# 19 O lamento do corvo - REVISADO

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  Mhysa sentiu seu estômago revirar, ela abaixou a cabeça para não ver a cena de sua amiga, ensanguentada em sua frente, a mão de seu arco, afroxou de tanto que tremia, ela se perguntava porque tudo isso só acontecia com ela? Porque tinha que ser desse jeito? Quando ela estava prestes a cair, sentiu uma mão segurando os seus ombros, uma mão gentil e firme.
   - Mhysaa! - Trovejou Tayron segurando a garota. - Precisamos ir! Recomponha-se!
    Com os gritos do irmão, Mhysa conseguiu voltar para a realidade outra vez, apertou com seus punhos firmes o arco da longevidade, ergueu novamente a cabeça e viu que General Vangorn liderava um ataque até ela, tudo acontecera tão rápido que ela sentiu apenas um vulto saindo por de trás dela conjurando com uma varinha. - Aríete Esmagador! - A voz de Rubky ecoou pelo salão e logo em seguida um enorme impulso em forma de rajada horizontal, arremessou a guarnição de Vangorn inteira para trás. - Vamos! - Gritou o mago correndo para a saída.
  Logo atrás Tayron e Mhysa o seguiram, a garota ainda chorava muito, a tempestade que caía fora do palácio dificultava a visão dela, conseguia apenas ouvir gritarias, e o som de aço batendo em aço, os plebeus corriam para dentro de suas casas, enquanto o exército de Zaru tentava conter a rebelião da Resistência.
  Dylan corria no meio da chuva até Mhysa e os outros, com suas vestes ensopadas, ele falou tão rapidamente que foi difícil entender. - Onde está Alicia?!
   - Ela... - Mhysa abaixou a cabeça enquanto chorava. - Vangorn... a matou...
   Dylan encarou a garota. - Eu mato ele! - Gritou ele com tanto ódio que , Tayron teve que segura-lo para o rapaz não correr em direção ao castelo.
    Mhysa botou a mão no rosto para conseguir enxergar por debaixo da tempestade da noite, conseguiu ver Fhorturin girando seu machado em quem chegasse perto, Jory fazendo uma manobra e jogando um soldado em outro, Arianna corria lançando suas flechas, Torun lutava contra um soldado com sua espada de aço anão, Thalleon guiava os camponeses para um lugar seguro, longe do combate, quando ouviram a porta do castelo se abrindo e dela saindo a unidade de Vangorn fortemente armada, logo atrás foram capaz de ouvir a voz de Zaru ordenando. - Matem todos!!
   Mhysa puxou uma flecha de luz e atirou com ódio em Vangorn, o homem abruptamente ergueu seu escudo e bloqueou. - Você será a próxima a morrer! - Trovejou ele correndo com sua espada longa trêmula.
   - Querido vá! - Disse keyla severamente para seu marido. - Leve Shaco daqui!
   - Keyla não! - Gritou Raegal vendo que sua esposa corria para a linha de frente, perto de Mhysa e os outros.
    - Rubky, Thalleon! - Keyla trovejou. - Me ajudem a atrasar o avanço deles.
   Rubky correu rapidamente para perto da garota, mas Thalleon levava um senhor para perto de uma casa de madeira, para mantê-lo seguro. - Vão! - Gritou o elfo. - Eu não conheço magias fortes o bastante para impedi-los.
    - Keyla. - Rubky tomou a frente de Mhysa e os outros. - Não temos tempo para espera-lo, está pronta?
    - Estou sim! - A feiticeira apontou seu cajado para os soldados liderados por Vangorn.
    O General já temendo o poder deles, parou e ordenou. - Escudos!! - Seus homens começaram a tirar seus escudos das costas e se armarem.
    - Agora! - Trovejou Rubky e os dois conjuraram juntos. - Grande Aniquilação do fogo! - De seus canalizadores, um enorme muro de fogo foi criado, e foi em direção do exército de Vangorn, apenas dava-se para ouvir gritos e ordens. - Protejam-se!
   - Fujam! - Gritou Rubky. - Dylan e Torun correram para a saída, gritando para os outros.
   - Mhysa, vamos! - Disse Arianna afastando as pessoas da frente para chegar até a garota.
   - Fhorturin. - Mhysa disse calmamente. - Leve Arianna daqui, por favor.
   - Mas e você? - Disse o anão segurando no braço de Arianna.
   - Estarei logo atrás de vocês. - Mhysa olhou por entre os ombros com um olhar intimidador. - Eu prometo.
     - ATIREM! - Zaru ordenou por de trás das labaredas de chamas, e uma chuva de flechas foi em direção da resistência e da companhia.
    - Vamos! - Tayron gritou para Mhysa depois de ver Fhorturin e Arianna fugindo das flechas em direção a saída.
    - Vai Tayron! - Mhysa caminhava em direção ao fogo. - Ainda tem algo que eu tenho que fazer.
     Rubky soltou seu feitiço e correu das flechas, indo em direção a saída, porém no meio do caminho, notou que duas crianças corria para algum lugar seguro, e a menor havia caído no chão, quando desviou seu olhar, notou que soldados corriam atrás delas com uma espada de aço.
