O corpo no meio do caminho

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No meio do caminho havia um corpo. Não morto, mas talvez fosse melhor se assim estivesse. Enfrentava os olhares horrorizados de descaso, não pela sua aparência suja, mas pela sua dignidade perdida.

Dormia quase que tranquilo, faminto, roupas rasgadas, descabelado, indigno de qualquer menção de favor.

No meio do caminho havia um corpo. Não! Talvez não se pudesse chamar assim aquele trapo de gente, talvez fosse melhor chamá-lo de farrapo, pois caberia melhor nas expressões lançadas à ele, caberia nos gestos de desaprovação que faziam ao balançarem a cabeça negativamente.

No meio do caminho havia um corpo, e assim ele ficou, passaram por ele, afastaram-se, sem mudar e principalmente sem causar mudança.


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