Quando a música terminou, virei-me instintivamente em sua direção, fitando aqueles olhos mais uma vez. Poderia me perder facilmente naqueles olhos, que me analisavam reciprocamente na mesma intensidade. Johann não sorria, mas o que estava sentindo parecia algo semelhante à minha imensa vontade de beijá-lo. Senti meu corpo vibrar quando pegou minha mão, entrelaçando-a na dele. Tudo nele me atraía. E sentir, pelo menos nesse instante, que o ruivo correspondia, só deixava tudo ainda mais complicado. Antes que fizesse algo que nós dois pudéssemos nos arrepender amargamente depois, quebrei o nosso contato visual.
"Preciso encontrar Tábata..." Afirmei à ele, dando-lhe as costas, fugindo literalmente dos meus problemas.
"Gabriela! Espera!!!" Ouvi ele gritar, mas não parei. Queria sair daqui. Queria evitar estar perto dele. Não sei por quanto tempo mais conseguirei resistir...
A verdade é que além de fugir de Johann, estava perdida no meio da boate. Procurei em todos os lugares possíveis por minha irmã, mas nada dela. Muito menos de Martin. Será que me abandonou aqui, com o ruivo? Ela não faria isso comigo, ou faria?
Sabia que Johann estava no meu encalce. Enquanto não encontrava Tábata, não estava totalmente ignorante do fato de que ele andava atrás de mim, como um segurança. Não me faltava acontecer mais nada hoje.
Cansada de andar como uma barata tonta, acabei parando perto de uma poltrona no segundo andar, sentando-me cansada, e sentindo-me uma completa fracassada. Passei as mãos pelo rosto em uma total falta de energia. Logicamente o rapaz que me acompanhava sentou-se ao meu lado. E sua próxima ação me deixou sem nenhuma reação.
Senti seus braços ao redor do meu ombro, o que me fez quase parar de respirar. Ele estava me confortando, ou pelo menos, era o que parecia. Não tinha tanto contato assim com alguém, não romanticamente pelo menos, há muito tempo. Nem sabia mais como reagir a tanto contato masculino. Apenas o olhei, visivelmente surpresa por sua audácia.
"Escute Gabriela...você precisa se acalmar. Não adiantará nada você ficar nervosa, ou fugir de mim. Se bem que ainda não entendi bem o motivo... Eu fiz alguma coisa que te desagradou?" Johann parecia realmente ofendido.
Pensando bem, não podia culpá-lo. O ruivo não fez nada demais. Apenas estava sendo simpático, e gentil. Bem, talvez gentil demais. Não que estivesse odiando tudo aquilo... Na verdade estava gostando até demais, muito mais do que deveria. Mas a questão não é essa. Por mais que estivesse atraída por ele, não poderia jamais acontecer nada entre nós. Havia um enorme obstáculo no meio: Simone.
"Não! Você não fez nada... Eu só estou muito cansada, entende? Quero encontrar minha irmã e ir embora..." Minha voz soou baixa, mas o suficientemente alta para aquele cara ao meu lado ouvir.
"Entendo... mas não compreendo. Se você quiser, eu posso te levar para casa. Você aceita?" Aquela pergunta simples fez meu coração acelerar mais do que podia conter em meu peito.
"Johann...eu..." Sem saber o que dizer, levantei-me em um instinto de fugir. Mas como sempre ele foi mais rápido, puxando-me novamente em sua direção.
Mas nem tudo saiu como o planejado. Com a puxada brusca, acabei me desequilibrando, caindo diretamente em seu colo. Johann me segurava, amparando-me para que não fosse ao chão. Estávamos nós ali, como se o resto do mundo não existisse. Somente conseguia enxergar aquele ruivo lindo me olhando com seu sorriso torto.
"Você quase caiu..." Sussurrou. "Devia tomar mais cuidado..." Suas palavras eram medidas, contidas, como se soubesse exatamente o que precisava fazer naquele momento.
Simplesmente não consegui sair de cima dele naquela hora. Era mais forte do que eu. A tensão sexual estava lá, praticamente implorando pela sua libertação. Sabia, tinha plena consciência de que nossas respirações estavam descompassadas. Vi refletido nos olhos de Johann tudo que estava sentindo. Todo o desejo, a atração inegável... A imensa vontade de ser possuída por aqueles lábios...
