Capítulo 1: Amigão?

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O sol estava começando a incomodar. Queria saber quem foi que deixou essa porra de janela aberta?! Ah sim... eu. Ótimo. Além de ter que acordar com cheiro de quem tomou banho de vodca e com cara de quem não dorme há uns dois dias, vou acordar com esse sol bem na minha cara. Bela maneira de começar o domingo.

Enfim, decidida a não deixar a fresta da janela impedir meu maravilhoso sono, coloquei o edredom em cima do meu rosto. Foda-se essa cortina, não vai ser ela que vai me acordar, ok? Errado. Assim que cobri meu rosto, meu celular começou a tocar, uma vez, duas, três... PUTA QUE PARIU!!!!

Pela insistência das ligações, só podia ser uma pessoa. Já sem paciência alguma e muita vontade de mandá-lo para aquele lugar, atendi.

— CADÊ TU CARALHO? – o grito do meu melhor amigo foi escutado há quilômetros de distância.

Isso, vai, grita no meu ouvido, degenerado.

— Ah cara, tu tá brincando comigo? Eu tô aqui, porra! E tu, por que não vai pro inferno acordar tua mãe? - falei, ofegante.

Sim, nunca me acordem. Muito menos de ressaca. Nunca.

— Porra, Bells, tu sumiu ontem! A Mirela me disse que a última vez que te viu tu estavas na garupa de uma moto e tô te ligando há séculos! Por que tu não avisou ninguém?

— Pra falar a verdade, eu nem me lembrava disso – fiz um barulho irônico com a boca, competindo com o tom debochado da minha voz.

— Ah, mano, vai se lascar – o Syn respondeu.

Bufei sem paciência e desliguei na cara do Syn. Afinal, venhamos e convenhamos: Paciência não é nem de longe uma das nossas qualidades. E ah, qual é? Liga, me acorda, me dá sermão e ainda manda eu me lascar? É quase um pedido para me fazer desligar na maior cara de pau mesmo. Ainda tá com sorte que não mandei ir pro inferno. Senti minha cabeça latejar de dor pelo estresse matinal (ou não, já que poderia ser mais de meia dia). Respirei fundo e levantei. Andei até o banheiro – vulgo me arrastei – e me deparei com meu reflexo no espelho. Pálida, olhos borrados e devia ter até ninho de rato no meu cabelo, fora que ainda usava a roupa de ontem. Um blusão branco que Nina trouxe para mim na última vez que visitou Nova York, uma jaqueta de couro preta que é uma das minhas preferidas, meia calça preta rasgada e vários cordões. Para uma simples festa na casa de uns amigos, estava mais do que ótimo. Lembro de algumas meninas de salto e saia rodada me olhando torto ontem, mas quem é que se importa?

 Lembro de algumas meninas de salto e saia rodada me olhando torto ontem, mas quem é que se importa?

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Vasculhei minha mente procurando alguma coisa de ontem... mas, nada. A ressaca havia deixado um grande branco na minhas memórias. E que realmente tenho que concordar que anda uma merda. Tenho que parar de fumar tanto, por que está acabando com os poucos neurônios que me restam. Ou eu só bebi demais, não sei. Abri a gaveta e peguei um comprimido, coloquei na boca e empurrei goela abaixo no seco mesmo. Uma vontade de vomitar bateu forte por ter forçado minha garganta, senti tudo subindo de volta, então abri a tampa da privada, peguei a escova de dentes e fiz o que tinha que fazer. Vomitei tudo que me fazia mal de uma só vez, já passei por essa situação tantas vezes que nem relutava ou dificultava mais. Entrei no box clamando por um banho para tirar aquele cheiro e passei uma eternidade lá dentro, acho que quase cochilei de tão sonolenta que estava.

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