    O mago logo correu apontando sua varinha, sentiu que não daria tempo de conjurar um Aríete Mágico no soldado, então optou por entrar na frente das crianças, no momento em que o soldado iria bater com sua espada conjurou. - Escudo Mágico! - Um pequeno escudo azul brilhante protegeu a si e as crianças.
   - Mas o que? - Se perguntou o soldado, inquieto e muito desesperado, começara a bater com sua espada no escudo mágico do rapaz.
    Rubky segurando com todas as suas forças gritou aos meninos. - Fujam! Não vou aguentar por muito tempo.
    - Obrigado, senhor. - Disse o mais velho levantando o mais novo. - Vem, vamos correr.
    Depois que os meninos correram ele, olhou mais a fundo e enxergou arqueiros no parapeito atirando suas flechas na direção de Mhysa que estava no meio da rua, mirando sua flecha a procura de Zaru. Rubky tentou gritar, mas sua voz quase não foi ouvida, o mago tremia a sua mão da varinha, com o impacto das batidas que o soldado desferia com sua espada longa em seu escudo. Tinha que pensar rápido, ele olhou ao redor e não conseguiu pensar em nada para ajudar, apenas uma coisa.
   Mhysa mirava sua flecha a procura de Zaru quando, por de trás das chamas uma chuva de flechas vinha, em sua direção, ela rapidamente fechou os olhos, e abaixou seu arco, ali seria o seu fim? Não seria possível desviar de tantas flechas, onde foi que ela deixou que isso acontecesse? Quando tornou abrir os olhos, sentiu também as mãos envolvendo seus ombros em um abraço, o rosto de Rubky em sua frente, fez Mhysa arregalar os olhos. - Rubky, que foi que você fez??
    Ela reparou que as costas do rapaz, parecia um velho alvo de palha, a chuva de flechas havia acertado ele por inteiro.
    - Foi tudo por você... Mhysa... - Dizia ele francamente perdendo a voz. - Eu... Sei que dizia... Que não tinha amigos... Mas vocês, se tornaram muito... Muito especiais para mim... - Ele chorava enquanto sua boca começara a sangrar.
    - Rubky, não por favor. - Mhysa gritava enquanto abraçava forte o rapaz, ouvindo os gemidos de dor dele. - Você não pode nos deixar, isso foi tudo culpa minha! - Ela segurava o cabelo com força.
    - Engraçado, foi isso que eu disse na Montanha Sombria, se lembra? - Ele disse sorrindo muito fraco. - Quando você salvou minha vida da estátua.
    - Rubky... Por favor, não! Fique comigo.
    - Eu gostaria Mhysa... - Ele olhou por entre os ombros. - Mas acho que chegou minha hora. - Voltou a olhar para ela. - Seja forte, o povo de Lockland precisa de você, agora mais do que nunca, proteja-os. - Ele tocou no rosto da garota. - Me prometa.
    - Eu prometo! - Disse Mhysa em prantos de tanto chorar, seu rosto pálido nunca esteve tão vermelho.
     - Foi uma honra, fazer parte da Companhia do Éther com você e os outros... Diga ao meu mestre... Léoric. - Ele tossiu, depois limpou o sangue com as costas da mão. - Que eu agradeço ele por tudo, e diga que eu morri por um bem maior, pela liberdade...
     - Eu direi! Eu direi! - Mhysa chorava muito. - Rubky... Não! Eu sou tão burra! - Mhysa se esperneava.
    - Você é a mulher mais incrível que eu já conheci, Mhysa... -  Ele sorriu mais uma vez. - Agora vai! - O mago com suas últimas forças, deu um pequeno empurrão na garota, ela se virou desorientada e correu para a saída, olhando para trás, o corpo de seu amigo imóvel, foi se ajoelhando, até cair no chão de bruços, já sem vida, com seis flechas perfuradas em suas costas, como um porco espinho.
   General Vangorn chegou correndo ao corpo de Rubky e encarou a garota correndo para a saída.
    Mhysa desviou seu olhar mais uma vez para frente, de relance conseguia ver os olhares aterrorizados, das pessoas em suas casas, enquanto suas lágrimas que voava ao vento se misturava com a água da chuva que caía, os trovões nunca foram tão barulhentos, Mhysa não conseguia ouvir o seu próprio soluço.
   - Mhysa! - Gritou Arianna. - Vem, rápido! - A elfa conduziu a amiga aos prantos para a porta de saída do reino que Jory e Fhorturin haviam quebrado com machadadas brutas. - Que houve com Rubky? - Perguntou Arianna sentindo que seria ignorada, pois no fundo já sabia a resposta.
    - Ele... Se sacrificou por mim. - Mhysa disse chorosa.
   Eles correram para fora do reino como se não houvesse amanhã, e de fato não haveria se eles não fossem rápidos o bastante.
     - Para onde estamos indo? - Perguntava Tayron.
     - Isso não importa, eu só preciso achar algum lugar seguro para ele! - Raegal estava desesperado levando seu amigo nos braços, seu pequeno rosto molhado, parecia tão tranquilo, que dava a impressão de que Shaco estava dormindo.
