Capítulo 8 - Fui Procurar Outro Apartamento

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A despedida foi um capítulo à parte. É engraçado perceber como os homens procuram ser superiores a essas banalidades. Os olhos marejados estavam em todos, e o nó na garganta deles estava presente em cada abraço apertado e demorado. A única ausência era o Beto. Ele já havia retornado do trabalho, mas ninguém o encontrou dentro do apartamento. Levei o básico para passar alguns dias.

- Eu sinto muito por isso aí no seu rosto. Não sei se um dia você será capaz de me perdoar por isso, mas me arrependo muito do que fiz. - A voz saiu titubeando por detrás de uma das colunas da garagem junto com um Beto de fisionomia carregada, quando coloquei minha mala no bagageiro do carro.

- Esqueça! Já passou. - Respondi, sem ânimo ou forças para ter qualquer conversa com ele.

- Fique. Não vá embora. - Pediu, olhando para o chão onde o pé dele desenhava algo abstrato.

- Não vamos tornar isso ainda mais difícil, por favor. Tchau! - Uma única palavra a mais e eu explodiria em prantos.

Ao fechar a porta do pequeno apartamento do apart-hotel um choro convulsivo se apossou de mim. Acho que todo preconceituoso é imune ao sofrimento alheio. Incapaz de se colocar no lugar de outro e, minimamente, imaginar como é ser ou ter conceitos diferentes da maioria. E tudo tem uma dimensão muito maior quando isso vem de quem se ama.


Dias depois retornei para buscar o restante das minhas coisas. Fiz questão de fazer isso enquanto os rapazes estavam no trabalho. Embora o Tiago tivesse aparecido nem meia hora depois da minha chegada, com mais uma tentativa de reverter a situação.

- Tá uma tristeza de dar dó por aqui, 'seu' Paulo, depois que você saiu. - Revelou o Josival. - Ninguém come direito. Eles saem pela manhã sem tomar café e fazer aquela zorra, cheia de piadas e risadas, que costumava acontecer todos os dias.

- Logo, logo eles se acostumam e tudo volta ao normal. - Respondi.

- Sei não. Tá tudo tão mudado que até o Beto não implica mais comigo. Dia desses, ele disse que era para eu arrumar o quarto dele e fazer tudo igual como fazia para os outros. Fiquei espantado! Só implica de vez em quando, dizendo que ora o suco, ora isso e ora aquilo não está do mesmo jeito que você fazia. Fica emburrado e sai pisando forte. - Disse, enquanto me ajudava a fazer as malas.

- Isso agora não tem mais importância. Preciso me libertar desse sentimentalismo. - Retruquei.

- Não quero ser fofoqueiro, mas acho que ele está descobrindo que gosta de você mais do que imaginava. Anteontem ele se meteu numa confusão. Teve até polícia. Não sei direito o que aconteceu, mas ele bateu o carro e ..... - Ia dizendo em tom confidencial, quando o Tiago o interrompeu.

- Fazendo fofoca e bisbilhotando na vida dos outros, não é 'seu' Josival? - Disse ao se juntar a nós.

- O que foi que aconteceu com o Beto? Ele se machucou? - Fui logo perguntando.

- Ele está bem. Pelo menos fisicamente. Foi uma bobagem qualquer no trânsito, parece que um sujeito fez uma conversão repentina, amassou o paralamas e quebrou um farol do carro do Beto. Acontece que ele desceu do carro e encheu o sujeito de porradas. Tiveram que segurá-lo para ele não fazer mais besteira. Baseado no tamanho e na força do Beto você pode imaginar como o camarada ficou. Foi à delegacia e deu queixa, parece que vai abrir um processo por lesão corporal grave. O cara está todo arregaçado. - Revelou, com um risinho sarcástico quando disse a última frase.

- E ele não machucou o Beto? - Questionei.

- O infeliz nem viu de onde vinham os socos. Foi o saco de pancadas que o Beto estava procurando para extravasar a raiva da qual anda possuído. Acho que o pobre coitado nunca mais vai fazer uma conversão perigosa. - Acrescentou em tom de brincadeira. - E, pelo visto, você saiu daqui, mas a paixão pelo socador de incautos ainda é a mesma. Que preocupação toda é essa se o Beto está machucado, se está tudo bem com ele? - Perguntou, sabendo que eu podia estar distante fisicamente, mas o coração nunca estivera tão próximo dele.

- É só curiosidade. - Menti, sem convicção.


- Até parece! Você acredita nisso Josival?

- O Geraldão é igualzinho ao 'seu' Beto! Quando a gente discute ele fica uma fera e sai distribuindo porrada para tudo quanto é lado. Macho tem aquela coisa, como é mesmo que se chama, ferro não sei o que? Que os faz brigarem com outros machos e serem tão agressivos. - Disse o Josival, enquanto o Tiago e eu não conseguíamos evitar a risada.

- É feromônio que se diz, Josival! - Exclamou o Tiago se divertindo com a observação. - Quer dizer que seu marido também sai dando soco quando você fica regulando o cuzinho. - Emendou, tirando uma com o coitado.

- Nem me fale! O bicho sobe pelas paredes! Aí de quem pisar nos calcanhares dele quando está de lua virada. - Sentenciou com sua voz estridente misturada com o riso.

Há tempos eu estava de olho numa placa de 'vende-se apto' presa a grade de um edifício, recuado da rua, com um jardim em patamares, em frente a uma praça no caminho do trabalho. Não distava mais do que oito ou nove quadras de onde eu havia morado. As duas semanas no apart-hotel me pareceram tão impessoais que resolvi ligar para a imobiliária a fim de ver o apartamento à venda.

Continua....

Pois é meus amores, o Paulo resolveu sair da casa e o Beto tentou impedir, não falei de que alguém ia ter a consciência pesada.... hahaha parece que bateu um arrependimento no Beto....

Beijos do Mikka😘😘😘😘
Até a próxima....

Roberto O Hétero Convicto (ROMANCE GAY) ●CONCLUÍDO●Onde histórias criam vida. Descubra agora