Capítulo 1

1.8K 101 95
                                    

As solas emborrachadas de seus tênis esmagavam pequenas pedras em seu caminho, seus passos ecoavam, refratados pelas paredes rochosas da caverna. Waterfall, mesmo sendo a de outro universo, era mística e bela assim como se lembrava, com enormes cachoeiras desaguando no nada e belíssimos minerais de inestimável valor brilhando com milhares de cores e formas incrustados nos paredões, que se estendiam por metros e metros sem fim. Mas ele não se lembrava de ser tão úmido. Sua camisa estava colada a seus ossos de uma maneira desconfortável, o esqueleto soltou um grunhido de insatisfação e puxou o tecido encharcado, o soltando de suas costelas com um som engraçado de sucção.

Ele parou para admirar uma enorme planície coberta por Flores Eco, que cantarolavam uma melodia suave, combinando perfeitamente com a atmosfera do lugar no qual se encontravam.

Mesmo que odiasse a sensação horrível que suas roupas lhe causavam devido a umidade excessiva do ar, o esqueleto se sentia em paz naquele pequeno pedaço do paraíso. Simplesmente esquecia todos os problemas que estavam infernizando sua vida, respirava fundo, e escutava atentamente o canto das flores azuladas, plantas características da flora de Waterfall.

Ele sempre apresentava uma carranca assustadora e irritada permanente em suas feições, mas no fundo, bem lá no âmago de seu ser, o esqueleto gostava de se sentar sobre a pedra molhada e contemplar o espetáculo de cores e sons que aquela região proporcionava, sem se importar se parecia muito incauto por estar admirando flores azuis em uma caverna escura.

De órbitas cerradas, ele se permitia sentir a música com sua alma, tendo a sensação de estar a fluir e dançar como as notas que preenchiam o ambiente. Sua cabeça se movia de acordo com o ritmo, e baixos sussurros escapavam de sua mandíbula, compondo músicas improvisadas sobre vários temas aleatórios que surgiam a mente. As plantas repetiam seus versos desarrozoados e os recitavam, mas com seu timbre se distorcendo para notas mais altas e agudas.

O esqueleto ficou subitamente em silêncio enquanto deleitava-se com o pequeno concerto que havia criado. Estava satisfeito. Sentia que toda a tensão havia deixado seu corpo.

Até que ouviu o som de algo se movendo a sua direita. Passos lentos e calculados que faziam a grama azulada sussurrar baixinho. O canto das Flores Eco continuava sem interrupção alguma, mas o esqueleto podia ouvir a respiração pesada, de quem quer que fosse, próximo a si.

Ele não se moveu, muito menos o recém-chegado. Após alguns minutos, as plantas se calaram, lançando o lugar no mais pesado silêncio, o estranho acalmou sua respiração ofegante, já o esqueleto se manteve imóvel na mesma pedra na qual se sentara ao chegar.

Um baixo cicio soou quando o recém-chegado deu um passo, a reação do esqueleto foi quase instantânea. Uma jaula de ossos rubros se ergueu ao redor do estranho, que soltou uma risada baixa de cinismo.

- Eu deveria estar te atacando. Não o contrário. – Comentou com um sorriso de escárnio. Ele cruzou os braços e olhou diretamente para o esqueleto. – Até porque, este AU é meu.

- Foda-se. Só porque você mora aqui, não quer dizer que é o dono. – Retrucou fitando seu oponente. Era um esqueleto igual a si, mas usava um casaco azul de capuz cinzento e espalhafatosas pantufas cor-de-rosa em seus pés.

- Wow. – Troçou o esqueleto de pantufas. – Que língua mais afiada. – O outro apenas deu de ombros indiferente ao julgamento do estranho, avaliando-o de cima a baixo.

- Acho que Papyrus adoraria um bichinho de estimação. – Murmurou, e percebeu uma expressão de surpresa passar rapidamente pelo semblante do oponente, mas logo desapareu, com o escárnio assumindo suas feições novamente.

- Só há um pequeno probleminha. – Disse calmamente andando na direção das "grades" para fitar melhor o esqueleto de roupas escuras. – Eu não sou bichinho de ninguém. – Então ele desapareceu, como se tivesse evaporado no ar.

EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora