Capítulo 3 - Decepção II

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- Por mim tudo bem. Se ele der conta do serviço é o que importa. - Disseram o Rafael e o Rodrigo, quase ao mesmo tempo e, que não viam isso como uma questão a que se devesse dar muita importância.

- Pois eu não quero essa bicha circulando aqui dentro. Muito menos mexendo nas minhas coisas. Vai que o viadinho começa a brincar com as cuecas da gente.

- O tom de sua voz denotava um desprezo profundo pela condição do rapaz. E, isso me atingiu como um punhal, com a pungência recriminadora de alguém que não consegue entender uma diferença como algo natural em qualquer ser humano.

- Quem é que vai querer mexer nas suas cuecas fedidas? - Perguntei, sob o impacto da recriminação.

- Minhas cuecas com cheiro de macho são uma tentação para aberrações como esse sujeito! - Exclamou

- O cara podia ser mais discreto, concordo. Mas, chama-lo de aberração é demais. Acho que você deveria respeitar o cara, independente da questão sexual. - Revidei.

- Que questão sexual o que? Ou é macho, ou é fêmea. O resto é um bando de pervertido, aberrações da natureza. - Retrucou, em sua visão diminuta da condição humana.

- Não entendo como alguém pode ser tão preconceituoso. É como enxergar o mundo por meio de uma fenda, nada mais antigo e insano. - Aquela conversa estava acabando comigo. O amor que eu sentia por ele estava se transformando em desprezo.

- Vamos pôr em votação a escolha da mulher que quer vir morar aqui e do rapaz folclórico. - Disse, brincando, o Rafael, vendo que o clima entre o Beto e eu estava esquentando.

- A bichona está fora de questão! - Sentenciou o Beto.

- Concordo! Vamos votar. - Respondi, como uma afronta à postura dele.

O Rafael e o Rodrigo optaram pelo rapaz, o Tiago foi contra, mas disse que se não tivéssemos opção melhor, ele acabaria aceitando. O Beto reafirmou seu veto incondicional. Coube a mim o voto de minerva. O olhar que o Beto me lançou tinha dois objetivos, segundo a minha interpretação, uma me intimidar, outra contar com a minha aquiescência.

- Não me oponho à vinda do rapaz. Acho que ele tem mais condições de encarar o serviço, que não é pouco, melhor do que a mulher. Depois, falatório por falatório, estaremos na boca do povo desse condomínio, tanto tendo uma mulher morando com cinco homens quanto com o cara afeminado. Ele, a gente pode pedir para ser discreto enquanto estiver por aqui. Já ela, vai saber o que vai sair falando por aí. - Esclareci.

- Você é um sem noção, cara! A decisão é de vocês, depois não digam que eu não avisei. E, mais duas coisas. Não me peçam para falar com aquela coisa, se ele não gostar de como eu o trato que se foda. A partir do momento que ele entrar por aquela porta, não quero que mexa nas minhas coisas, passo a mandar as minhas roupas para uma lavanderia e não como a comida que ele puser na mesa. Não quero esse boiola tocando no que é meu. - Vociferou zangado, e contrariado, por eu não ter apoiado a decisão dele.

- Quanta infantilidade! Pensei que você fosse mais homem. - Provoquei, achando um absurdo o comportamento dele.

- Mais homem do que isso aqui você certamente não vai encontrar por aí com facilidade. - Retrucou, agarrando o membro entre as coxas.

- Para mim chega! Então está decidido, não é? Ligo para o cara começar na segunda-feira, ok? - Perguntei, obtendo o assentimento dos demais.

Me preparei para receber o Josival na segunda pela manhã, indo ao trabalho apenas no período da tarde. Todos ainda estavam em casa quando ele apareceu pouco antes das sete horas. O Beto antecipou a saída dele para evitar se encontrar com ele. Esperei que todos fossem para o trabalho para explicar a rotina da casa e como queríamos que ele fizesse as coisas. Logo percebi que aquele serviço não tinha nenhum mistério para a desenvoltura dele. Fiquei ensaiando como dizer a ele que fosse o mais discreto possível quanto ao seu comportamento, pois temíamos o falatório dos vizinhos. Eles já nos olhavam de maneira estranha por sermos cinco jovens solteiros vivendo sob o mesmo teto. A opinião dos outros nunca teve muita importância na minha maneira de ser, mas detestava viver sob um clima arredio e pouco amistoso.

- Você entendeu bem Josival? Queremos manter uma política de boa vizinhança e nem todo mundo encara bem aquilo que foge dos padrões que a sociedade estabeleceu. - Disse, concluindo meu pedido.

- Claro! Entendi sim, senhor. - Respondeu, como se essa lição já lhe tivesse sido administrada desde a muito.

- Vou precisar me policiar bastante, pois nunca trabalhei num lugar com tantos bofes lindos de morrer por metro quadrado. - Acrescentou, em tom de zombaria.

- Nem brinque fazendo uma observação dessas aqui dentro ou com porteiros e outros funcionários do condomínio. - Rindo da brincadeira dele, mas deixando clara minha posição.

- Eu sei. Nem lá em casa posso falar que trabalho no meio de tanto bofe, senão o Geraldão me mata de pancada. O negão é segurança numa dessas empresas de transporte de valores, parece um armário de tão grande. Já levei umas bordoadas dele uma vez e sei que não é moleza. Eu o chamo de negão, mas ele é um moreno invocado que só ele. - Retrucou.

- Quem é o Geraldão? Seu pai? - Perguntei curioso.

- Não! O Geraldo é meu homem. Sou casado, tenho até aliança, veja! Não no papel, que a gente não tem grana para pagar a papelada, mas a gente é casado assim, vamos dizer, juntando as escovas de dente e as carnes, sabe como é. - revelou com orgulho. O que não só me comoveu como me fez sentir uma pontinha de inveja dele.

- Entendi. - Balbuciei, pensando como seria maravilhoso se um dia eu pudesse chamar o Beto de meu homem com a mesma convicção e orgulho.

Continua....

Roberto O Hétero Convicto (ROMANCE GAY) ●CONCLUÍDO●Onde histórias criam vida. Descubra agora