Ela não sentia mas o tempo passar. Não sentia nada. O dia estava lindo e o sol brilhava no céu azul, sem nuvens. Todos se divertiam na areia e no mar. Ela havia esperado por muito tempo esse momento.
Fazia algum tempo que ela pensava nele mais do que gostaria de admitir. Ele vinha se aproximando dela nos últimos meses, destruindo todas as barreiras que ela tentou construir. Hoje ela confessaria. Diria que desejava que seus abraços fossem mais longos e apertados, que tudo ficava melhor quando ele estava por perto, e que há tempos imaginava seus lábios colando nos dele.
Ao longe podia vê-lo brincando com seus primos na água rasa. Falaria com ele à noite. Encontraria ele quase à meia-noite. Quando a contagem regressiva para o novo ano começasse, ela o diria tudo, e ele a beijaria à meia noite.
Ela foi para sua casa descansar. Deitou na cama, mas não foi capaz de render-se ao sono. Estava nervosa. Pensava nele. Imaginava-se tocando seu rosto, passando a mão por seus cabelos e sorrindo enquanto sentia os seus braços enlaçarem sua cintura. Ela era dele, e ele saberia disso.
Destravou o celular e começou a passar as fotos de uma viagem que havia feito com ele e um grupo de amigos. Ele a havia ensinado a surfar, segurado sua mão enquanto atravessavam os recifes de coral e a agarrado sempre que tropeçava. Ela abriu um vídeo. Os dois estavam sentados nas pedras, e ele explicava para ela como estavam dispostas as galáxias no céu noturno. No vídeo via-se que ele observava o céu, mas ela só olhava para ele.
Ela passou o resto da tarde assim, relembrando cada momento que haviam vivido juntos até cair no sono.
Ela acordou. Meia hora para meia noite. Ela estava atrasada. Se arrumou e foi correndo para onde aconteceria a festa.
Assim que entrou, viu de longe o rosto dele, sorrindo. Ele tinha o sorriso mais lindo. Ela automaticamente sorriu também. As pessoas em volta dela começaram a contagem.
- Dez!
Ela começou a correr, abrindo caminho em meio à multidão.
- Nove!
O sangue circulava mais rápido em suas veias enquanto ela corria e chegava mais perto do local onde o havia visto.
- Oito!
Um cara bêbado tentou segurá-la, e ela o evitou.
- Sete!
Ela estava na metade do caminho. Seu coração batia mais rápido do que ela achava possível enquanto ela pensava no que diria. Já havia ensaiado diversas vezes na frente do espelho, mas nunca se sentiu menos confiante.
Seis!
Agora ela só ouvia seus pés, que golpeavam a areia, forçando-a para frente com força.
- Cinco!
Ela o viu mais uma vez de relance. Ele estava perto. Suas mãos começaram a tremer em antecipação. Ele estava radiante, usando gestos largos enquanto conversava com alguém. Seu rosto parecia moldado como o de uma estátua grega, e seus olhos brilhavam enquanto falava. Ela sempre se admirava ao reencontrá-lo, ele sempre parecia ficar mais bonito.
- Quatro!
A multidão o cobriu de novo, mas ela já sabia em que direção correr. Sua mente gritava o nome dele como uma sirene, fazendo-a continuar.
- Três!
Era agora. Ela parou e ajeitou o cabelo e as roupas. Ele estava atrás de dois homens que faziam a contagem à sua frente.
- Dois!
Ela o beijaria. Não havia tempo para explicações. Empurrou os homens à sua frente e correu para os braços dele.
- Um!
Mas já havia alguém lá. Uma garota de cabelos longos. Ele tinha suas mãos nela. Ele a beijava. Ele havia partido seu coração. Não havia culpa ou arrependimento, ela não era nada dele. Uma amiguinha. Ele nunca a amaria, nunca a beijaria, nunca a chamaria de sua. E ela sempre soube disso.
Ele terminou o beijo e percebeu que ela havia chegado.
- Feliz ano novo! - ele disse
Ela engoliu secos a mágoa e o arrependimento, jogou seu coração no lixo e abriu um sorriso à força.
- Feliz ano novo. Vejo que arrumou alguém.
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Poemas quase bons
RomanceEste é um espaço reservado para guardas as poesias que eu escrevo pra escapar do mundo. Mas no final isso vai ser uma mistura, vou escrever one shots, poemas e até trechos de música. Sinta-se à vontade para ler e se intrometer nos comentários :)