irmã que fosse embora. Educadamente claro. Afinal, tinha mais do que motivos suficientes para que esta noite fosse memorável.

Tábata, como era, apenas desejou-me sorte e que usasse camisinha. Seu espírito livre sempre fez parte de sua personalidade. Tanto que estava até estranhando todo o chamego com Martin.

Faziam aproximadamente vinte e cinco minutos que minha irmã havia saído, e exatamente em mais cinco o ruivo chegaria. A adrenalina já corria em minhas veias a todo vapor.

Estava perdida em pensamentos quando ouço a campainha tocar. Corri apressadamente para abrir, tendo a certeza de que Johann me receberia de braços abertos, e poderia sentir seu perfume gostoso invadir minhas narinas mais uma vez. Sorria amplamente, mas assim como o sorriso nasceu, ele morreu ali mesmo, no segundo em que percebi que não se tratava do ruivo ali parado na porta, mas sim Simone. Senti que o pesadelo apenas estava começando.

"Não era quem estava esperando, não é mesmo?" Seu tom sarcástico não me surpreendeu.

Simone era o tipo de pessoa que assim que você conhece começa a evitar. Aquela pessoa que você cumprimenta por pura educação. Que não te desce na garganta. A bile chega a revirar no estômago ao ter que trocar meia dúzia de palavras. Resumindo: uma pessoa insuportável.

"A que devo o desprazer da sua visita?" Analisava a postura da loira, olhando-a de cima a baixo, tentando encontrar um defeito naquela roupa de grife.

"Acho que sabe muito bem qual o motivo da conversa. Posso?" Praticamente convidou-se para entrar, passando por mim como um furacão com seus saltos finos. O cheiro de sua colônia doce e enjoativa também não passou despercebido por minhas narinas.

"Ah sim, claro..." Para mim o deboche era algo natural. Como se tivesse nascido comigo.

Acompanhei aquela loira azeda até onde se encontrava, ou seja, minha pequena sala. Parada em frente à mesinha de centro, batia o pé irritada, como uma criança mimada que houvera teimado com os pais. Apenas balancei a cabeça em negação, respirando fundo. Sabia que a conversa não seria das melhores.

"Pode falar o que você quer me dizer. Depois saia." Isso Gabriela. Seja firme. Não demonstre fragilidade na frente dessa piranha.

"Vou ser direta com você: o que quer para deixar Johann em paz? Quanto quer para esquecer que um dia sequer viu a sombra dele? Eu pago." Simone havia dito mesmo aquilo. Aquelas palavras realmente saíram de sua boca suja. Como sequer tinha a audácia de vir me procurar para propor algo tão sórdido?

"O quê?" Tentei acreditar que era mentira. Que tinha ouvido mal. Que foi tudo um engano da minha cabeça. Olhava fixamente para a loira, que parecia estar querendo resolver uma questão matemática, e não a vida amorosa do próprio irmão.

"Você é surda garota? Só me diga seu preço. Eu pago qualquer quantia." Simone estava falando sério mesmo. Seus olhos nem piscavam, muito pelo contrário. Pareciam ávidos por uma resposta sobre a quantia. Uma resposta que nunca a daria.

"Quem você pensa que sou? Uma qualquer? Alguém que pode ser comprada? Você é louca Simone! Por que iria aceitar essa sua proposta absurda?" Acabei me exaltando, elevando o tom de voz mais alto do que de costume.   "Nunca! Escute bem. Nunca precisei me submeter a esse tipo de situação, e não será hoje que mudarei de ideia. Nada irá me fazer desistir de Johann. Nada. Enquanto o ruivo me quiser...enquanto ele permanecer ao meu lado, nada irá nos separar. Nem você e nem ninguém." Meus argumentos eram muito bons, diga-se de passagem, mas não pareciam surtir o efeito desejado em Simone. A loira ainda estava determinada a uma resposta.

"Isso tudo é muito lindo... Belo discurso." Começou a bater palmas, em sinal de uma ironia pura. "Foi você mesma que criou as frases? Ou foram decoradas? Pode falar o que quiser. Darei um jeito de acabar com você, e com esse namoro frajuto..." Como ainda tinha meus nervos sob controle depois disso? Anos e anos de solidão tinham seus méritos. Aprendi a me virar muito bem sozinha. E não era nenhuma Simone idiota que me faria desistir do ruivo.

"Escuta aqui você...sua descarada! Mas que cara de pau a sua vir no meu apartamento com uma sandice dessas? Não tenho medo de você! Se pensa que vai me assustar com esse papo de ameaças, está muito enganada fofa! Sou maior e vacinada. Conheço vários tipinhos como o seu. Desista! O ruivo não te quer! Ele mesmo te disse isso! Até quando irá se humilhar por alguém que não te ama?" Joguei a merda no ventilador. Toda de uma vez. E o efeito não poderia ser outro. Logicamente respingaria em mim.

Fui pega desprevenida. Ainda proferia mais algumas verdades na cara da loira, quando ela se aproximou rapidamente, segurando meus cabelos com força, fazendo com que me curvasse, tentando retirar suas mãos de meu couro cabeludo. Era horrível admitir isso, mas a piranha tinha força nos braços. Me via em uma situação lamentável, procurando encontrar uma saída rápida.

Como não vi isso vindo? Por que não pensei que Simone poderia ser tão baixa a ponto de me atacar fisicamente? Talvez a tenha subestimado. Ou a colocado em um nível mais elevado do que ela própria se encontrava.

"Me larga! Me solta!" Ainda estava tentando tirar as mãos de Simone de meus cabelos, gritando em uma enorme fúria. Talvez o fato da loira de farmácia ser mais alta do que eu estivesse lhe dando pontos, mas isso não me faria desistir da luta.

"Isso é para você aprender onde é o seu lugar, sua vagabunda!" Aquela palavra. Doeu. Doeu mais do que os puxões de cabelo que estava recebendo. E isso bastou.

Chutei Simone. Um chute forte, bem na boca do estômago. Acredito que por essa ela não esperava. Foi um baque tão forte, que a loira acabou soltando meus cabelos, caindo no chão,  se contorcendo em dor.

Sorri. Pela vitória. Pela cara da loira azeda no chão, segurando a barriga, contorcendo-se como um bebê chorão, gritando como a cadela que eu sei que era. Nada demais.

Até Johann entrar pela porta naquele instante, fazendo meu sorriso sumir.

A garota dos fones de ouvidoOnde histórias criam vida. Descubra agora