— Eu não sei se vou querer morar com ela.A voz geralmente irritante da minha irmã alcançou meus tímpanos, falando algo depois dos minutos de silêncio pela notícia que ela deu. Minha única reação foi encarar a Nina esse tempo inteiro, esperando que desmentisse ou sei lá. Mas ela só deu a porra da notícia e abaixou a cabeça.
— Nem eu – soprei minha resposta, que saiu num fiapo de voz.
— Você é menor de idade. E tua mãe é ela, ou seja...
— O que? Porra de mãe!
Mãe de caralho nenhum. Lixo de mãe.
A morena se levantou e foi de passos retos e curtos para o quarto. Como sempre, a Nina fez pouco caso do que eu acho ou não. Na maioria das vezes, ela só tá cansada demais para se importar comigo. Isso inclui minhas decisões, escolhas, pensamentos e meu futuro. O qual ela também não dá a mínima. Não que eu faça muita questão também, mas a Nina realmente não liga. É um pouco difícil a minha convivência com ela, já que a minha irmã é bem egoísta. Com o passar do anos, sinceramente, ela meio que forçou cada vez ligar menos para o que ela acha. Mas tem situações ainda que é quase impossível não ficar chateada.
O Sebastian, namorado da Nina que deveria ser feito de ouro de tão rico, ficou me encarando com audácia. Os olhos dele, azuis, continham uma expressão doentia. Eram curiosos e pareciam sentir prazer em ver nós duas sofrendo por conta da Francesca. O rosto dele perguntava para mim o que havia acontecido nessa família, para a Nina chorar e eu ficar parada igual uma estatua ao saber que nossa mãe estava voltando da Europa. O Sebastian queria decifrar o que eu estava sentindo e pensando. Não era acolhedor, na verdade era mais parecido com dois cubos de gelo frios vidrados em mim e no meu problema familiar.
Cansada, aterrei minha cabeça nas mãos e um curta metragem de todas as memórias da Francesa me atingiram. E adivinhem? Nenhuma memória boa sequer. Tudo o que aquela mulher fazia era planejado, arquitetado e superficial, na tentativa de incentivar uma boa imagem aos olhares alheios. Cresci com a Nina e quando menor, era ela que cuidava de mim. Mas após todos os anos e já começando a pensar por mim mesma, passei a rejeitar Francesca. Não gostava de vê-la, então não ficava em casa se ela estivesse. E se estivesse, me trancava no meu quarto e fingia que não a escutava gritando comigo. Se existia alguma conversa, era monossilábica. Com o passar do tempo, ela se tornou uma das pessoas que abomino. E é uma droga pensar que nunca tive nem pai e mãe. E só de pensar que a terceira criança dela irá passar pelas mesmas coisas que eu, sinto um arrepio percorrer minhas costas.
— Vocês a odeiam tanto assim?
A pergunta me fez lembrar que o Sebastian ainda estava lá e devo ter ficado corada de vergonha. Não sou o tipo que demonstra fraquezas ou sentimentos. E eu de certa forma via Francesca como minha parte fraca, doente e que não conseguiria sentir absolutamente nada. É como um buraco. Sem fundo. Mas pensando bem... Eu sentia sim. Raiva, ódio, desprezo.
Levantei bruscamente do sofá e fui surpreendida pelo Rotten que puxou meu antebraço e apontou para o lugar ao lado dele no estofado. Não sei que merda passou pela minha cabeça, mas eu sentei.
— O que você quer? – falei com a voz embargada. Em uma simples pergunta podia-se ouvir o ressentimento. Só de tocar no nome dela, eu ficava mal. Mas não era algo que as pessoas poderiam saber de forma alguma. Apoiei meus cotovelos nos joelhos magros e segurei minha cabeça com as mãos dentro das minha madeixas onduladas.
— Posso te dizer uma coisa?
Silêncio. Ele viu que eu não ia responder, e senti o corpo dele se posicionando pra frente, como se tivesse olhando pra algum ponto fixo.
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Bellz
Teen FictionA Bells é uma garota estranha e impulsiva. Rodeada de dúvidas, amigos, festas, romances e brigas, ela passa por uma fase de redescobrimento da sua própria vida, onde percebe que além do mistério, há muito mais escuridão.