     - Vamos continuar a correr! - Gritou Dylan passando a mão no cabelo tentando tirar a umidade, todavia em vão, pois a chuva castigava a todos sem cessar. - A frente existe uma pequena floresta, não é o lugar mais seguro do mundo, porém pelo menos, podemos nos proteger da chuva na medida do possível.
    - Acho válido. - Concordou Thalleon.
    A corrida até a floresta foi ouvida apenas pela chuva, o terreno lamacento fez as botas de Mhysa se atolarem, Fhorturin quase ficou preso na lama três vezes, mas Torun e Tayron o ajudavam a sair. Raegal foi esguio e ágil, mesmo carregando Shaco em seus braços, ele não precisava prestar atenção no solo, estava nervoso demais para pensar nisso.
    Chegando mais perto da floresta, conseguiram enxergar o sol nascendo ao fundo, a tempestade havia enfim acabado, apenas uma garoa caía sem parar, todos estavam exaustos, quando a lama enfim foi se transformando em solo firme, haviam chegado enfim na floresta,
   - Chegamos Shaco, vai ficar tudo bem. - Disse Raegal olhando para seu amigo. - Ei amigão, acorde. - Ele mexia Shaco, e não viu reação. - Shaco! Acorde por favor! - O bardo começara a gritar. - Shaco! - Ele colocou o corpinho do Halfling encostado perto de uma árvore, e se virou para o grupo. - Alguém? Uma poção?! Algum kit de primeiros socorros?! ALGUÉM?! - Trovejou ele furioso, com as lágrimas no rosto.
   Mhysa se ajoelhou quieta até o corpo de Shaco, e passou a mão no rosto do rapazinho. Olhou para Raegal sem dizer nada e o abraçou, sentiu ele soluçando, batendo o queixo em seu ombro. - Shaco, não... Porque isso aconteceu com ele? Agora que ele havia libertado a sua família, porque? - Ele soluçava, e Mhysa continuou quieta apenas ouvindo ele soluçar.
    - Ele foi muito corajoso. - Fhorturin disse chegando mais próximo. - Ele lutou até o fim pelo bem das pessoas, e foi um amigo muito fiel.
    Mhysa se levantou pegando o seu arco, olhou para o céu e fechou os olhos, enquanto a garoa continuava a cair. - Hoje... - Disse ela quebrando o silêncio. - Perdemos grandes amigos, Alicia... Rubky, Shaco e todos os outros que se foram nessa noite.
    Arianna colocou a mão na boca e chorava muito, quieta tentando abafar o barulho.
   Mhysa encarou todos ao seu redor, todos abalados, com expressões de extrema tristeza, Keyla ajoelhada colocando a mão no ombro do marido tentando consola-lo, enquanto ele abraçava o corpo do amigo.
   - Eu sei como se sentem, vocês não imaginam como estou me sentindo, e irei entender se vocês quiserem desistir, quem somos nós? Para pensar que poderíamos acabar com todo esse reinado corrupto? - Ela abaixou a cabeça, não conseguia encarar ninguém nos olhos, não tinha essa coragem, ela limpou as lágrimas com as mãos. - Não somos ninguém, desculpem... - Se ajoelhou enquanto se debulhava em lágrimas.
    - Mhysa... - Tayron agachou na frente da irmã. - Como assim não somos ninguém? Você foi escolhida pela deusa da natureza para empunhar o arco da longevidade, como assim não é ninguém? Você é líder da Companhia do Éther, Arquimago Léoric confiou a você essa missão, como assim não é ninguém? Alicia desejou que você liderasse a resistência, de que terá valido a pena o sacrifício de Rubky, de Alicia e de todos que perderam a vida essa noite, se você desistir aqui.
   - Nossas vidas nunca foram nossas Mhysa. - Disse Dylan. - Sempre pertenceram a Zaru e nossos destinos também pertencem, mas se você voltar, Mhysa, e acabar com isso, todas essas mortes... - Dylan parou por um momento e esperou ela olha-lo nos olhos. - Terão valído a pena...
    - Vocês me seguiriam? - Mhysa perguntou em um estranho tom de inocência. - Uma última vez?
    - Sim! - Todos eles disseram em conjunto.
   Em seguida uma sombra enorme pairou sob suas cabeças, Mhysa levantou e olhou para trás, e percebeu que se tratava de um lindo e enorme leão branco, aterrissando na floresta com suas asas majestosas. Logo atrás dele várias águias enormes também desceram dos céus, junto com alguns grifos e pegasus.
    De cima do leão branco desceu a figura de um homem, e foi se aproximando até se revelar, Magnus o General de Calladan.
   - Quanto tempo, Mhysa... - Disse ele em um tom galante e grave. - Trago informações urgentes da Torre Arcana, temos muito o que conversar.
    Mhysa corou seu rosto ao olhar o homem, e seu coração se acelerou por alguns instantes, então apenas soltou um simpático. - Temos mesmo, General...
  

A lenda do Éther e o Reino amaldiçoado (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora