Capítulo 1 - Me apaixonei pelo Beto

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A respiração profunda e tranquila fazia o peito dele se expandir, fazendo-o parecer ainda maior do que já era e, aqueles redemoinhos de pelos densos que desciam por seu abdómen musculoso pareciam um tapete fofo e acolhedor. Não restava dúvida de que ele estava tendo um daqueles sonhos libidinosos e obscenos com os quais costumava tirar uma onda nas rodinhas de conversas. O que me fazia concluir isso era a fisionomia maliciosa e o risinho que emoldurava sua face, bem como a pica enrijecida que distendia o tecido da cueca, formando uma espécie de iglu que se destacava entre as coxas peludas e grossas como um tronco. Toda vez que eu o via ali tão próximo e, ao mesmo tempo, infinitamente distante de mim, dormindo como um anjo que parecia ter sido enviado dos céus unicamente para se tornar a criatura que eu mais amei desde que me conheço por gente, uma profusão de sentimentos se apoderava de mim.
Por um lado, o desejo quase insano de liberar o tesão que eu sentia ao vê-lo assim praticamente nu e, por outro, a vontade de revelar a ele todo aquele amor que sufocava meu peito, simultaneamente com a sensação mais deliciosa que eu já sentira. Já estava quase amanhecendo, mas eu voltei para a minha cama e me aconcheguei ao cobertor, como um consolo, uma vez que não podia me aconchegar ao corpo desejado dele. Não consegui mais pegar no sono e, quando cheguei ao banheiro para tomar uma ducha antecipando aquele novo dia, o espelho refletiu um rosto amargurado com os olhos completamente marejados. Diante daquela imagem sofrida, perguntei a mim mesmo se um dia seria capaz de confessar toda essa miríade de sentimentos que ele despertava em mim. Estava aí uma coisa que eu pensei jamais conseguir fazer.
Há pelo menos três anos morávamos os cinco, isto é, o Rafael, o Tiago, o Rodrigo, o Roberto e eu, no apartamento de trezentos e oitenta e cinco metros quadrados e quatro suítes, do condomínio de luxo num bairro nobre da cidade, depois que a proprietária, uma viúva com dois filhos adolescentes se viu obrigada a alugar o apartamento suntuoso e decorado por um arquiteto renomado, para bancar o custo de um apartamento menor, ainda em financiamento, para onde se mudou com os filhos depois da perda precoce do marido, um empresário em ascensão. O Rafael e o Tiago são primos e trabalham na sede da filial brasileira de um banco mundial, eles que descolaram o apartamento inicialmente. Somos amigos de longa data, desde os tempos de colégio e, ao tomarem conhecimento de que meus pais estavam se mudando para uma casa num condomínio no interior do estado, resolveram me convidar a morar com eles, o que reduziria as despesas. O mesmo convite foi feito ao Rodrigo, um engenheiro em início de carreira numa construtora, que já havia morado com eles numa república durante os anos de universidade e, que também estava à procura de um lugar descolado. O último a se juntar ao grupo foi o Roberto, amigo do Tiago, um administrador de empresas que, depois de um MBA em finanças na universidade de Stanford, era o braço direito e provável sucessor do diretor financeiro de uma multinacional. A mudança dos meus pais coincidira com a minha promoção a diretor de criação na agência de publicidade onde eu trabalhava. Individualmente não poderíamos morar num endereço tão luxuoso, próximo dos nossos locais de trabalho e de endereços badalados da cidade, mas em conjunto, a opção se tornava viável e cômoda para todos. Das quatro suítes, duas eram bastante amplas e duas um pouco menores.
Das mais amplas o Rafael e o Tiago dividiam uma, na outra estava eu inicialmente sozinho até a chegada o Roberto, o Rodrigo imperava sozinho numa das menores e, a outra, estava destinada aos hóspedes frequentes que nos visitavam, ora os pais de um, ora um ou outro amigo de outro. O dia-a-dia corria relativamente bem. Passávamos boa parte do tempo no trabalho ou cada um em seus divertimentos preferidos, sobrando pouco tempo para ficar em casa. O Tiago e eu é que cuidávamos das coisas práticas. Ele mais na administração das despesas e questões com o condomínio, e eu com a rotina doméstica, que envolvia as compras que abasteciam a despensa e o trato com a empregada.
Quando o Beto se mudou para o apartamento, eu e ele iniciamos um relacionamento bastante formal e distante. Nos primeiros meses cheguei a pensar que talvez nunca fossemos nos dar muito bem, pois havia algo nele que me repelia como as extremidades de mesma carga de um imã. Ele parecia sentir o mesmo por mim. Enquanto a conversa e o convívio com os outros era muito expansivo, entre nós pairava uma sombra que bloqueava qualquer aproximação. Com o passar do tempo, esse bloqueio foi se dissipando muito lentamente e acabamos por construir uma amizade sincera e profunda.
Era isso que eu imaginava, até o dia em que descobri que estava apaixonado por aquele homenzarrão, machão convicto, que tinha o dom da conquista e fazia disso um de seus prazeres mais sarcásticos. A mesma intensidade e determinação que usava na conquista, se valia para despachar as garotas que já não o interessavam mais. Eu abominava esse aspecto da personalidade dele, e cheguei mesmo a verbalizar algumas censuras quando isso, o que me custou ouvir alguns desaforos da parte dele. Desde então resolvi não me meter mais na vida volúvel dele. Passei a nutrir um amor platônico por aquele macho insensível e cruel. Algumas vezes pensava deixar o apartamento e ir morar sozinho, mesmo que com menos glamour, mas distante daquela tentação que me inquietava o coração. Depois, refletia mais racionalmente e chegava à conclusão que seria melhor partir para outra. No entanto, já estava tão enredado naquela paixão que nada e ninguém me atraía.
Dividir com o Beto aquela suíte foi se tornando um exercício de desprendimento e superação de uma timidez que eu trazia desde a infância. Não foi nada fácil perceber que ele espichava o rabo do olho enquanto eu me vestia ou saía do banho só de cueca. Não era nada acintoso, muito menos um interesse carnal por mim, talvez não fosse mais que a curiosidade natural de quando se está diante de alguém em trajes sumários, como num vestiário de clube ou algo assim, mas eu parecia encolher diante desses olhares. Ao mesmo tempo, eu não conseguia disfarçar o olhar quando ele fazia o mesmo, ou quando estava dormindo, o que ele costumava fazer usando apenas a cueca ou nada.
E também, quando deliberadamente saía do banheiro com a jeba monstruosa balançando livre e solta entre as coxas grossas, exibindo aquele dote com uma arrogância humilhante, uma vez que o tamanho do meu pau nunca foi nenhum motivo de orgulho. Ele parecia ter sido me dado tão somente para cumprir, muito discretamente, as suas funções básicas. Funcionava, era o que me bastava. Já ele, ostentava aquele cacete colossal como um troféu.

Roberto O Hétero Convicto (ROMANCE GAY) ●CONCLUÍDO●Onde histórias criam vida. Descubra agora