# 1 Cicatrizes de aventuras ( História de Léoric) - REVISADO

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O clima estava um pouco mais frio do que o esperado para aquela época do ano na cidade voadora de onde se localiza a Torre Arcana, aquela grande torre feita de pedras construído por Ammon o conciliador, resistiu a tudo, a invernos rigorosos e guerras antigas, mas apesar disso ela se manteve em pé, intacta, e assim se seguiu durante muitas eras.
Passos lentos se seguiram pelas escadas em forma de espiral, com candelabros portando orbes com luz mágica acesas sem cessar, o homem mais velho abriu a porta e deixou o outro homem entrar, depois fechou com cuidado e calmamente.
- Está sala não mudou nada, eu gosto. - Comentou Léoric admirando a sala de seu mestre, fazia tempo que não entrava ali, tantos pergaminhos estocados nas prateleiras, vidros e mais vidros de poções nas estantes, gemas roxas, calderões grandiosos e outros um tanto pequenos, pilhas de livros e grimórios de magia por toda a sala.
- Que bom que gosta, pois um dia ela será sua. - Disse o GrandeMestre arrumando algumas anotações da mesa e empilhando-as.
- Grande Mestre? - perguntou Léoric um tanto confuso.
- Porque essa cara de surpresa, Léoric? Você sabe que já estou velho demais. - Abriu um sorriso. - E quero que você me substitua quando eu me for.
- Será uma honra. - Léoric se sentou depois que o sábio apontou com a cabeça para a poltrona, e continuou: - Sabe... O que eu queria te dizer é que, eu encontrei com Rubky na estalagem Furão rastejante...
Cornélio o olhou em um tom sereno e serviu uma dose de chá para ambos. - Continue...
- Ele conheceu muitas pessoas lá, incluindo a filha de Anivya, princesa Arianna, todos muito motivados a enfrentar a Montanha Sombria, tive medo de deixar eles irem sozinhos, eram jovens demais para carregar os fardos antigos da Ordem.
- Jovens... Oh sim, de fato, mas é exatamente assim que tem que ser, as escolhas dos nossos jovens no presente remeterá e moldará o nosso futuro, assim como foi com você, quando o vi pela primeira vez, eu sabia que tinhas um potencial enorme, só faltava um pouco de treinamento, sabe que foi capaz de vencer até mesmo o Deus do tempo.
- Não foi bem assim. - Léoric assoprou sua xícara de chá e tomou um gole.
- Não seja modesto, você sabe que fez uma proeza, a grande parte das pessoas não teriam metade de sua força de vontade, pois passar pelo que você passou, perder a irmã e o grande amor da vida, saber que tem o poder para reverter a situação, e ainda sim pensar no povo de Bildrifell. - Cornélio alisou a barba. - Realmente não é para qualquer um.
- Não foi fácil. - Léoric abaixou a cabeça pensativo. - Não a um dia sequer, que eu não pense em voltar para salvá-las, mas eu compreendo que não posso fazer isso... - Léoric foi interrompido com o barulho da porta batendo.
- Entre! - Ordenou Cornélio. - A porta de carvalho se escancarou revelando Eliphas mãos vazias, carregando uma carta na mão. - Pois não, Eliphas?
- Grande mestre...Oh, já voltou Léoric?! É bom vê-lo.
- Olá Eliphas meu velho amigo, algum sucesso em Lockland?
- Na Verdade, é o oposto disso, o rei Zaru me ignorou, disse que estava ocupado demais para perder tempo com isso.
- O que acha Cornélio? - É óbvio não é? Lockland não respondeu ao nosso chamado porque está do lado da Legião.
- Não podemos partir para acusações sem provas, mas é de fato estranho. - Disse o velho virando seu olhar para sua escrivaninha e coçando o queixo.
- Não é só isso. - Disse Eliphas. - Um corvo espectral de Rubky chegou a pouco.
- Quê!? - Léoric se precipitou e recebeu a carta, abriu o selo com cuidado e começou a ler.
Mestre... Espero que esteja tudo bem na Torre Arcana, a Companhia do Éther, conseguiu derrotar Akzarun e o dragão da Montanha Sombria, Mhysa e Fhorturin conseguiram o arco de Alihanna e o machado de Tarantyr, segundo a própria deusa da natureza, todas as armas dos deuses juntas, é a única forma de destruir o Éther se necessário, estamos seguindo pistas para encontrar a última. Akzarun não era o verdadeiro líder da Legião, alguém muito mais poderoso está planejando algo muito maior. Também descobrimos que Lockland pode ter um envolvimento crucial com a Legião e estamos nos dirigindo para lá de imediato.
Rubky.
Léoric tornou a olhar para Cornélio. - Eles conseguiram Grande mestre, derrotaram Akzarun e o dragão da Montanha Sombria. - Disse ele em tom mais alegre que o normal.
- Eu disse que eles conseguiriam... - Cornélio sorriu.
- Assim como a visão que o senhor havia profanado.
- Sabe, já não sei mais se o que vejo são de fato profecia, ou apenas sonhos de um velho perdendo aos poucos a lucidez.
- Você parece ainda muito lúcido para mim. - Disse Léoric.
- Léoric. - O velho sorriu. - Sempre muito gentil... A carta diz que estão partindo para Lockland...
- Eu temo por isso. - Disse Eliphas. - Eu vi de perto o que é aquele reino, Zaru não se preocupa com o povo, nem com seus aliados, e isso é preocupante, ele não comparecer a essa reunião já é um mau sinal.