E senti medo.
"Não podemos fazer isso!" Falei, um pouco mais alto do que o normal, levantando-me bruscamente de seu colo, recuperando o resto da sanidade que tinha.
"Gabriela, escute..." Me pedia uma chance de tentar se explicar.
"Não Johann! Não devemos e não podemos!" Continuei, passando as mãos pelos cabelos, nervosa por quase ir longe demais.
"Por que não?" Questionou-me, procurando uma explicação plausível para o meu descontrole.
"Eu acho que essa resposta é meio óbvia..." Agora confesso que estava um pouco magoada com sua falta de senso.
"Não, não é!" Rebateu, e senti como se o ruivo não estivesse entendendo bem o português. Será que deveria desenhar?
"Mas é claro que é!" Agora parecíamos duas crianças do jardim de infância, implicando por quem estava certo.
"Eu juro que não consigo entender o motivo! Porque para mim, ali, antes, parecia que queria me beijar!" Realmente queria, mas não estava pronta para admitir isso em voz alta, muito menos para ele.
"Eu? Te beijar? Você só pode estar louco!" O que não fazemos em momentos de desespero...
"Então não estava louca para sentir a minha boca na sua? Tem coragem de negar isso na minha cara? Não sente nada por mim?" Johann estava mais perto do que poderia permitir. Isso não era nada bom.
"Sim! Eu sinto algo por você..." Respondi, tendo toda a sua atenção. "Sinto gratidão e estima. Sinto simpatia e carinho. Sinto como se fosse...um irmão que nunca tive..." Agora me superei. Esta foi a maior mentira que já contei em toda a minha vida. Mas agora já estava feito.
O ruivo parado em minha frente parecia não acreditar no que estava ouvindo. Sua expressão confusa estava implícita em seu rosto. Sabia que tinha ido longe demais, mas o medo falou mais alto que tudo. Declarar minha paixão à Johann era muito arriscado. E não estava disposta a correr esse risco.
"Irmão? Isso é sério?" Sua voz voltou a soar séria demais. E aquilo fez minhas pernas amolecerem mais uma vez.
"Muito sério..." Tentei parecer o mais convincente possível. Ele precisava acreditar. Com o tempo, talvez eu também acreditasse...
"Não é o que parece..." Mas como é teimoso! E cabeça dura.
"Talvez você esteja imaginando coisas que não existem..." Ele estava muito perto. Tão perto, que não me dei conta que estávamos próximos a uma parede. Somente quando meu corpo sentiu o contato com aquela parede gélida, pude confirmar que não havia como escapar dali.
"Vou perguntar só mais uma vez, e se a resposta for não, nunca mais a incomodo, prometo. Então, seja sincera comigo... Gabriela, você sente algo por mim?" Estava completamente rendida por ele. Se pudesse, assentiria, e sabia que assim que fizesse isso, sua boca viria de encontro a minha, e nos beijaríamos por horas.
Mas havia muito em jogo. Muito mais do que um simples beijo. E saber disso, estava me matando por dentro. Estava dividida entre o incontrolável desejo por Johann e a verdade nua e crua de que o ruivo tinha namorada. Por mais que não suportasse Simone, sabia dos meus limites e princípios. Nunca ficaria com um rapaz comprometido. Nunca. Por mais que ele seja gostoso demais e que sua namorada seja uma cadela. Então fiz a única coisa que podia fazer naquele momento. Minha única escolha possível. Não era o que eu queria, não mesmo, mas era o que deveria ser feito. O certo a se fazer.
"Não."
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Boa noite meus amados leitores!
Espero do fundo do meu coração que a história esteja do agrado de vocês. Estou me esforçando para criar essa belezura, então, espero que possam me deixar nos comentários seus pensamentos sobre o que ocorreu até aqui! Adoraria saber!
Quem sabe alguma sugestão poderá aparecer no livro? Tudo é possível!
Beijos de luz!
Xoxo
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A garota dos fones de ouvido
RomanceGabriela Mentger vive perdida em seus pensamentos. Cercada de amigas falsas, uma família que vê uma vez por semana em um almoço e vários amores platonicos. Gabriela possui somente seus fones de ouvido como refúgio do estresse. Tudo parecia estar and...