Capítulo 2: Seja lá quem for o Carnage.

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Que frio. Eu conseguia sentir o ar gélido praticamente congelando as extremidades dos meus dedos. Me remexi na cama, arrumando o cobertor com um cheirinho gostoso para que pudesse ficar quente novamente. Após o meu gesto, senti uma mão pesada e gelada tocar levemente meu rosto. Tomei um susto com o impacto, imaginando mil coisas, mas quando abri os olhos, dei de cara apenas com o Syn. O branquelo estava com duas bolsas roxas embaixo dos seus olhos, claramente pelo cansaço e de repente um alívio instantâneo passou pelo seu rosto.

Parei um segundo para olhar ao redor e não reconhecia o quarto aonde eu me encontrava. As paredes pintadas de preto eram cheias de grafites, o chão era coberto por um carpete felpudo e também havia uma escrivaninha enorme com vários desenhos jogados e uma televisão gigante logo em cima. E vários postêrs de bandas clássicas. Típico quarto de adolescentes.

  — Onde estou? – perguntei ainda aflita e tentando memorizar todo o cômodo a minha volta. o quarto era muito bonito.

— Na minha casa.

O Syn respondeu da forma mais grossa e breve possível. Na tentativa de abrir a boca para retrucar, senti um gosto cinzento de sangue no meu paladar e minha testa ardeu com se tivesse levado uma pancada. Tá, que porra é essa? E eu na casa do Syn? Ele pode ser meu melhor amigo, mas ele sempre foi bem misterioso e fechado. O que fez com que eu nunca visitasse a casa dele e muito menos... o quarto. O encarei com uma expressão perdida.

— Por que você tá me olhando desse jeito? – ele cruzou os braços.

— Esperando sua boa vontade de me explicar o que tá acontecendo, quem sabe?

Eu realmente não sabia o que havia acontecido, a minha cabeça parecia um planeta girando em órbita.

— Deixa eu ver por onde começo... Ah é, claro  – ele soltou os braços, olhando diretamente para mim – te deixo um final de semana sozinha com teus amigos e o que tu faz? Tenta matar geral! E isso te inclui! O que passou pela tua cabeça de dirigir dopada de GHB, sua maluca? Se o Rich num ligeiro momento de esperteza não tivesse segurado o volante e freado depois, sabe Deus como, tu nem estaria aqui!

O carro que eu roubei, a aposta que fiz com um completo desconhecido e alguma droga maluca que colocaram naquela vodca. As memórias vieram cortadas, mas mesmo assim, lembrei vagamente que os caras me enganaram.  Ia achar esse maldito, nem que precisasse caçar no inferno. Continuei olhando em volta e observei a janela aberta. Estranhei ao perceber que ainda era de noite. Será que estávamos no mesmo dia? Não era possível eu ter dormido um dia inteiro. Era?

O Syn continuava me olhando duro, como se preparasse mentalmente um sermão para uma filha de dezessete anos irresponsável. Segui o olhar para o seu rosto, parando para analisa-lo melhor. O Syn tinha o nariz quebrado, meio tortinho. Não era nem de longe feio, pelo contrário, até ajudava um pouco a imagem de bad boy, junto com a pequena cicatriz. Certeza que ganhou esse pequeno feito com uma briga. Uma pontada no fundo do coração me fez repensar na nossa amizade. Quer dizer, eu gostaria de participado mais da vida dele, por que nossa amizade é uma das melhores coisas que já me aconteceu. Basicamente só sei da vida do Syn, o que ele viveu depois que nós nos conhecemos. Não faço a menor ideia da família, da infância e nada que seja ligado ao passado dele. Que tipo de melhor amiga eu sou?

— Bells?  –  o Syn levantou a sobrancelha esquerda. Deve ter ficado preocupado pela minha expressão aérea.

— A culpa não foi minha, de verdade. Já está de madrugada? – tentei afastar aqueles pensamentos. Não queria nem pensar o que iria acontecer caso o Rich não tivesse pego o volante.

— Madrugada de segunda pra terça. Tu dormiu um dia inteiro, Bells. Pensei que tivesse morta! Se dormisse mais algumas horas, iria começar a preparar teu funeral – ele fez piada enquanto sua boca se formava em um pequeno sorriso.

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