- É o que estou dizendo, Grande mestre... - Léoric se levantou e foi até a poltrona de Cornélio. - Estamos deixando crianças irem para Lockland, enquanto estamos aqui sentados, fazendo reuniões? Precisamos agir, não podemos mais esperar.
- Léoric, Lockland é o menor dos problemas por enquanto, alguém verdadeiramente poderoso está por trás da Legião, e é com ele que devemos nos preocupar agora, Zaru é apenas um tirano sem grande importância, por hora, deixemos que a Companhia do Éther investigue se ele está envolvido de fato com a Legião ou não, apenas sente-se e relaxe, tudo bem?
- Aliás Eliphas. - Disse Léoric. - Porque não nos acompanha em uma xícara de chá? Estavamos conversando sobre aventuras passadas.
Eliphas sorriu e se sentou ao lado de Léoric. - Nossas aventuras, nos trouxeram muitas cicatrizes, mas todas elas nos ensinaram algo.
- No seu caso, foi a não subestimar dragõe,s não é? - Riu Léoric.
- Me custou os dois braços, eu com certeza haveria morrido se Hannah não estivesse ali. E você também, sabe Léoric nunca te agradeci como deveria, por conjurar esses braços fantasmagóricos para mim.
- Tudo bem, você teria feito o mesmo por mim, eu estava desesperado ao ver você ali, sem os braços e Hannah bateu em mim para não perder a cabeça, graças a isso conseguimos fugir com vida... Eu sabia que precisava de mais treinamento, se quisesse acabar com Godelot, líder daquela maldita guilda, eles queriam a Arca do tempo, usaram o meu corpo para o ritual, depois que fui possuído pelo Deus do Tempo Elsydeon, fui obrigado a derrota-lo em uma batalha mental muito difícil.
- Eu me lembro disso. - Eliphas comentou. - não haveria tempo de evacuar todos da cidade de Alaúna, o que você fez foi um milagre. - Ele se levantou. - Desculpem-me, preciso ir, prometi a Kadmus que o treinaria agora, ele está doido para aprender a tempestade de gelo.
- Tudo bem, até mais Eliphas. - Disse Léoric.
- Não se esqueça da reunião, ela está próxima. - Disse Cornélio.
- não irei, obrigado, boa noite, Grande mestre... Léoric.
- Boa noite. - Responderam os dois juntos ao ouvir a porta se fechando outra vez.
- O dobrador do tempo... - Cornélio sorriu ao se lembrar e se levantou. - Assim você foi reconhecido pela Torre Arcana, pode não se importar, mas eu em toda a minha vida, treinei muitos magos, e nenhum deles jamais foi tão brilhante quanto você.
- Mestre... - Gargalhou Léoric. - Pare, não é verdade, você treinou magos incríveis, Vaeghar Anallar por exemplo.
Cornélio abaixou a cabeça pensativo e memórias desagradáveis lhe veio a memória rápidamente. - Sim... Vaeghar Anallar... Um elfo muito talentoso, se transformou em um mago num piscar de olhos, sempre muito disciplinado e curioso, foi crescendo, e se tornou um Arquimago muito cedo, foi o mais jovem da história, mas com o tempo, fui notando que ele começou a mudar, começou a ficar obcecado demais pelo poder, queria a todo custo ser mais poderoso, e um dia ele tentou me derrubar e tomar o controle da Torre Arcana, mas eu consegui proteger a todos, e expulsei ele... Sua ganância o levou ao exílio. Quando eu notei a sua magia do tempo, Léoric, eu tive que lhe ensinar a usar, tinha que te manter com o coração puro, eu não poderia cometer o mesmo erro e criar outro vaeghar.
- Eu entendo o senhor agora, a todo momento eu digo ao Rubky a não sucumbir ao lado negro, eu não me perdoaria se o deixasse cair nas trevas.
- Ele não vai, você é um ótimo mestre para ele, talvez melhor do que eu fui para você... Talvez esteja na hora de colocar mais um elo a ele não acha? Ele conseguiu enfrentar a Montanha Sombria e destruir Akzarun, merece subir um patamar.
- Eu concordo com o senhor, na verdade acho que ele já está no nível de um mago a muito tempo, mas quis que ele crescesse ainda mais, queria que ele se tornasse ainda mais forte, e se tornou.
- Eu vejo um futuro muito promissor nele.
- E o que houve com Vaeghar? - Perguntou Léoric. - Está morto?
- Acredito que sim, ele sumiu já faz muito tempo, não se ouve mais falar dele, a sua única lembrança são seus livros de runas mágicas que ele deixou... Não se preocupe Léoric, ele se foi...
Léoric sorriu pelo canto da boca, pegou o seu cajado que havia deixado perto das prateleiras. - Grande mestre, foi bom conversar com o senhor... Mas vou me retirar agora e deixar o senhor descansar.
- Tudo bem, até a reunião.
- Até lá! - Disse ele saindo e fechando a porta de carvalho com cuidado.
Cornélio chegou mais perto da janela, e observou a geada lá fora sob o céu escuro, as nuvens brancas passavam rápido demais e as árvores se moviam muito com a força do vento, ouviu sua xícara se quebrar sozinha no pequeno pratinho, ele olhou rapidamente para ela, depois tornou a olhar pro céu. - Eu nunca fui muito supersticioso, mas... Que pressentimento ruim é esse?




A lenda do Éther e o Reino amaldiçoado (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora